É sempre mais fácil responder a uma crítica... Os argumentos saem mais disparados e mais disparatados também. :-)
O fruto proíbido é mesmo o mais apetecido e desde o dia do "aniversário" deste blogue que já me vieram à cabeça vários temas sobre os quais me apetecia escrever... parece que o mundo se lembrou de acontecer só para me provocar: é o Obama que é nobel da paz e eu com muita vontade de dizer ao mundo (ao meu pequeno mundo feito de pessoas como vocês) que acho bem porque o presidente dos EUA é mais presidente do que o de qualquer outro país. Influencia mais, inspira mais, e a uma escala maior. Para bem e para o mal. E este Obama inspira bem e mostra uma atitude avassaladoramente mais responsável. Acho bem premiar a intenção e a inteligência de mudar de atitude porque é mais uma forma de vincar que essa é a atitude que interessa. (estou a escrever sem freio e talvez a fazer pouco sentido)
E depois o filme sobre a Tunísia que vi na quinta-feira, aparentemente simples para o olhar de um ocidental, mas bem pedrada no charco ao mostrar as duas tunísias, a do dia, conservadora, e a da noite, libertadora...E a dança do ventre, ainda do filme... A dança será sempre tema para mim... se a reencarnação existe, eu quero encarnar no corpo de uma bailarina... Já devo ter escrito isto algures.
Até sobre o fim do "Caminho das Índias" (que acabou de acabar) me apetece escrever... que bons são o Tony Ramos e o Lima Duarte, que bela cena final protagonizaram... Vou ter saudades da música contagiante, das cores, das palavras novas, de aprender em pequenas e suaves doses sobre o país que mais me atrai no Oriente (pela comida, que adoro! e pelas bugigangas, que vou amar! e muito também pela estética na arquitectura, na dança, nos cabelos negros e lisos lindos das indianas, pela mil pulseiras a chinquilhar, pelos tecidos de babar!)
Mas eu sofro de indisciplina aguda e quero mesmo dedicar-me a outro projecto e este blogue era o alibi perfeito para vingar a preguiça, sem me comprometer a longo prazo e eu tenho passado a vida no registo do curto prazo...
Agradeço mesmo muito o carinho
viernes, 9 de octubre de 2009
miércoles, 7 de octubre de 2009
Prueba superada!
"Não existem mais que duas regras para escrever: ter algo que dizer e dizê-lo!"
Senhor Oscar Wilde é verdade o que diz.
A esta verdade junto outra, que me foi dita por Baptista Bastos... Disse-me que a escrita é um exercício e que quem aspira a alguma qualidade, "tem que escrever todos os dias, um bocadinho por dia, nem que seja para pôr no lixo".
Este blogue nasceu com a pretensão desse exercício, mas sem a obrigação desse picar o ponto diário. O objectivo há um ano era precisamente que durasse um ano!
Durou e termina aqui.
Não vou desactivá-lo... Não se apaga a palavra escrita. Continuará por aqui... Mas vou (como costuma dizer-se em giria) "descontinuá-lo"!
Foi um teste que precisei de fazer, antes de partir para outro desafio...
Agradeço a quem por cá passou e sobretudo agradeço a quem regressou!
Senhor Oscar Wilde é verdade o que diz.
A esta verdade junto outra, que me foi dita por Baptista Bastos... Disse-me que a escrita é um exercício e que quem aspira a alguma qualidade, "tem que escrever todos os dias, um bocadinho por dia, nem que seja para pôr no lixo".
Este blogue nasceu com a pretensão desse exercício, mas sem a obrigação desse picar o ponto diário. O objectivo há um ano era precisamente que durasse um ano!
Durou e termina aqui.
Não vou desactivá-lo... Não se apaga a palavra escrita. Continuará por aqui... Mas vou (como costuma dizer-se em giria) "descontinuá-lo"!
Foi um teste que precisei de fazer, antes de partir para outro desafio...
Agradeço a quem por cá passou e sobretudo agradeço a quem regressou!
Conversas improváveis IV
Pensa ele:
- Não estás para ninguém? Ou é mesmo só para mim que não estás?
Foi quando que decidiste intervir dessa forma na minha vida?
Foi quando que me incapacitaste de discernir?
Foi quando que arrendaste um lugar cativo dentro de mim, mesmo antes de eu te saber alojar?
Poderias, pelo menos, ter-me deixado negociar.
Sabes que a negociar, eu vou embalando o tempo...
o meu tempo e o nosso tempo...
Queria ser Eu outra vez.
Cansa-me adormercer contigo e não te encontrar e depois acordar de novo contigo, ainda sem te encontrar...
E andas sempre por aqui, bem perto
Rodeias-me como o faria um deserto
Esticas-me o horizonte até me turvares o olhar...
Talvez seja já tarde para te dizer quase tudo.
- Não estás para ninguém? Ou é mesmo só para mim que não estás?
Foi quando que decidiste intervir dessa forma na minha vida?
Foi quando que me incapacitaste de discernir?
Foi quando que arrendaste um lugar cativo dentro de mim, mesmo antes de eu te saber alojar?
Poderias, pelo menos, ter-me deixado negociar.
Sabes que a negociar, eu vou embalando o tempo...
o meu tempo e o nosso tempo...
Queria ser Eu outra vez.
Cansa-me adormercer contigo e não te encontrar e depois acordar de novo contigo, ainda sem te encontrar...
E andas sempre por aqui, bem perto
Rodeias-me como o faria um deserto
Esticas-me o horizonte até me turvares o olhar...
Talvez seja já tarde para te dizer quase tudo.
martes, 6 de octubre de 2009
Conversas improváveis III
Diz ela: -Não posso usar a ingenuidade como alibi, porque eu percebi cedo demais que sabias ser cruel... Voluntariamente ou não. Pouco importa até se estás consciente disso. Vais coleccionando vítimas. Sabes cativá-las e mantê-las cativas e amordaçadas, incapazes de te denunciar ou de te resgatar dessa euforia que alugas para permaneceres anestesiado.
Não serás nunca capaz de lutar pelo que queres apenas porque desconheces o que é querer de verdade e tens medo, muito medo de descobrir. Não te sintas culpado, porque não é dessa forma que te curas, nem é dessa forma que alivias a dor.
Sabemos os dois que não havia, nem poderia haver margem para enganos. O equívoco é uma projecção eufemística da bondade.
Não serás nunca capaz de lutar pelo que queres apenas porque desconheces o que é querer de verdade e tens medo, muito medo de descobrir. Não te sintas culpado, porque não é dessa forma que te curas, nem é dessa forma que alivias a dor.
Sabemos os dois que não havia, nem poderia haver margem para enganos. O equívoco é uma projecção eufemística da bondade.
jueves, 1 de octubre de 2009
Adeus Verão quente
Dá-me gozo subir a escadaria do Metro na estação Baixa Chiado (exceptuando quando as escadas rolantes estão em greve!). Tem sido sempre sinónimo de que a seguir vou desfrutar, vou ter tempo para mim ou para nós! E neste nós cabem tantas pessoas! Pensava nisto hoje enquanto deslizava até à superfície pelas escadas rolantes, depois de ver no hall da estação uma instalação de luzes de várias cores entrecortadas por abajures (ou abat-jours)de renda escura. Era um bocadinho da Experimenta Design que está em vários pontos da cidade, como na montra da loja da Sisley, logo ao lado da saída (era o caso) do Metro.
O meu objectivo era assistir a uma conversa sobre política, na Bertrand... mas decidi mal pus os pezinhos na calçada da Rua Garrett trocar o trand pelo nard! Tinha fominha e o resto de Verão que estava a sentir merecia que me baldasse ao evento.
Foi a minha despedida do Verão... Será difícil nos próximos tempos voltar ao Chiado para um passeio de fim de tarde sem que o calor e a luz do sol não se tenham já ido embora...
Entrei na Bernard para comer "o melhor croissant" de Lisboa... Não havia lugar na esplanada, mas também não me importei porque na Bernard gosto mesmo é do interior. Gosto da insólita e já rara cabine para a senhora da caixa registadora, bem em frente ao longo balcão de tampo de mármore (agora lembro-me que o Tebas, onde às vezes compro o pão, também tem uma). Gosto de apreciar o aprumo dos empregados, todos trajados de camisa branca sob um colete preto e um comprido avental. Como contrastam em simpatia e em eficiência com os vizinhos da Brasileira...
Enquanto esperava pelo estaladiço croissant de massa folhada fui admirando as espigas em relevo no tecto, o vitral na parede que separava aquela sala de uma outra mais vocacionada para refeições... Percebi que ali até dos dourados gostava. O dourado da barra que contornava o balcão e do esqueleto dos candeeiros, ali, em contraste com a madeira muito escura das cadeiras e das mesas, ficava bem, até porque nos transportava para outros tempos: para as tardes de chá do fim do século XIX.
Depois de sair ainda passei na Bertrand, mas só para ver a montra, apenas ocupada por três romances, repetidos, para que não tenhamos dúvidas de que a literatura também se rege por modas... Na entrada lá estava um grande poster do Roberto Bolaño.
Por causa dele e do Rodrigo Leão decidi ir à concorrência (o cartão de fidelização assim o ditou). Na Fnac não me demorei muito tempo, mas mesmo assim ainda consegui além do "2666", do Bolaño e do "Mãe" do Rodrigo Leão, trazer mais o cd do Legendary Tiger man e um livrinho do Lobo Antunes, o meu primeiro. Depois de ler hoje sobre "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?" decidi que era tempo de ler alguma coisa do homem, já que afinal gosto das crónicas que escreve... Apesar de ter apreciado muito o título deste último livro do senhor, aproveitei a dica mesmo ao lado: uma edição comemorativa do "Memória de elefante" (escrito em 1979). Parece-me lógico não começar pelo fim.
Ando numa fase mais leitora. Na verdade tenho uma relação conflituosa com a leitura, semelhante à que tenho com a fruta... Sempre que me decido a comê-la gosto e sabe-me bem, mas vezes demais apetece-me antes outra coisa. Com a leitura é o mesmo, muitas vezes, demasiadas, há sempre outra coisa que me apetece fazer mais (mais redundante era impossível ser!)... Mas quando me decido a ler, passo bons momentos. Aliás, se bem pensar, passei já excelentes momentos com livros... na altura em que os devorava (adolescência) e mesmo agora que sou uma leitora mais preguiçosa.
Mas sou também uma leitora culpada porque acho que deveria orientar o meu tempo para os clássicos. E faltam-me ler ainda tantos... Daí que sempre que compro ou leio um autor só porque me chamou atenção a crítica ou porque alguém mo recomendou, não me consigo desligar deste ligeiro sentimento de culpa e de desperdício de tempo. Acho que as palavras do Bento (ex-professor meu) não deixam de me martelar: "Leiam os clássicos! Os bons autores russos! Os franceses, os alemães!"
Este ano já subtraí a minha dívida, ainda que seja leve a amortização: "O jogador" do Dostoievski e a "Ronda da noite" da Agustina, que para mim já é um clássico!
O meu passatempo preferido e reconhecidamente fútil é mesmo trabalhar para a asfixia dos trapos no meu armário. Daí que o meu passeio pela baixa pombalina tenha sido interrompido por uma espreitadela à H&M para me inteirar das novidades. Só comprei um gancho para o cabelo! Correu bem!
Continuei a vaguear pelas ruas da Baixa e encerrei este meu passeio de fim de Verão com uma homenagem à Primavera: um ramo de (quase) margaridas brancas, que estão agora na minha sala.
O meu objectivo era assistir a uma conversa sobre política, na Bertrand... mas decidi mal pus os pezinhos na calçada da Rua Garrett trocar o trand pelo nard! Tinha fominha e o resto de Verão que estava a sentir merecia que me baldasse ao evento.
Foi a minha despedida do Verão... Será difícil nos próximos tempos voltar ao Chiado para um passeio de fim de tarde sem que o calor e a luz do sol não se tenham já ido embora...
Entrei na Bernard para comer "o melhor croissant" de Lisboa... Não havia lugar na esplanada, mas também não me importei porque na Bernard gosto mesmo é do interior. Gosto da insólita e já rara cabine para a senhora da caixa registadora, bem em frente ao longo balcão de tampo de mármore (agora lembro-me que o Tebas, onde às vezes compro o pão, também tem uma). Gosto de apreciar o aprumo dos empregados, todos trajados de camisa branca sob um colete preto e um comprido avental. Como contrastam em simpatia e em eficiência com os vizinhos da Brasileira...
Enquanto esperava pelo estaladiço croissant de massa folhada fui admirando as espigas em relevo no tecto, o vitral na parede que separava aquela sala de uma outra mais vocacionada para refeições... Percebi que ali até dos dourados gostava. O dourado da barra que contornava o balcão e do esqueleto dos candeeiros, ali, em contraste com a madeira muito escura das cadeiras e das mesas, ficava bem, até porque nos transportava para outros tempos: para as tardes de chá do fim do século XIX.
Depois de sair ainda passei na Bertrand, mas só para ver a montra, apenas ocupada por três romances, repetidos, para que não tenhamos dúvidas de que a literatura também se rege por modas... Na entrada lá estava um grande poster do Roberto Bolaño.
Por causa dele e do Rodrigo Leão decidi ir à concorrência (o cartão de fidelização assim o ditou). Na Fnac não me demorei muito tempo, mas mesmo assim ainda consegui além do "2666", do Bolaño e do "Mãe" do Rodrigo Leão, trazer mais o cd do Legendary Tiger man e um livrinho do Lobo Antunes, o meu primeiro. Depois de ler hoje sobre "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?" decidi que era tempo de ler alguma coisa do homem, já que afinal gosto das crónicas que escreve... Apesar de ter apreciado muito o título deste último livro do senhor, aproveitei a dica mesmo ao lado: uma edição comemorativa do "Memória de elefante" (escrito em 1979). Parece-me lógico não começar pelo fim.
Ando numa fase mais leitora. Na verdade tenho uma relação conflituosa com a leitura, semelhante à que tenho com a fruta... Sempre que me decido a comê-la gosto e sabe-me bem, mas vezes demais apetece-me antes outra coisa. Com a leitura é o mesmo, muitas vezes, demasiadas, há sempre outra coisa que me apetece fazer mais (mais redundante era impossível ser!)... Mas quando me decido a ler, passo bons momentos. Aliás, se bem pensar, passei já excelentes momentos com livros... na altura em que os devorava (adolescência) e mesmo agora que sou uma leitora mais preguiçosa.
Mas sou também uma leitora culpada porque acho que deveria orientar o meu tempo para os clássicos. E faltam-me ler ainda tantos... Daí que sempre que compro ou leio um autor só porque me chamou atenção a crítica ou porque alguém mo recomendou, não me consigo desligar deste ligeiro sentimento de culpa e de desperdício de tempo. Acho que as palavras do Bento (ex-professor meu) não deixam de me martelar: "Leiam os clássicos! Os bons autores russos! Os franceses, os alemães!"
Este ano já subtraí a minha dívida, ainda que seja leve a amortização: "O jogador" do Dostoievski e a "Ronda da noite" da Agustina, que para mim já é um clássico!
O meu passatempo preferido e reconhecidamente fútil é mesmo trabalhar para a asfixia dos trapos no meu armário. Daí que o meu passeio pela baixa pombalina tenha sido interrompido por uma espreitadela à H&M para me inteirar das novidades. Só comprei um gancho para o cabelo! Correu bem!
Continuei a vaguear pelas ruas da Baixa e encerrei este meu passeio de fim de Verão com uma homenagem à Primavera: um ramo de (quase) margaridas brancas, que estão agora na minha sala.
martes, 29 de septiembre de 2009
Sem hélio...
Fico desarmada perante um olhar doce e enrugado, um homem que baba com um bebé (não confundir com homem que baba como um bebé!) e perante pessoas vulneráveis... que se mostram por dentro, que expõe uma fragilidade, que revelam a sua insegurança, confiam-nos um medo, deixam-nos saber o que as angustia...
A vulnerabilidade do outro deixa-me como um balão já sem hélio, sem força para me manter lá em cima, mais pequenina, mais encorrilhada e incapaz de rebentar...
A vulnerabilidade do outro deixa-me como um balão já sem hélio, sem força para me manter lá em cima, mais pequenina, mais encorrilhada e incapaz de rebentar...
sábado, 26 de septiembre de 2009
Try a different angle!
Não sou nada apologista de que se queimem os soutiens na fogueira e, em caso de naufrágio iminente, concordo com a máxima "salvem-se as mulheres e crianças primeiro!" Nem me estou a lembrar de nenhuma boa razão para que não seja assim...
Nunca pensei no feminismo muito a sério e considero-o tão obsuleto quanto o machismo, ainda que tenha a certeza de que ambos estão bem vivos!
Logo, não é por feminismo, mas apenas por curiosidade e esperança que defendo que deveriam ser sobretudo as mulheres a ocupar cargos de topo, seja na política, seja nas instituições, seja nas empresas... Como diz o anúncio: "try a different angle!"
São séculos de experiência de gestão de recursos e de conflitos que a sociedade anda a desperdiçar... e quando, excepcionalmente, acontece uma mulher chegar ao patamar em que pode fazer diferença a uma escala planetária, quase sempre faz mesmo a diferença... Não fiz nenhum estudo estatístico sobre o assunto, pelo que este texto peca por falta de exemplos, mas é o que me parece!
Não foi notícia de primeira página, nem abriu telejornais, mas eu tenho muita vontade de conhecer melhor esta Maria Ramos, a tal luso-descendente considerada pela Fortune uma das mulheres mais influentes do mundo...
E não é propriamente devido ao lugar no ranking que a senhora ocupa, é mesmo pelo que a fez ser destacada a esse nível: o detalhe de pela sua acção milhares de postos de trabalho terem sido mantidos... Isto é A OBRA... Isto é contribuir escancaradamente para um mundo melhor. Isto é uma injecção de motivação daquelas!
Por coincidência estive a trabalhar sobre o centenário de Peter Drucker. De entre as várias constatações e conselhos interessantes que o senhor deixou, há uma passagem que considero particularmente feliz e que faz eco daquilo em que acredito sem cedências, sem contemplações... O senhor era contra os despedimentos como forma de resolver os problemas numa empresa (claro que há excepções: as falhas de carácter e o não cumprimento de regras, mas isso é outra história). Argumentava que o que se deveria era alocar as pessoas às funções em que de facto elas renderiam melhor. Se não estavam a produzir o que deveriam, era porque estavam a ser mal conduzidas, mal geridas! Da mesma forma que defendia que as pessoas deveriam sentir-se parte importante na engrenagem. E se estão a mais hoje, provavelmente já estavam a mais no dia em que foram contratadas, o que nos remete de novo para um problema de gestão...
Para mim também é claro como água que não devemos descansar enquanto não estamos a fazer aquilo de que mais gostamos e o que fazemos melhor. Devemos fazer por descobrir em quê que podemos fazer a diferença... E há sempre alguma coisinha! Se não o procuramos, abrimos mão de uma boa parte daquilo que nos pode fazer feliz e tendo em conta que muito do nosso tempo é gasto a trabalhar e tendo em conta que é o trabalho que gera valor, isto é um assunto relevante!
Penso que a sensibilidade feminina (chamemos-lhe assim) processa isto melhor, daí a minha expectativa quanto ao binómio poder/mulheres. Daí a minha curiosidade em conhecer alguém que gere com espírito positivo e soube reverter uma situação desfavorável...
Também poderia ter sido um homem? Claro que podia. A História está cheia de bons exemplos no masculino... Mas cheira-me que o efeito multiplicador desses bons exemplos vai sentir-se assim que mais mulheres assumirem o leme.
Se estou a fazer a minha parte? Acho que sim, no que toca a tentar mudar mentalidades. Acho que sim, no que concerne ao facto de tentar fazer o que gosto e o que julgo fazer melhor. Acho que sim, porque dificilmente me resigno perante o que considero injusto sobretudo no meu universo laboral (O que tenho a menos em termos de frontalidade nas relações pessoais, compenso nas profissionais). Acho que não, no que toca a lutar por cargos em que possa ter maior poder de decisão. Para ser rigorosa comigo, faço menos do que deveria e do que poderia! O que talvez explique por que as marias ramos são ainda casos pontuais... Shame on us!
Nunca pensei no feminismo muito a sério e considero-o tão obsuleto quanto o machismo, ainda que tenha a certeza de que ambos estão bem vivos!
Logo, não é por feminismo, mas apenas por curiosidade e esperança que defendo que deveriam ser sobretudo as mulheres a ocupar cargos de topo, seja na política, seja nas instituições, seja nas empresas... Como diz o anúncio: "try a different angle!"
São séculos de experiência de gestão de recursos e de conflitos que a sociedade anda a desperdiçar... e quando, excepcionalmente, acontece uma mulher chegar ao patamar em que pode fazer diferença a uma escala planetária, quase sempre faz mesmo a diferença... Não fiz nenhum estudo estatístico sobre o assunto, pelo que este texto peca por falta de exemplos, mas é o que me parece!
Não foi notícia de primeira página, nem abriu telejornais, mas eu tenho muita vontade de conhecer melhor esta Maria Ramos, a tal luso-descendente considerada pela Fortune uma das mulheres mais influentes do mundo...
E não é propriamente devido ao lugar no ranking que a senhora ocupa, é mesmo pelo que a fez ser destacada a esse nível: o detalhe de pela sua acção milhares de postos de trabalho terem sido mantidos... Isto é A OBRA... Isto é contribuir escancaradamente para um mundo melhor. Isto é uma injecção de motivação daquelas!
Por coincidência estive a trabalhar sobre o centenário de Peter Drucker. De entre as várias constatações e conselhos interessantes que o senhor deixou, há uma passagem que considero particularmente feliz e que faz eco daquilo em que acredito sem cedências, sem contemplações... O senhor era contra os despedimentos como forma de resolver os problemas numa empresa (claro que há excepções: as falhas de carácter e o não cumprimento de regras, mas isso é outra história). Argumentava que o que se deveria era alocar as pessoas às funções em que de facto elas renderiam melhor. Se não estavam a produzir o que deveriam, era porque estavam a ser mal conduzidas, mal geridas! Da mesma forma que defendia que as pessoas deveriam sentir-se parte importante na engrenagem. E se estão a mais hoje, provavelmente já estavam a mais no dia em que foram contratadas, o que nos remete de novo para um problema de gestão...
Para mim também é claro como água que não devemos descansar enquanto não estamos a fazer aquilo de que mais gostamos e o que fazemos melhor. Devemos fazer por descobrir em quê que podemos fazer a diferença... E há sempre alguma coisinha! Se não o procuramos, abrimos mão de uma boa parte daquilo que nos pode fazer feliz e tendo em conta que muito do nosso tempo é gasto a trabalhar e tendo em conta que é o trabalho que gera valor, isto é um assunto relevante!
Penso que a sensibilidade feminina (chamemos-lhe assim) processa isto melhor, daí a minha expectativa quanto ao binómio poder/mulheres. Daí a minha curiosidade em conhecer alguém que gere com espírito positivo e soube reverter uma situação desfavorável...
Também poderia ter sido um homem? Claro que podia. A História está cheia de bons exemplos no masculino... Mas cheira-me que o efeito multiplicador desses bons exemplos vai sentir-se assim que mais mulheres assumirem o leme.
Se estou a fazer a minha parte? Acho que sim, no que toca a tentar mudar mentalidades. Acho que sim, no que concerne ao facto de tentar fazer o que gosto e o que julgo fazer melhor. Acho que sim, porque dificilmente me resigno perante o que considero injusto sobretudo no meu universo laboral (O que tenho a menos em termos de frontalidade nas relações pessoais, compenso nas profissionais). Acho que não, no que toca a lutar por cargos em que possa ter maior poder de decisão. Para ser rigorosa comigo, faço menos do que deveria e do que poderia! O que talvez explique por que as marias ramos são ainda casos pontuais... Shame on us!
jueves, 24 de septiembre de 2009
Conversas improváveis II
Pensa ela:
Estou mais madura e mais bonita...
Estamos de acordo quanto a isto, não estamos?
Então porque te esqueces continuamente de mo recordar?
... Eu alertei-te! Disse-te logo que queria ser tratada como uma princesa. E isso era para sempre, não era só até fazeres de mim a tua rainha...
De pouco me servem a coroa e as vénias mais ou menos calibradas que me fazes, animado pelo hábito.
Prefiro que me faças a corte, do que ter por garantido o trono.
Um dia destes distrais-te e ainda me dás um beijo na bochecha, ou pior, encostas-me só a tua.
Esqueces-te de que tenho boca e adormeces-lhe a vontade de encontrar a tua!
E conta que nunca te direi nada disto. Conto que o adivinhes.
Estou mais madura e mais bonita...
Estamos de acordo quanto a isto, não estamos?
Então porque te esqueces continuamente de mo recordar?
... Eu alertei-te! Disse-te logo que queria ser tratada como uma princesa. E isso era para sempre, não era só até fazeres de mim a tua rainha...
De pouco me servem a coroa e as vénias mais ou menos calibradas que me fazes, animado pelo hábito.
Prefiro que me faças a corte, do que ter por garantido o trono.
Um dia destes distrais-te e ainda me dás um beijo na bochecha, ou pior, encostas-me só a tua.
Esqueces-te de que tenho boca e adormeces-lhe a vontade de encontrar a tua!
E conta que nunca te direi nada disto. Conto que o adivinhes.
Na paragem de autocarro
Posso evitar as horas de ponta na paragem de autocarro, pelo que consigo, quase sempre, um lugar sentado no banco que, quase sempre, partilho com senhores e ou senhoras que nasceram nas primeiras décadas do século passado... E são deliciosas as conversas que por vezes escuto e em que outras vezes participo...
Hoje calhou-me um casalinho. Ele, muito distinto, munido de bengala e chapéu de ar tropical. Ela, bem enfeitada, colorida, com o cabelo geometricamente penteado.
Ajustei-me a um canto para cabermos os três.
- Obrigada menina! É que tenho mesmo que me sentar com este calor. É que já são 84 anos.
Cabia-me observar que estava muito bem. E estava. E foi o que fiz.
- Olhe que subo todos os dias as escadas até ao quinto andar! Se calhar é por isso que estou assim!
Entra o senhor em campo: - Estás assim porque eu te trato bem!
Ela confirma com a cabeça: - Não preciso jogar na lotaria! Já tirei o primeiro prémio! (Nessa altura fiquei sem perceber se estava a ser irónica?!)
Entretanto chega o nosso 726. Ele não lhe cede a passagem! Faz bem melhor do que isso: sobe antes e estende-lhe a mão para a içar depois. E ainda de mão dada, guia-a até ao banco e certifica-se de que ela se senta sem sobressaltos!
Relembro que o senhor usava bengala!
Um doce!
Fiquei a pensar no bem que este senhor faz à saúde desta senhora...
Hoje calhou-me um casalinho. Ele, muito distinto, munido de bengala e chapéu de ar tropical. Ela, bem enfeitada, colorida, com o cabelo geometricamente penteado.
Ajustei-me a um canto para cabermos os três.
- Obrigada menina! É que tenho mesmo que me sentar com este calor. É que já são 84 anos.
Cabia-me observar que estava muito bem. E estava. E foi o que fiz.
- Olhe que subo todos os dias as escadas até ao quinto andar! Se calhar é por isso que estou assim!
Entra o senhor em campo: - Estás assim porque eu te trato bem!
Ela confirma com a cabeça: - Não preciso jogar na lotaria! Já tirei o primeiro prémio! (Nessa altura fiquei sem perceber se estava a ser irónica?!)
Entretanto chega o nosso 726. Ele não lhe cede a passagem! Faz bem melhor do que isso: sobe antes e estende-lhe a mão para a içar depois. E ainda de mão dada, guia-a até ao banco e certifica-se de que ela se senta sem sobressaltos!
Relembro que o senhor usava bengala!
Um doce!
Fiquei a pensar no bem que este senhor faz à saúde desta senhora...
martes, 22 de septiembre de 2009
Conversas improváveis I
Ele não respondeu, mas pensou. Habituara-se às palavras mudas, julgava-se capaz de comunicar dessa forma, considerava um despropósito verbalizar o que a inquestionável intuição feminina poderia decifrar. Recusava-se a baixar a fasquia.
Gostava de disciplinar as ideias, de as alinhar como quem se prepara para a barra de um tribunal. Argumentava fortemente consigo próprio, para não ousar vacilar e travar qualquer vertigem que se pusesse a caminho, a galope da vontade.
Gostava de disciplinar as ideias, de as alinhar como quem se prepara para a barra de um tribunal. Argumentava fortemente consigo próprio, para não ousar vacilar e travar qualquer vertigem que se pusesse a caminho, a galope da vontade.
lunes, 21 de septiembre de 2009
Conversas improváveis I
Ela diz-lhe:
- Sinto-me na corda bamba e desconfio que me desiquilibro só porque sei que estou a caminhar sem rede. Sabes? Temo inflamar o atrevimento e rejeito a toda a hora a injecção de coragem com que a tua presença me ameaça. Sabes? É como se a sanidade me aleijasse as dúvidas em que me embalo.
- Sinto-me na corda bamba e desconfio que me desiquilibro só porque sei que estou a caminhar sem rede. Sabes? Temo inflamar o atrevimento e rejeito a toda a hora a injecção de coragem com que a tua presença me ameaça. Sabes? É como se a sanidade me aleijasse as dúvidas em que me embalo.
miércoles, 16 de septiembre de 2009
O complexo de mariposa
Há palavras que se escondem em casulos.
Há palavras que gritam de tão seguras, isoladas como num estúdio de rádio com o microfone fechado.
Invioláveis essas palavras que procuramos, deambulando, de casulo em casulo, insensatos e enfeitiçados na inércia do sentido...
Arriscamos adivinhar, mas não arriscamos muito porque preferimos também nós construir casulos onde guardamos as palavras, outras palavras ou as mesmas, que não ousamos libertar...
E pronto: acabadinha de inventar a razão para eu gostar tanto de borboletas, como se não me bastassem aquelas cores vadias que repousam entre voos coreografados...
Efémeras, as palavras fora dos casulos também vivem pouco tempo, fazem sentido durante pouco tempo...
Há palavras que gritam de tão seguras, isoladas como num estúdio de rádio com o microfone fechado.
Invioláveis essas palavras que procuramos, deambulando, de casulo em casulo, insensatos e enfeitiçados na inércia do sentido...
Arriscamos adivinhar, mas não arriscamos muito porque preferimos também nós construir casulos onde guardamos as palavras, outras palavras ou as mesmas, que não ousamos libertar...
E pronto: acabadinha de inventar a razão para eu gostar tanto de borboletas, como se não me bastassem aquelas cores vadias que repousam entre voos coreografados...
Efémeras, as palavras fora dos casulos também vivem pouco tempo, fazem sentido durante pouco tempo...
miércoles, 9 de septiembre de 2009
What else!?
Qualquer coisa como isto:
"- Então o que pode ajudar a forjar o afecto?
- A dança, mesmo que o parceiro seja sofrível..."
De "Orgulho e preconceito" da Jane Austen
"- Então o que pode ajudar a forjar o afecto?
- A dança, mesmo que o parceiro seja sofrível..."
De "Orgulho e preconceito" da Jane Austen
miércoles, 2 de septiembre de 2009
Paula Rego
Gosto das pinceladas brutas da Paula Rego, das cores sem cerimónia, gosto do misto de força e fragilidade da figura feminina. E gosto muito deste baile ao luar, tão ambíguo. Gosto das "bebedeiras de azul" alugadas ao António Gedeão...
E não tarda abre em Cascais o museu Paula Rego. Que bom que não deixámos de prestigiar a pintora e de nos prestigiar através dela.
martes, 1 de septiembre de 2009
Sinal proíbido
"Queria ter vivido de outra forma, mas deixei-me invadir por coisas que me são estranhas... Tenho a impressão de que a vida que levo nao corresponde à minha verdadeira natureza... Sinto que não mudei, mas deixei de o conseguir provar aos outros..."
Do filme "Ma mère" de Christophe Honoré, numa adaptação de um livro de Georges Bataille. Uma aposta de Paulo Branco e de Isabelle Huppert, a tal.
Sobre os desejos que tememos, os que ultrapassam os princípios que nos habituamos a respeitar... Os do filme podem não ser os nossos (não são de quase ninguém, acredito), mas seguramente que todos temos vontades com as quais não queremos lidar.
"O desejo torna-nos fracos", diz-se no filme.
Do filme "Ma mère" de Christophe Honoré, numa adaptação de um livro de Georges Bataille. Uma aposta de Paulo Branco e de Isabelle Huppert, a tal.
Sobre os desejos que tememos, os que ultrapassam os princípios que nos habituamos a respeitar... Os do filme podem não ser os nossos (não são de quase ninguém, acredito), mas seguramente que todos temos vontades com as quais não queremos lidar.
"O desejo torna-nos fracos", diz-se no filme.
domingo, 30 de agosto de 2009
Caminha
Nasceu mais um potro na ilha dos Amores, mas a loura "Shakira" parideira já não anda por lá...
Continuam a saber melhor ali as sardinhas assadas a escorrer no pão, a massa com feijão feita na hora e o café que levamos na garrafa térmica...
Até mesmo o café em baldes como o que nos servem quando optamos pela escapadela a uma das esplanadas da margem espanhola, com segundas intenções: beber a fresquinha aguardente de hierbas!
Já a água daquela foz continua quente, teimosamente mais quente do que no mar ali ao lado...
Eu também teimo em não saber domar as correntes, nem o vento, mas sinto-me mais ao leme, mesmo que às vezes ainda me sinta a mais ao leme!
Cerveira terá sempre a melhor feira e a surpresa dos achados urbanos, legados da bienal.
Em Caminha elejo a praça, dos pequenos almoços preguiçosos, entre jornais e revistas,
e dos cafés digestivos nas noites amenas de Agosto...
A Rua Direita continua a mesma, mas eu sou menos a mesma.
No que continua, ainda bem que continuam os jantares em que todos nos reencontramos, ou quase todos... Este ano faltaram Alguns...
Mas é o reencontro o que mais gosto em Caminha: gosto desse conforto de vos ter por perto, gosto desse quentinho que sinto neste cantinho.
Continuam a saber melhor ali as sardinhas assadas a escorrer no pão, a massa com feijão feita na hora e o café que levamos na garrafa térmica...
Até mesmo o café em baldes como o que nos servem quando optamos pela escapadela a uma das esplanadas da margem espanhola, com segundas intenções: beber a fresquinha aguardente de hierbas!
Já a água daquela foz continua quente, teimosamente mais quente do que no mar ali ao lado...
Eu também teimo em não saber domar as correntes, nem o vento, mas sinto-me mais ao leme, mesmo que às vezes ainda me sinta a mais ao leme!
Cerveira terá sempre a melhor feira e a surpresa dos achados urbanos, legados da bienal.
Em Caminha elejo a praça, dos pequenos almoços preguiçosos, entre jornais e revistas,
e dos cafés digestivos nas noites amenas de Agosto...
A Rua Direita continua a mesma, mas eu sou menos a mesma.
No que continua, ainda bem que continuam os jantares em que todos nos reencontramos, ou quase todos... Este ano faltaram Alguns...
Mas é o reencontro o que mais gosto em Caminha: gosto desse conforto de vos ter por perto, gosto desse quentinho que sinto neste cantinho.
lunes, 24 de agosto de 2009
Par delá les nuages
Há uns anos vi no saudoso Cinecentro da Covilhã um filme (o último) do Antonioni, que tinha este título fantástico "Par-delá les nuages" - para além das nuvens... E é de nuvens que é feito o céu que observo sobre o Monte de Santa Tecla do outro lado do rio Minho. Algumas cortam mesmo o monte a meio e as mais atrevidas pousam no rio e confundem-se com ele, como se quisessem resgatar-lhe a água, que se escapa em vapor...
E as nuvens, em dias de férias, deixam-me melancólica e sonolenta, com vontade de evaporar. Fugiria bem para lá das nuvens.
E as nuvens, em dias de férias, deixam-me melancólica e sonolenta, com vontade de evaporar. Fugiria bem para lá das nuvens.
domingo, 16 de agosto de 2009
O silêncio
"A coisa mais difícil e mais bonita de partilhar entre duas pessoas é o silêncio."
A penúltima vez que li um livro sem intervalo foi o "Cartas a Sandra" do Virgílio Ferreira e a última foi ontem à noite, o "No teu deserto" do Miguel Sousa Tavares.
Nestas coisas talvez o tamanho importe, já que ambos têm pouco mais de 100 páginas, mas a razão pela qual em nenhum momento consegui adiar a leitura das páginas seguintes foi porque conversas daquelas não queremos deixar a meio... E se na realidade o fazemos, generosos com a angústia, vingamo-nos na ficção, na verdade dos outros!
E com isto chego à conclusão nada inédita de que a arte serve para isso mesmo, para dizer a verdade que calamos na vida de todos os dias... por isso nos emociona, por isso nos identificamos! Vai daí que a arte não imita a vida coisa nenhuma, supera-a quase sempre! Ou pelo menos sempre que justifica esse nome!
A vida anda demasiado preenchida com banalidades... ou como escreve o Miguel, as pessoas, "em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro... Muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão. "
Às vezes não entendemos logo porquê, mas o cérebro faz curiosas associações... e o meu foi buscar agora o "Few of us" do Sharunas Bartas. Eu tenho o desolador hábito de me esquecer até dos filmes de que gostei..., mas deste não me esqueço, de tal maneira me atingiu aquele silêncio... de tal forma gostei daquela partilha, de perceber o tanto que o silêncio pode dizer. O Paulo Branco, que o produziu, aconselhou a certa altura que se escrevesse pouco sobre o filme, já que "está para lá das palavras!"
Eu desobedeço-lhe com medo de que a memória me traia...
A penúltima vez que li um livro sem intervalo foi o "Cartas a Sandra" do Virgílio Ferreira e a última foi ontem à noite, o "No teu deserto" do Miguel Sousa Tavares.
Nestas coisas talvez o tamanho importe, já que ambos têm pouco mais de 100 páginas, mas a razão pela qual em nenhum momento consegui adiar a leitura das páginas seguintes foi porque conversas daquelas não queremos deixar a meio... E se na realidade o fazemos, generosos com a angústia, vingamo-nos na ficção, na verdade dos outros!
E com isto chego à conclusão nada inédita de que a arte serve para isso mesmo, para dizer a verdade que calamos na vida de todos os dias... por isso nos emociona, por isso nos identificamos! Vai daí que a arte não imita a vida coisa nenhuma, supera-a quase sempre! Ou pelo menos sempre que justifica esse nome!
A vida anda demasiado preenchida com banalidades... ou como escreve o Miguel, as pessoas, "em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro... Muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão. "
Às vezes não entendemos logo porquê, mas o cérebro faz curiosas associações... e o meu foi buscar agora o "Few of us" do Sharunas Bartas. Eu tenho o desolador hábito de me esquecer até dos filmes de que gostei..., mas deste não me esqueço, de tal maneira me atingiu aquele silêncio... de tal forma gostei daquela partilha, de perceber o tanto que o silêncio pode dizer. O Paulo Branco, que o produziu, aconselhou a certa altura que se escrevesse pouco sobre o filme, já que "está para lá das palavras!"
Eu desobedeço-lhe com medo de que a memória me traia...
jueves, 13 de agosto de 2009
Par hasard
Gostei sempre desta expressão, mais do que de "por acaso"... "Par hasard" parece fazer mais a vontade ao acaso... E em Paris era de prever que a expressão ganhasse em poesia, mas no "Paris" de Cédric Kaplish, a vitória é mesmo do acaso, da metafísica, do que não dominamos, do que não depende de nós... Como o acaso contracena connosco sem pedir licença, sem ensaio prévio, roubando-nos tantas vezes a cena, interferindo na nossa história, tomando-lhe o pulso...
Par hasard um coração ameaça deixar de bater, par hasard há um que pára mesmo, par hasard naquela fila senta-se a tal, par hasard todos os nossos colegas morreram ao atravessar o Mediterrâneo, mas nós ficamos para viver a história, par hasard a filha do vendedor de fruta é a melhor amiga da nossa filha e nós ainda não sabemos, mas esses acasos vão mudar a nossa vida!
Paris é mais do que cenário nesta história, tal como Barcelona na "Residência espanhola", ou Londres, Moscovo, São Peterburgo e de novo Paris em "As bonecas russas". Cédric filma as vidas que se vivem nas cidades, mais ou menos influenciadas pelo acaso de terem ser sido aquelas e não outras cidades!
Par hasard um coração ameaça deixar de bater, par hasard há um que pára mesmo, par hasard naquela fila senta-se a tal, par hasard todos os nossos colegas morreram ao atravessar o Mediterrâneo, mas nós ficamos para viver a história, par hasard a filha do vendedor de fruta é a melhor amiga da nossa filha e nós ainda não sabemos, mas esses acasos vão mudar a nossa vida!
Paris é mais do que cenário nesta história, tal como Barcelona na "Residência espanhola", ou Londres, Moscovo, São Peterburgo e de novo Paris em "As bonecas russas". Cédric filma as vidas que se vivem nas cidades, mais ou menos influenciadas pelo acaso de terem ser sido aquelas e não outras cidades!
lunes, 10 de agosto de 2009
Porque SIM!
Demasiadas vezes ouvi pessoas de quem gosto dizerem: "já cá não estou a fazer nada!", ou "não tenho alegria na vida!"
Nenhuma delas estava condenada à imobilidade, nem à dor física para o resto da vida... e, por isso, não entendi este desapego à vida... que muitas vezes cataloguei de ingratidão, ainda que sem o verbalizar.
O melhor será não ter que o entender nunca...
Por isso me merece especial respeito um Senhor que nos pediu para sermos felizes e que sugeriu para seu próprio epitáfio esta saída deliciosa: "Aqui jaz Raúl Solnado, mas contra a sua vontade!"
Espero que lhe tenham feito a vontade...!
Nenhuma delas estava condenada à imobilidade, nem à dor física para o resto da vida... e, por isso, não entendi este desapego à vida... que muitas vezes cataloguei de ingratidão, ainda que sem o verbalizar.
O melhor será não ter que o entender nunca...
Por isso me merece especial respeito um Senhor que nos pediu para sermos felizes e que sugeriu para seu próprio epitáfio esta saída deliciosa: "Aqui jaz Raúl Solnado, mas contra a sua vontade!"
Espero que lhe tenham feito a vontade...!
jueves, 6 de agosto de 2009
Ler... a mente
"O que faria você no meu lugar?
Esta é a frase que eu não esquecerei do filme "The reader", que vi só esta semana.
É consensual condenar o nazismo e todos os que para ele contribuíram. É consensual e fácil... Eu também condeno.
Mais difícil é tentar responder a esta pergunta. E se fosse eu, o que faria? Não sabemos como e estamos a fazer uma coisa com a qual não concordamos e depois tentamos fazê-la da melhor maneira... A intenção, a motivação de cada um pesa e muito na hora de julgar o acto.
Condenamos tantas vezes coisas com a facilidade de quem não passou por lá...
Eu gosto de pensar que, em última análise, temos sempre escolha. E temos.
Mas também me parece importante saber que circunstâncias condicionam a escolha e não nos limitarmos ao "de boas intenções está o inferno cheio".
Resumindo: o filme vale a pena, nem que seja por convocar esta discussão...
Esta é a frase que eu não esquecerei do filme "The reader", que vi só esta semana.
É consensual condenar o nazismo e todos os que para ele contribuíram. É consensual e fácil... Eu também condeno.
Mais difícil é tentar responder a esta pergunta. E se fosse eu, o que faria? Não sabemos como e estamos a fazer uma coisa com a qual não concordamos e depois tentamos fazê-la da melhor maneira... A intenção, a motivação de cada um pesa e muito na hora de julgar o acto.
Condenamos tantas vezes coisas com a facilidade de quem não passou por lá...
Eu gosto de pensar que, em última análise, temos sempre escolha. E temos.
Mas também me parece importante saber que circunstâncias condicionam a escolha e não nos limitarmos ao "de boas intenções está o inferno cheio".
Resumindo: o filme vale a pena, nem que seja por convocar esta discussão...
Intervalo
Entro no elevador vazio e enquanto as portas se fecham atrás de mim desejo que ninguém me interrompa a descida.... Fico comigo do outro lado do espelho. Preciso daqueles segundos de clausura para poder não fingir...
As portas abrem-se, lentamente, deixando-me reencarnar o meu papel...
A vida prossegue.
A caminho dos correios, passo ao lado da maternidade, onde escuto a boa notícia dada por telemóvel: "A Madalena já nasceu!"
As portas abrem-se, lentamente, deixando-me reencarnar o meu papel...
A vida prossegue.
A caminho dos correios, passo ao lado da maternidade, onde escuto a boa notícia dada por telemóvel: "A Madalena já nasceu!"
lunes, 3 de agosto de 2009
Também tu?
"Razões não me faltam para partir ou para ficar - falta-me seguramente a vontade, a convicção, algo mais forte e profundo. Ou apenas o reconhecimento de pequenos nadas que fazem toda a diferença."
Lido agora mesmo no blog do Pedro Rolo Duarte
Lido agora mesmo no blog do Pedro Rolo Duarte
viernes, 31 de julio de 2009
Piquinhos na cabeça...
... o cheiro a cabelos molhados, o cheiro a cabelos secos, emaranhá-los nos dedos, sentir-lhes a textura no rosto, nas costas nuas, no pescoço... e, o melhor de tudo, os piquinhos no cérebro quando alguém se dedica ao nosso cabelo... Quando nos fazem festinhas, quando nos penteiam, quando nos despenteiam...
Brinquei muito aos cabeleireiros. Quem não brincou? A pobre Carlota dos longos cabelos cor-de-laranja era a minha vítima mais requisitada. Outras vezes era a minha prima ou outra cobaia voluntariosa que cedia...
Eu gostava quase tanto de pôr as mãos na massa como de me sentar na cadeira... Porque sempre chegavam os piquinhos, viciantes piquinhos...
É a melhor parte da ida ao cabeleireiro... Ultrapassado o terror das mãos-de-tesoura, é deixar-me estar ali a sentir piquinhos...
Brinquei muito aos cabeleireiros. Quem não brincou? A pobre Carlota dos longos cabelos cor-de-laranja era a minha vítima mais requisitada. Outras vezes era a minha prima ou outra cobaia voluntariosa que cedia...
Eu gostava quase tanto de pôr as mãos na massa como de me sentar na cadeira... Porque sempre chegavam os piquinhos, viciantes piquinhos...
É a melhor parte da ida ao cabeleireiro... Ultrapassado o terror das mãos-de-tesoura, é deixar-me estar ali a sentir piquinhos...
miércoles, 29 de julio de 2009
Sumo na vida!
Quando um desconhecido te oferece flores, isso é... um acontecimento mmmmmmmuuuuuuuuuuuito raro... Até um conhecido, quanto mais!
Por isso merece registo a cena que eu e os restantes passageiros do 726 testemunhámos hoje: um casal discutia no passeio... ela volta-lhe as costas... ele arranca atrás dela, apanha-a e fica a rodopiar com ela ao colo!
A coisa selou-se com um beijo e entretanto o semáforo ficou verde...
Apeteceu-me bater palmas!
Por isso merece registo a cena que eu e os restantes passageiros do 726 testemunhámos hoje: um casal discutia no passeio... ela volta-lhe as costas... ele arranca atrás dela, apanha-a e fica a rodopiar com ela ao colo!
A coisa selou-se com um beijo e entretanto o semáforo ficou verde...
Apeteceu-me bater palmas!
martes, 28 de julio de 2009
A idade das trevas...
A escolher um período da História, o que mais me agrada em termos estéticos é a época medieval.
Gosto da imponência simples do gótico, sem grandes enfeites, mas harmonioso...
Gosto dos instrumentos artesanais e da música melódica e singela que ecoam! E dos passos coreografados que ensaiavam o amor cortês!
E das distâncias galgadas a cavalo! E da honra, quando ela valia a vida!
Gosto dos materiais ainda naturais: da madeira, do ferro, das peles, da lã, do linho e do algodão...
Gosto do corte cintado dos vestidos, das blusas de pano leve que se escapavam dos espartilhos apertados em cruz, das mangas largas, das túnicas de dormir brancas e longas até aos pés...
Gosto do veludo e das cores ferrugentas dos tecidos, dos ocres... Das tiaras no cabelo, que crescia sempre sem freio...
Gosto dos espectáculos feitos para rir e da alma dos saltibancos!
No último fim-de-semana foi Caminha que recuou até 1284, ano quem D. Dinis lhe concedeu foral...
No ano passado entrei a sério nesta história, e brinquei de pseudo-artesã-comerciante! Este ano fui apenas figurante, mas trajadinha a rigor!
lunes, 27 de julio de 2009
O cúmulo do egocentrismo é...
... fazer uma viagem de três horas a escutar a Antena 1 e achar que a maioria das músicas que passaram parecem ter sido escritas para mim!
viernes, 24 de julio de 2009
miércoles, 22 de julio de 2009
Ahoy!!
Hoje conheci um verdadeiro marinheiro português.
Com ele tive uma daquelas conversas, que torna insuficiente a palavra entrevista! Daquelas que me impedem de desistir de ser jornalista.
Vivia há uns anos na África do Sul, quando decidiu construir o seu primeiro veleiro antes de o saber manejar… Com ele atravessou o Atlântico e conheceu quase o mundo inteiro.
Vendeu-o. Construiu um segundo, onde também velejou por meio mundo.
Vendeu-o. Construiu o terceiro, com que pescou atum à cana no mar da Namíbia.
Vendeu-o. Construiu o quarto para voltar a viver no mar alto.
Conheceu o “Adamastor” e dele teve medo: “Ondas de 15 metros!” Perguntei-lhe a certa altura: entre tantas voltas, tantas aventuras, que momento guardava naquele cantinho especial da memória? Pensei logo a seguir que era uma daquelas perguntas patetas, pois devem ter sido tantos esses momentos… Surpreendeu-me (ou não, se bem pensar): “Foi quando cheguei a Lisboa, quando avistei a costa portuguesa!”
Este marinheiro decidiu agora atracar… Sinto inveja dos marinheiros, dos verdadeiros, da liberdade e da força de vontade!
Em mim, marinheira diplomada, mas de água doce, há resquícios cobardes dessa vontade de largar amarras, fundear de vez em quando, atracar de vez em quando, mas nunca para sempre, para não me afundar de vez…
Com ele tive uma daquelas conversas, que torna insuficiente a palavra entrevista! Daquelas que me impedem de desistir de ser jornalista.
Vivia há uns anos na África do Sul, quando decidiu construir o seu primeiro veleiro antes de o saber manejar… Com ele atravessou o Atlântico e conheceu quase o mundo inteiro.
Vendeu-o. Construiu um segundo, onde também velejou por meio mundo.
Vendeu-o. Construiu o terceiro, com que pescou atum à cana no mar da Namíbia.
Vendeu-o. Construiu o quarto para voltar a viver no mar alto.
Conheceu o “Adamastor” e dele teve medo: “Ondas de 15 metros!” Perguntei-lhe a certa altura: entre tantas voltas, tantas aventuras, que momento guardava naquele cantinho especial da memória? Pensei logo a seguir que era uma daquelas perguntas patetas, pois devem ter sido tantos esses momentos… Surpreendeu-me (ou não, se bem pensar): “Foi quando cheguei a Lisboa, quando avistei a costa portuguesa!”
Este marinheiro decidiu agora atracar… Sinto inveja dos marinheiros, dos verdadeiros, da liberdade e da força de vontade!
Em mim, marinheira diplomada, mas de água doce, há resquícios cobardes dessa vontade de largar amarras, fundear de vez em quando, atracar de vez em quando, mas nunca para sempre, para não me afundar de vez…
lunes, 20 de julio de 2009
Dolce, ma non troppo!
De dentro do helicóptero, ele (jornalista) pede-lhes (às dondocas estilosas que apanhavam sol na cobertura de um prédio) o número de telefone, que não chega a obter e nunca obteria tal é o barulho da hélice, tal é o barulho da vida, para quem não estaciona em quase nada, para quem opta pela sedução do imprevisto... E talvez não lhe interessasse genuinamente aquele número, pelo menos não tanto como lhe interessava pedi-lo!
Começa assim o "La Dolce Vita" de Frederico Fellini, um filme tão cheio de detalhes, de entrelinhas, que merece (carece de) ser visto mais do que uma vez...
A história começa com uma falha de comunicação e é com ela que acaba, já que a menina angélica da sequência final também grita qualquer coisa que o nosso protagonista não capta, mas ficamos com a impressão que é essa mensagem que ele vai agarrar, como trilho de vida...
Porque o filme, que se passa em Roma, a capital do catolicismo, também é sobre a busca de um sentido para a vida e sobre a dúvida do que ela possa ser: viver intensamente como se não houvesse amanhã será talvez evitar ou protelar esse amanhã porque não queremos ou não sabemos tomar decisões e com elas preterir a multiplicidade de opções que só quem se sujeita à espontaneidade conhece!
Vemos Jesus (em estátua) suspenso do helicóptero a sobrevoar Roma, a mesma Roma que engole o "milagre" encenado da aparição de Nossa Senhora a duas crianças! Porque na vida, buscamos os milagres e acreditar neles, para nos facilitar a opção, para não andarmos à deriva...
Talvez a deriva seja mais verdadeira do que as certezas que achamos que temos, sugere uma das personagens, aparentemente alinhada, quando decide matar os filhos e se suicidar!
Foi uma excelente ideia assistir na Alameda à sessão de cinema ao ar livre e rever o "La Dolce Vita"
jueves, 16 de julio de 2009
Dance with me!
Não vi o "Bande à Part" de Jean Luc Godard, mas este vídeo, com música dos Nouvelle Vague, deixa-me com água na boca para descobrir o filme...
E a fantástica saia às pregas presa com um alfinete?!! Era um "must" na minha infância!
Estive a pensar no assunto e conclui que "Dança comigo!" é a melhor frase de engate de sempre. Porquê? Porque denuncia o interesse por e a vontade de e ainda poupa o embaraço, e às vezes mau jeito, das primeiras palavras... E tanto o corpo pode dizer...
No fundo é uma fórmula intemporal... já nos serões medievais era assim que os cavalheiros abordavam as damas, na versão mais vassala de "Conceda-me o prazer desta dança?"
E depois, dançar é claramente o meu exercício físico preferido...
E a fantástica saia às pregas presa com um alfinete?!! Era um "must" na minha infância!
Estive a pensar no assunto e conclui que "Dança comigo!" é a melhor frase de engate de sempre. Porquê? Porque denuncia o interesse por e a vontade de e ainda poupa o embaraço, e às vezes mau jeito, das primeiras palavras... E tanto o corpo pode dizer...
No fundo é uma fórmula intemporal... já nos serões medievais era assim que os cavalheiros abordavam as damas, na versão mais vassala de "Conceda-me o prazer desta dança?"
E depois, dançar é claramente o meu exercício físico preferido...
miércoles, 8 de julio de 2009
And the Nobel should go to...
Mark Pfeifle, antigo consultor de segurança nacional da administração de George W. Bush, disse que o Twitter deveria ganhar o prémio Nobel da Paz por ajudar a divulgar a contestação no Irão aos resultados das eleições presidenciais.
Ora aí está!
Eu tentei testar a utilidade do Twiter e, na altura, com maus resultados: pedi ajuda a propósito de um artigo que estava a escrever. Queria informações, possíveis fontes, opiniões. Niente! A minha rede de Twitter é reduzida, o que explica o insucesso!
Mas à medida que vou lendo sobre esta ferramenta convenço-me de que é um rápido e prático veículo de informação útil e inútil!
Ora aí está!
Eu tentei testar a utilidade do Twiter e, na altura, com maus resultados: pedi ajuda a propósito de um artigo que estava a escrever. Queria informações, possíveis fontes, opiniões. Niente! A minha rede de Twitter é reduzida, o que explica o insucesso!
Mas à medida que vou lendo sobre esta ferramenta convenço-me de que é um rápido e prático veículo de informação útil e inútil!
Wako?
Pergunta: Em que pensa enquanto dança?
Resposta de Michael Jackson: "Não penso. Pensar estraga tudo. Dançar consiste apenas em sentir."
... e digo eu: se pensarmos enquanto dançamos, impomos uma censura aos nossos movimentos! Ou pior: imaginamos a censura dos outros aos nossos movimentos! E isso estraga tudo!
Claro que domesticar o pensamento já é difícil... anulá-lo totalmente é... impossível!
Resposta de Michael Jackson: "Não penso. Pensar estraga tudo. Dançar consiste apenas em sentir."
... e digo eu: se pensarmos enquanto dançamos, impomos uma censura aos nossos movimentos! Ou pior: imaginamos a censura dos outros aos nossos movimentos! E isso estraga tudo!
Claro que domesticar o pensamento já é difícil... anulá-lo totalmente é... impossível!
martes, 7 de julio de 2009
Dias que queremos chamar de vésperas
Há dias em que não me sinto em mim
Há dias assim
Há dias em que acordo com medo,
que mantenho em segredo
Dias em que o chão é quem se desvia dos pés
Dias ao invés
Há dias em que nada estava previsto,
mas nesses dias não gosto disso
Há dias Não
Há dias em vão
Há dias assim
Há dias em que acordo com medo,
que mantenho em segredo
Dias em que o chão é quem se desvia dos pés
Dias ao invés
Há dias em que nada estava previsto,
mas nesses dias não gosto disso
Há dias Não
Há dias em vão
O progresso que não encomendámos...
jueves, 2 de julio de 2009
Feras!
Vale a pena esta peça para nos vermos ao espelho! ... e para rir muito! ... e depois reflectir sobre até onde nos levam as banalidades...
miércoles, 1 de julio de 2009
Joana Vasconcelos e a fórmula de Frida Kahlo
Vi-o no Eleven, feito candeeiro, imponente! Um coração de Viana, sobredimensionado, e onde centenas de talheres de plástico teciam o rendilhado encantador da filigrana. Portugal assim representado e representando a grandeza de uma arte em que somos mestres: a ourivesaria em filigrana. Chama-se "Coração independente" também numa alusão ao Fado e é feito com talheres, relacionando a peça com os restaurantes onde o Fado é cantado, de acordo com a explicação da autora, Joana Vasconcelos.
Este cruzamento de ideias agradou a alguém ao ponto de pagar 192 mil euros pela peça, num leilão da Christie's, realizado ontem.
Joana Vasconcelos elegeu a escala, como quem grita... Talvez seja mesmo preciso gritar para sobressair na multiplicidade de propostas artísticas...
A autora de "Cinderela", um sapato de tacão gigante feito só com tachos e testos, grita pela cultura e pelas tradições portuguesas e grita sobre o papel da mulher na sociedade. Frida Kahlo também fez das tradições mexicanas o fio condutor da sua obra e também elegeu a mulher, ainda que numa perspectiva de introespecção mais do que sociológica.
Frida colocava-se ao espelho enquanto Joana é a observadora externa. Mesmo nas suas obras, é muitas vezes o terceiro elemento. Na colcha de renda gigante, que vestiu uma torre do castelo de Santa Maria da Feira e depois pendeu da varanda da Ponte D Luis, no Porto, foi a coordenadora de muitas mãos de fada, especialistas em crochet.
Este cruzamento de ideias agradou a alguém ao ponto de pagar 192 mil euros pela peça, num leilão da Christie's, realizado ontem.
A autora de "Cinderela", um sapato de tacão gigante feito só com tachos e testos, grita pela cultura e pelas tradições portuguesas e grita sobre o papel da mulher na sociedade. Frida Kahlo também fez das tradições mexicanas o fio condutor da sua obra e também elegeu a mulher, ainda que numa perspectiva de introespecção mais do que sociológica.
Frida colocava-se ao espelho enquanto Joana é a observadora externa. Mesmo nas suas obras, é muitas vezes o terceiro elemento. Na colcha de renda gigante, que vestiu uma torre do castelo de Santa Maria da Feira e depois pendeu da varanda da Ponte D Luis, no Porto, foi a coordenadora de muitas mãos de fada, especialistas em crochet.
O nome de Joana é dos mais internacionais das artes plásticas portuguesas... A fórmula de Joana é brilhante: passa a mensagem da estética e das tradições de um povo e convoca a discussão sobre a condição feminina.
Não há fórmulas certas. Se há traço que caracteriza a arte contemporânea é a total ausência de espartilhos (Frida percebeu-o bem), mas a fórmula de Joana parece-me potencialmente mais certa do que a de muitos outros: faz sentido criar sobre o que melhor conhecemos, faz sentido criar sobre o que melhor nos define, faz sentido diferenciar-nos à boleia disso... Ela faz tudo isso, tal como Frida o fez.
A voz!
A fila de trânsito é bem mais tolerável, quando começo a escutar os Sinais do Fernando Alves, na TSF.
Hoje ouvi-o sobre Pina Bausch, "a mulher que pôs o medo a dançar". Assim a caracterizou, numa crónica excelente. São todas. As palavras que usa parecem insubstituíveis, o tom é inevitavelmente envolvente, o ritmo, os silêncios têm a medida certa.
Imagino que assim seja em quase tudo o que faz. Mesmo quando se propõe a mostrar a rádio a duas estudantes de comunicação social, substituindo um cicerone que se havia atrasado.
Ainda bem que se atrasou: tivemos sorte! Contagiante, a voz matutina da TSF fez-nos a visita guiada, em jeito romanceado, porém era a verdade que nos transmitia, a verdade dos dias da rádio, os dias dele na rádio!
Na altura estava certa de que a imprensa era o meu caminho e ainda não tinha percebido o encanto da escrita para rádio, do ditado para a voz. Não sabia que era precisamente por aí que o meu percurso profissional iria arrancar. (Tenho saudades da rádio...)
“Já corremos de mãos dadas a mais secreta noite do mundo.
Já subimos ao alto da montanha.
Sabemos todos os nomes do medo e da alegria.
Em ti me transcendo.
Podia morrer nos teus olhos se nestes dias de cigarras doidas perderes de vista o meu coração vagabundo.
Dá-me um sinal.
Abraçar-nos-emos de novoantes dos rigorosos frios.
De novo o grande sobressalto.
O formidável estremecimento dos instantes felizes.
Podia morrer nos teus olhos amada rádio”
Fernando Alves
Hoje ouvi-o sobre Pina Bausch, "a mulher que pôs o medo a dançar". Assim a caracterizou, numa crónica excelente. São todas. As palavras que usa parecem insubstituíveis, o tom é inevitavelmente envolvente, o ritmo, os silêncios têm a medida certa.
Imagino que assim seja em quase tudo o que faz. Mesmo quando se propõe a mostrar a rádio a duas estudantes de comunicação social, substituindo um cicerone que se havia atrasado.
Ainda bem que se atrasou: tivemos sorte! Contagiante, a voz matutina da TSF fez-nos a visita guiada, em jeito romanceado, porém era a verdade que nos transmitia, a verdade dos dias da rádio, os dias dele na rádio!
Na altura estava certa de que a imprensa era o meu caminho e ainda não tinha percebido o encanto da escrita para rádio, do ditado para a voz. Não sabia que era precisamente por aí que o meu percurso profissional iria arrancar. (Tenho saudades da rádio...)
“Já corremos de mãos dadas a mais secreta noite do mundo.
Já subimos ao alto da montanha.
Sabemos todos os nomes do medo e da alegria.
Em ti me transcendo.
Podia morrer nos teus olhos se nestes dias de cigarras doidas perderes de vista o meu coração vagabundo.
Dá-me um sinal.
Abraçar-nos-emos de novoantes dos rigorosos frios.
De novo o grande sobressalto.
O formidável estremecimento dos instantes felizes.
Podia morrer nos teus olhos amada rádio”
Fernando Alves
martes, 30 de junio de 2009
dance me to the end of...
Há duas sequências do "Habla con ella" que dificultam qualquer tentativa de indiferença perante o trabalho de Pina Bauch. No ano passado assisti à dança final do filme no CCB. Esgotados todos os bilhetes, como esgotaram sempre em todos os espectáculos da Pina Bauch em Portugal, consegui o lugar mais rasca, nas galerias, o correspondente ao terceiro anel.
Eu sabia que ia gostar, mas não sabia que era tão fácil gostar de todo o espectáculo. E era fácil para qualquer pessoa, habitual apreciadora de dança contemporânea ou não.
Tudo atraía no espectáculo: a música (fado também), o mise en scène, a história, o humor, os movimentos!
Para educar novos públicos para a dança, o legado de Pina Bauch é um dos caminhos.
Eu sabia que ia gostar, mas não sabia que era tão fácil gostar de todo o espectáculo. E era fácil para qualquer pessoa, habitual apreciadora de dança contemporânea ou não.
Tudo atraía no espectáculo: a música (fado também), o mise en scène, a história, o humor, os movimentos!
Para educar novos públicos para a dança, o legado de Pina Bauch é um dos caminhos.
pessoazinhas
Estava, de carro, a aproximar-me de uma passadeira para peões. Avistei uma senhora com um carrinho de bebé. Percebi (conscientemente) que tinha tempo suficiente para passar antes da senhora se preparar para fazer a travessia, mesmo que ela estivesse artilhada de um carborador potentíssimo.
Passo e ouço a senhora a praguejar: "Isto é uma passadeira!"
Não havia como atropelá-la, nem que ela desatasse a correr para a passadeira!
Este "zelo" despropositado irrita-me porque tem o mesmo sabor da injustiça!
Apetecia-me explicar à senhora que, sabendo ela tão bem quanto eu que a sua segurança e a do bebé não estava a ser ameaçada, deveria ter uma atitude mais cívica, já que parar o carro naquela situação implicaria mais gastos de combustível e mais CO2 na atmosfera!
E o pior é que tenho quase a certeza de que quem visse a cena deporia em tribunal contra mim, porque a distância (da senhora à passadeira) iria encurtar tanto mais quanto mais hipócrita fosse a testemunha! E isto também me irrita muito!
PS: Não foi grande tirada filosófica, mas à falta de uma aia eficiente...
Passo e ouço a senhora a praguejar: "Isto é uma passadeira!"
Não havia como atropelá-la, nem que ela desatasse a correr para a passadeira!
Este "zelo" despropositado irrita-me porque tem o mesmo sabor da injustiça!
Apetecia-me explicar à senhora que, sabendo ela tão bem quanto eu que a sua segurança e a do bebé não estava a ser ameaçada, deveria ter uma atitude mais cívica, já que parar o carro naquela situação implicaria mais gastos de combustível e mais CO2 na atmosfera!
E o pior é que tenho quase a certeza de que quem visse a cena deporia em tribunal contra mim, porque a distância (da senhora à passadeira) iria encurtar tanto mais quanto mais hipócrita fosse a testemunha! E isto também me irrita muito!
PS: Não foi grande tirada filosófica, mas à falta de uma aia eficiente...
A volta ao mundo em.. menos de três horas!
Um pequeno recuerdo de Espanha, outro do Senegal, mais um de Marrocos e outro do Egipto, do Brasil, do Perú...
Fui à FIA! Levo muito a sério o "Va para fora cá dentro"...
Não dei a volta ao mundo, mas cheirei os couros do Norte de África, vi matrioskas russas, experimentei chinelinhos indianos, pulseiras, colares e brincos do Egipto,... e ainda tive tempo para cuscar o pavilhão reservado ao artesanato português, onde deixei mais uns euritos!
Faço esta viagem todos os anos, por esta altura!... Ir à FIA, experimentar um restaurante de comida estrangeira ou conhecer gente de outros países é quase tão bom como viajar de verdade e potencialmente mais acessível... Fico é com muito mais apetite de viajar de verdade!
Fui à FIA! Levo muito a sério o "Va para fora cá dentro"...
Não dei a volta ao mundo, mas cheirei os couros do Norte de África, vi matrioskas russas, experimentei chinelinhos indianos, pulseiras, colares e brincos do Egipto,... e ainda tive tempo para cuscar o pavilhão reservado ao artesanato português, onde deixei mais uns euritos!
Faço esta viagem todos os anos, por esta altura!... Ir à FIA, experimentar um restaurante de comida estrangeira ou conhecer gente de outros países é quase tão bom como viajar de verdade e potencialmente mais acessível... Fico é com muito mais apetite de viajar de verdade!
lunes, 29 de junio de 2009
Jefferson e o abade; Obama e o cão
O tema do Câmara Clara de ontem girava em torno dos EUA e de Obama... Interessante como todos os que tenho visto!
... A certa altura uma peça sobre o primeiro embaixador português nos EUA, o abade Correia da Serra, e a curiosidade dele ter sido considerado pelo terceiro presidente norte-americano, Thomas Jefferson, "o homem mais sábio que conhecia", que é como quem diz: nunca as relações diplomáticas entre Portugal e os EUA foram tão fortes como então, ao que não é estranho o facto de Portugal, na altura, ainda achar que "controlava" o Brasil!
Isto era no século XVIII, porque agora importa mesmo é termos um cão de raça portuguesa na Casa Branca! (Como humoristicamente comentava Paula Moura Pinheiro, a moderadora do programa, jornalista que me habituei a admirar desde o tempo em que escrevia sobre tribos urbanas no Expresso!... no início da década de 90)
... A certa altura uma peça sobre o primeiro embaixador português nos EUA, o abade Correia da Serra, e a curiosidade dele ter sido considerado pelo terceiro presidente norte-americano, Thomas Jefferson, "o homem mais sábio que conhecia", que é como quem diz: nunca as relações diplomáticas entre Portugal e os EUA foram tão fortes como então, ao que não é estranho o facto de Portugal, na altura, ainda achar que "controlava" o Brasil!
Isto era no século XVIII, porque agora importa mesmo é termos um cão de raça portuguesa na Casa Branca! (Como humoristicamente comentava Paula Moura Pinheiro, a moderadora do programa, jornalista que me habituei a admirar desde o tempo em que escrevia sobre tribos urbanas no Expresso!... no início da década de 90)
sábado, 27 de junio de 2009
Aquele abraço!
Peter Gabriel ganhou prémios por vários videoclips das suas músicas, sobretudo aqueles mais inspirados em Achimboldo, mas há um de que eu gosto especialmente e que provavelmente não foi premiado, tal é a sua simplicidade... : Este que junta o cantor com Kate Bush!
Omnipresente
Desenhei com o dedo o teu nome na areia.
Deixei-me fechar os olhos,
sentir a luz quente do sol,
o vento brando a varrer-me a pele
e o mar mansinho a moldar a planície.
Estavas por perto...
Deixei-me fechar os olhos,
sentir a luz quente do sol,
o vento brando a varrer-me a pele
e o mar mansinho a moldar a planície.
Estavas por perto...
martes, 23 de junio de 2009
voto em branco como costumo
Torci o pé esquerdo... perdi um dos meus esteios... perdi memórias... e histórias... dei-me a uma nova profissão... tive a noite mais confusa... tive a noite mais eufórica... tive a noite mais triste... deixei de ter... deixei-me ficar... deixo-me a pensar... não gosto de balanços... é cedo para balanços quando as certezas se atrasam... tenho a mania... tenho quase tudo... será bom... tem sido sempre.... há mais do que uma fórmula para a felicidade!... cada dia é dia de a reinventar...
viernes, 19 de junio de 2009
Uma odisseia na FCT
Ligo para a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) com o objectivo de falar com alguém ligado ao departamento de investigação no sector espacial. Atende-me um gravador: "Se quiser ser atendido em português, marque 1." Eu, obdiente, marquei. Recomeça a vozinha: "Bolsas, marque 1; programas e projectos de I&D, marque 2; unidades, marque 3..." Arrisquei unidades. Pedi para falar com alguém do sector espacial. "Não é aqui". Perguntei qual a extensão certa. "Não sei, mas aqui não é." Pedi para me passar à telefonista. Fiquei pendurada à espera que a telefonista encontrasse alguém da área... Niente!
Voltei a ligar e depois de ouvir uma longa lenga lenga, percebi que extensão 9 ligava directamente à telefonista! Pedi-lhe a extensão directa para os responsáveis do departamento espacial...
Na era dos callcenters, em que meio mundo está ao telefone, as telefonistas são substituídas por paleio só eficiente quando o interlocutor tem boa pontaria e acerta na extensão!
Voltei a ligar e depois de ouvir uma longa lenga lenga, percebi que extensão 9 ligava directamente à telefonista! Pedi-lhe a extensão directa para os responsáveis do departamento espacial...
Na era dos callcenters, em que meio mundo está ao telefone, as telefonistas são substituídas por paleio só eficiente quando o interlocutor tem boa pontaria e acerta na extensão!
Não sou a primeira, nem serei a última a queixar-me deste processo de atendimento telefónico!
Porquê que se mantém a fórmula? Juro que não entendo.
martes, 16 de junio de 2009
Foi molhada a festa foi!
O "SIM" foi abafado pela tromba de água que São Pedro generosamente enviou para abençoar a boda, mas garantem fontes presentes no local que, efectivamente, eles se casaram nesse dia.
A cerimónia, pensada para o amplo jardim com vista para o mosteiro (a adivinhar um fim de tarde soalheiro, próprio das vésperas de Verão), foi reformulada e confinada à esplanada do restaurante, onde os convidados, artilhados de câmaras fotográficas, esperavam a noiva, também armada, mas de guarda-chuva. O espaço foi coberto de improviso por um toldo que se ia aproximando das cabeças dos noivos à medida que a chuva ia cavando uma poça de água. Houve quem fizesse apostas para o caso do toldo ceder ao peso do tal lago que se estava a formar. Por sorte, o "amável" oficial de notariado era profissional expedito e despachou a coisa em minutos!
Para quem não conseguiu escutar o "SIM", a banda de Goran Bregovic anunciou que os noivos já estavam casados, que já era possível alargar o nó da gravata, molhar a garganta, acalmar o estômago, …
Acondicionadas as entradas, foi tempo de, desordeiramente, passar ao jantar, servido intercaladamente entre um passo de dança e um cigarrito.
O acto de cortar o bolo da noiva e respectiva laçada de taças de champanhe (notou-se que os noivos não treinaram esta parte da cerimónia) foi antecipado pelos "obrigatórios" discursos (também mal ensaiados).
Depois de quase todos os sapatinhos terem puxado o lustro à pista de dança, eis que os noivos se lembraram de abrir "oficialmente" o baile, ao som de Rodrigo Leão, num tango arrebatador, mas pouco arrebatado (o ensaio foi na véspera e revelou-se insuficiente!).
A festa seguiu com os habituais picos de emoção: o ramo foi lançado uma boa meia dúzia de vezes e a noiva revelou total falta de tacto ao atirar a promessa de um novo casório para cima do telhado! As noivas em lista de espera não se digladiaram, nem houve luta na lama, apesar da chuva ter preparado o cenário ideal para que tal sucedesse…
De registar que nem só a chuva molhou este casamento, dada a quantidade de carpideiras(os) de serviço! A noiva integrou eficientemente esta fileira, não resistindo ao "Reviver o passado antes e depois do príncipe", um documentário carinhosamente construído por alguns dos amigos…
Amor e Amigos são, aliás, as palavras que ficam desse dia na memória dos noivos. A esses tesouros juntos chamamos Família!
A cerimónia, pensada para o amplo jardim com vista para o mosteiro (a adivinhar um fim de tarde soalheiro, próprio das vésperas de Verão), foi reformulada e confinada à esplanada do restaurante, onde os convidados, artilhados de câmaras fotográficas, esperavam a noiva, também armada, mas de guarda-chuva. O espaço foi coberto de improviso por um toldo que se ia aproximando das cabeças dos noivos à medida que a chuva ia cavando uma poça de água. Houve quem fizesse apostas para o caso do toldo ceder ao peso do tal lago que se estava a formar. Por sorte, o "amável" oficial de notariado era profissional expedito e despachou a coisa em minutos!
Para quem não conseguiu escutar o "SIM", a banda de Goran Bregovic anunciou que os noivos já estavam casados, que já era possível alargar o nó da gravata, molhar a garganta, acalmar o estômago, …
Acondicionadas as entradas, foi tempo de, desordeiramente, passar ao jantar, servido intercaladamente entre um passo de dança e um cigarrito.
O acto de cortar o bolo da noiva e respectiva laçada de taças de champanhe (notou-se que os noivos não treinaram esta parte da cerimónia) foi antecipado pelos "obrigatórios" discursos (também mal ensaiados).
Depois de quase todos os sapatinhos terem puxado o lustro à pista de dança, eis que os noivos se lembraram de abrir "oficialmente" o baile, ao som de Rodrigo Leão, num tango arrebatador, mas pouco arrebatado (o ensaio foi na véspera e revelou-se insuficiente!).
A festa seguiu com os habituais picos de emoção: o ramo foi lançado uma boa meia dúzia de vezes e a noiva revelou total falta de tacto ao atirar a promessa de um novo casório para cima do telhado! As noivas em lista de espera não se digladiaram, nem houve luta na lama, apesar da chuva ter preparado o cenário ideal para que tal sucedesse…
De registar que nem só a chuva molhou este casamento, dada a quantidade de carpideiras(os) de serviço! A noiva integrou eficientemente esta fileira, não resistindo ao "Reviver o passado antes e depois do príncipe", um documentário carinhosamente construído por alguns dos amigos…
Amor e Amigos são, aliás, as palavras que ficam desse dia na memória dos noivos. A esses tesouros juntos chamamos Família!
Toca a pôr o CR7 a render
Não me passa pela cabeça que o Real Madrid va pagar o galáctico salário ao Cristiano Ronaldo, sem esperar um mais galáctico ainda retorno financeiro... Em merchandising, contratos publicitários, notoriedade... o que for...
Ora, se o CR joga e irá jogar (a menos que parta alguma pecinha ou mude de nacionalidade) na nossa Selecção, com a portuguesinha vestimenta, não vejo por que razão não estamos já a vender camisolinhas como o número 7 e o CR e a cara do CR estampadinhos aos pacotes, xuteiras, toalhas de banho, porta-chaves, lenços de papel, talheres, vinho,... tudo trajadinho com o equipamento luso do Cristianinho!
Estágios da selecção na China e na Índia (onde os fãs são mais do que as mães) já! (baratinho isso ficaria!)
E o João Jardim que ainda não colou a Madeira ao CR?! Pedir a independência do "contenente" agora é que não viria nada a calhar!
Anda tudo distraído!
PS: Claro que o facto de estarmos ainda quase de fora do próximo mundial também não ajuda. O moço ainda casa com uma guapa e passa a jogar pela muy em forma España
Ora, se o CR joga e irá jogar (a menos que parta alguma pecinha ou mude de nacionalidade) na nossa Selecção, com a portuguesinha vestimenta, não vejo por que razão não estamos já a vender camisolinhas como o número 7 e o CR e a cara do CR estampadinhos aos pacotes, xuteiras, toalhas de banho, porta-chaves, lenços de papel, talheres, vinho,... tudo trajadinho com o equipamento luso do Cristianinho!
Estágios da selecção na China e na Índia (onde os fãs são mais do que as mães) já! (baratinho isso ficaria!)
E depois poderemos também "largar fogo"...! (Que a pirotecnia é coisa também muito portuguesinha!)
E o João Jardim que ainda não colou a Madeira ao CR?! Pedir a independência do "contenente" agora é que não viria nada a calhar!
Anda tudo distraído!
PS: Claro que o facto de estarmos ainda quase de fora do próximo mundial também não ajuda. O moço ainda casa com uma guapa e passa a jogar pela muy em forma España
lunes, 8 de junio de 2009
Desprezo ou apatia?
Destas europeias sobra-me uma dúvida: afinal foi o desprezo ou a apatia que ganhou estas eleições?
A mim parece-me que foi a apatia, o que é, julgo, bem mais grave do que o desprezo.
Os abstencionistas estão em grande forma e isso não está a dar que pensar!
Definitivamente ganha a apatia, até na fileira dos que participam.
A mim parece-me que foi a apatia, o que é, julgo, bem mais grave do que o desprezo.
Os abstencionistas estão em grande forma e isso não está a dar que pensar!
Definitivamente ganha a apatia, até na fileira dos que participam.
À escuta...
Escutar as conversas dos outros é... por vezes inevitável e também por vezes bem agradável.
Adoptei uma esplanada perto da escola onde dou aulas e lá, um dia destes, tive eu direito a uma aula sobre bonecas. Na mesa ao lado da minha dois entusiasmados coleccionadores e recuperadores de bonecas antigas trocavam histórias sobre as suas vivências... Fiquei a saber que, no que toca a casinhas de bonecas, as vitorianas (inglesas) são as mais perfeitas. Por outro lado, ninguém ganha aos alemães nas reproduções em miniatura.
Também descobri que é português o dono da boneca miniatura mais minúscula e também é português o dono da miniatura mais valiosa...
E que há projectos para um museu de bonecas em Cascais...
E fiquei com vontade de saber mais deste mundo em formato XXXS: uma ideia a explorar, talvez...
Na minha parca, maas bem conservada colecção, destaco a mais antiga: um boneco bebé, com menos de 30 centímetros, que pertenceu à minha mãe e que posou ao meu lado no dia em que me fotografaram pela primeira vez... E a Carlota, que perdeu o triciclo e parte das pernas, mas mantém o que a tornava especial: o longo cabelo cor de laranja, onde eu ensaiei vários penteados.
Adoptei uma esplanada perto da escola onde dou aulas e lá, um dia destes, tive eu direito a uma aula sobre bonecas. Na mesa ao lado da minha dois entusiasmados coleccionadores e recuperadores de bonecas antigas trocavam histórias sobre as suas vivências... Fiquei a saber que, no que toca a casinhas de bonecas, as vitorianas (inglesas) são as mais perfeitas. Por outro lado, ninguém ganha aos alemães nas reproduções em miniatura.
Também descobri que é português o dono da boneca miniatura mais minúscula e também é português o dono da miniatura mais valiosa...
E que há projectos para um museu de bonecas em Cascais...
E fiquei com vontade de saber mais deste mundo em formato XXXS: uma ideia a explorar, talvez...
Na minha parca, maas bem conservada colecção, destaco a mais antiga: um boneco bebé, com menos de 30 centímetros, que pertenceu à minha mãe e que posou ao meu lado no dia em que me fotografaram pela primeira vez... E a Carlota, que perdeu o triciclo e parte das pernas, mas mantém o que a tornava especial: o longo cabelo cor de laranja, onde eu ensaiei vários penteados.
domingo, 7 de junio de 2009
Lado lunar?
Descobri afinal para que serve este paleio todo. Serve para disfarçar a falta de memória. Serve para não me esquecer de mim... Serve para saber quem sou agora e para saber depois o que fui.
E serve para me mostrar ao mundo, da melhor maneira, por exclusão de todas as outras possibilidades...
É difícil encontrar uma letra do Carlos T de que não goste...
Lado Lunar
(Rui Veloso / Carlos T)
Não me mostres o teu lado feliz
A luz do teu rosto quando sorris
Faz-me crer que tudo em ti é risonho
Como se viesses do fundo de um sonho
Não me abras assim o teu mundo
O teu lado solar só dura um segundo
Não é por ele que te quero amar
Embora seja ele que me esteja a enganar
Toda a alma tem uma face negra
Nem eu nem tu fugimos à regra
Tiremos à expressão todo o dramatismo
Por ser para ti eu uso um eufemismo
Chamemos-lhe apenas o lado lunar
Mostra-me o teu lado lunar
Desvenda-me o teu lado malsão
O túnel secreto a loja de horrores
A arca escondida debaixo do chão
Com poeira de sonhos e runas de amores
Eu hei-de te amar por esse lado escuro
Com lados felizes eu já não me iludo
Se resistir à treva é um amor seguro
à prova de bala à prova de tudo
Mostra-me o avesso da tua alma
Conhecê-lo é tudo o que eu preciso
Para poder gostar mais dessa luz falsa
Que ilumina as arcadas do teu sorriso
Não é bem por ela que te quero amar
Embora seja ela que me vai enganar
Se mostrares agora o teu lado lunar
Mesmo às escuras eu não vou reclamar
E serve para me mostrar ao mundo, da melhor maneira, por exclusão de todas as outras possibilidades...
É difícil encontrar uma letra do Carlos T de que não goste...
Lado Lunar
(Rui Veloso / Carlos T)
Não me mostres o teu lado feliz
A luz do teu rosto quando sorris
Faz-me crer que tudo em ti é risonho
Como se viesses do fundo de um sonho
Não me abras assim o teu mundo
O teu lado solar só dura um segundo
Não é por ele que te quero amar
Embora seja ele que me esteja a enganar
Toda a alma tem uma face negra
Nem eu nem tu fugimos à regra
Tiremos à expressão todo o dramatismo
Por ser para ti eu uso um eufemismo
Chamemos-lhe apenas o lado lunar
Mostra-me o teu lado lunar
Desvenda-me o teu lado malsão
O túnel secreto a loja de horrores
A arca escondida debaixo do chão
Com poeira de sonhos e runas de amores
Eu hei-de te amar por esse lado escuro
Com lados felizes eu já não me iludo
Se resistir à treva é um amor seguro
à prova de bala à prova de tudo
Mostra-me o avesso da tua alma
Conhecê-lo é tudo o que eu preciso
Para poder gostar mais dessa luz falsa
Que ilumina as arcadas do teu sorriso
Não é bem por ela que te quero amar
Embora seja ela que me vai enganar
Se mostrares agora o teu lado lunar
Mesmo às escuras eu não vou reclamar
domingo, 17 de mayo de 2009
Um poema de sempre
Sempre me pareceu que a poesia precisa da voz para melhor ser apreciada, com ou sem música...
Estrela da tarde, do Ary dos Santos (recordei-a hoje na TSF)
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
Estrela da tarde, do Ary dos Santos (recordei-a hoje na TSF)
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
viernes, 15 de mayo de 2009
O Porto está a mudar... e em breve iremos notar
Praça do Duque da Ribeira, Porto, 8 de Maio de 2009
Olhares de um fim de tarde bem passado pelas futuras ex-ruínas do meu Porto (cada vez com mais) sentido!
Olhares de um fim de tarde bem passado pelas futuras ex-ruínas do meu Porto (cada vez com mais) sentido!
Este edifício albergou o primeiro hotel do Porto... Será um hotel low-cost em breve...
A Costureirinha da Sé "morava" nesta casa!
Poema roubado... ao passado
Entre eles não havia horas perdidas,
nem silêncios incómodos
Em silêncio, ela dizia-lhe a verdade
Em silêncio, ele nem desconfiava
O mundo inteiro cabia entre os dois
Esmiuçavam-no, espicaçavam-se, contagiavam-se
Às vezes gritavam
Horas ganhas
para que ficassem a saber exactamente o mesmo um sobre o outro
Eram cúmplices
Ela já o sabia
Ele nem desconfiava
nem silêncios incómodos
Em silêncio, ela dizia-lhe a verdade
Em silêncio, ele nem desconfiava
O mundo inteiro cabia entre os dois
Esmiuçavam-no, espicaçavam-se, contagiavam-se
Às vezes gritavam
Horas ganhas
para que ficassem a saber exactamente o mesmo um sobre o outro
Eram cúmplices
Ela já o sabia
Ele nem desconfiava
miércoles, 13 de mayo de 2009
porque...
Por sorte tenho uma oficina de mecânica na minha rua. Foi o sapateiro (também da minha rua) que mo recordou quando percebeu o meu desespero ao rodar a chave na ignição, sem resposta...
Isto para dizer que o episódio da bateria teve um lado bom (há sempre um?)...
Irrita-me que as pessoas se ponham na conversa, transformando em corredores os passeios. Quem lá passa sente-se intruso ou bisbilhoteiro de circunstância. Pior quando estamos a falar de mecânicos, que interrompem descaradamente a conversa para galar quem passa...
Ora, tudo isto é passado porque os mecânicos da minha rua são agora os meus amigos mecânicos... Pai e filho socorreram-me em três tempos: era ver o senhor a correr, à chuva, até ao incompetente do meu carro, de carrregador em punho. E depois do motor começar a roncar, ainda me alertou para que guiasse com calma e cuidado, porque chovia! E que não me preocupasse com o pagamento porque era da rua e depois logo se via!
Quando lá voltei para pagar: a resposta foi a mesma... "depois logo se vê menina, não tenha pressa, o meu pai nem está cá a agora"...
Moral da história: serviço tradicional no seu melhor... insubstituível! Estou conquistada!
Hoje: novo episódio a atestar o mesmo!
Tinha um vestido encomendado numa loja dois quarteirões abaixo da minha rua há umas três semanas... Sempre que lá passava estava de carro e não havia onde estacionar... Hoje encontrei um buraquinho e fui levantar a encomenda! Depois de explicar à empregada o motivo da minha demora... Resposta: quando for assim apite e nós vamos ter consigo à rua! Levamos a maquineta de Multibanco e tudo! Volta e meia fazemos isso!
As Pessoas valem a pena!
Isto para dizer que o episódio da bateria teve um lado bom (há sempre um?)...
Irrita-me que as pessoas se ponham na conversa, transformando em corredores os passeios. Quem lá passa sente-se intruso ou bisbilhoteiro de circunstância. Pior quando estamos a falar de mecânicos, que interrompem descaradamente a conversa para galar quem passa...
Ora, tudo isto é passado porque os mecânicos da minha rua são agora os meus amigos mecânicos... Pai e filho socorreram-me em três tempos: era ver o senhor a correr, à chuva, até ao incompetente do meu carro, de carrregador em punho. E depois do motor começar a roncar, ainda me alertou para que guiasse com calma e cuidado, porque chovia! E que não me preocupasse com o pagamento porque era da rua e depois logo se via!
Quando lá voltei para pagar: a resposta foi a mesma... "depois logo se vê menina, não tenha pressa, o meu pai nem está cá a agora"...
Moral da história: serviço tradicional no seu melhor... insubstituível! Estou conquistada!
Hoje: novo episódio a atestar o mesmo!
Tinha um vestido encomendado numa loja dois quarteirões abaixo da minha rua há umas três semanas... Sempre que lá passava estava de carro e não havia onde estacionar... Hoje encontrei um buraquinho e fui levantar a encomenda! Depois de explicar à empregada o motivo da minha demora... Resposta: quando for assim apite e nós vamos ter consigo à rua! Levamos a maquineta de Multibanco e tudo! Volta e meia fazemos isso!
As Pessoas valem a pena!
lunes, 11 de mayo de 2009
Porquê?
Que raio de mensagem celeste ou do destino poder-me-á ser passada quando no dia em que tenho que dar o primeiro teste da minha vida a uma turma fico sem bateria no carro?
Mesmo tendo saído com muuuuuuuuuuito tempo de antecedência de casa cheguei uns minutinhos atrasada!!
Alguém entende estes desígnios do demo????
Terá sido maldição de um benfiquista mal resolvido???
Claro que em mente tinha todos os palavrões do dicionário e os outros também quando cheguei à escola!
Mesmo tendo saído com muuuuuuuuuuito tempo de antecedência de casa cheguei uns minutinhos atrasada!!
Alguém entende estes desígnios do demo????
Terá sido maldição de um benfiquista mal resolvido???
Claro que em mente tinha todos os palavrões do dicionário e os outros também quando cheguei à escola!
miércoles, 6 de mayo de 2009
Superlativo relativo
O mais fácil para mim é sempre experimentar
O mais difícil é escolher
O mais fácil é questionar
O mais difícil é responder
O mais fácil é procurar
O mais difícil é concluir e julgar
O mais fácil é o desconhecido
O mais difícil é manter-me por lá depois
O mais difícil é escolher
O mais fácil é questionar
O mais difícil é responder
O mais fácil é procurar
O mais difícil é concluir e julgar
O mais fácil é o desconhecido
O mais difícil é manter-me por lá depois
martes, 5 de mayo de 2009
Camilo e Siza
Camilo Castelo Branco e Siza Vieira elegeram o mesmo cenário, o Porto. A convite da revista brasileira Viagem e Turismo (Editora Abril) tentei percorrer as pisadas ou o espírito da época de ambos...
Esta é a versão pré-adaptação ao português do Brasil...
O Porto de Camilo Castelo Branco
A cidade que inspirou o nome a Portugal tem séculos de argumentos para merecer uma visita. Vamos deter-nos no XIX e seguir o rasto do romancista e jornalista Camilo Castelo Branco. O Porto, que também emprestou o nome ao vinho, era por esta altura uma cidade mercantil, industrial, cosmopolita, revolucionária e romântica. O autor de “Amor de Perdição” e de “A Queda de um Anjo” alugou-a e contracenou com ela.
Da janela do quarto, Camilo Castelo Branco poderia, se quisesse, contar quantos barcos rabelos atracavam por dia no cais da Ribeira. Até serem substituídas pelo comboio, estas embarcações, que hoje encantam os turistas, desciam o Rio Douro carregadas de pipas de Vinho do Porto para armazenar nas caves de Vila Nova de Gaia (actualmente visitáveis). O vinho adoçava a boca aos ingleses e impelia a cidade a fazer justiça ao seu nome, sendo porto de chegada para as pipas provenientes do Alto Douro e de partida para as garrafas de Porto a exportar para Inglaterra. Tudo isto poderia Camilo confirmar porque estava preso na Cadeia da Relação numa cela voltada para o rio. Estávamos em 1860 e o escritor cumpria pena por adultério, no edifício em que pelo mesmo crime se encontrava também encarcerada a sua amada, Ana Plácido.
O bulício do Douro, que desagua no Porto, não seria distracção suficiente para o escritor, que encontrou no papel e no tinteiro melhor companhia. Hoje é possível conhecer esse espaço reduzido onde Camilo escreveu um dos seus mais afamados romances, “Amor de Perdição”, a história trágica de Simão e Teresa, inspirada no amor reprovado do escritor por Ana Plácido. A antiga cela de Camilo está aberta ao público bem como outras salas da Cadeia da Relação, transformada em Centro Português de Fotografia (cpf.pt, Campo Mártires da Pátria, entrada livre). Aí podemos espreitar por lentes arcaicas que congelaram momentos desde os primórdios da fotografia, admirar o espólio de um pioneiro fotógrafo e cineasta português, Aurélio da Paz dos Reis, e outras mostras que o centro vai rodando.
Recuar às primeiras experiências fotográficas, é viajar pelo século XIX, pelo romantismo artístico, político e filosófico em que encaixa a obra e a vida de Camilo. O escritor nasceu em Lisboa, em 1825, mas morou quase toda a sua vida no Norte de Portugal. O Porto foi palco de anos rebeldes: Camilo dividia-se entre inflamadas paixões e a boémia dos cafés e salões burgueses, onde era popular pelos seus escritos jornalísticos.
Descobrimos esse Porto burguês e romântico na encosta que se estende da Boavista ao rio. Descendo uma das suas estreitas ruas alcança-se o Museu Romântico (Rua de Entrequintas, 220, € 2 de terça a sexta, entrada livre aos sábados e domingos), alojado na Quinta da Macieirinha, reduto de férias da família Pinto Bastos, fundadora da conceituada fábrica de porcelanas Vista Alegre.
A casa envolta por jardins, denuncia quão forte era a presença britânica no Porto no século XIX, um pouco à boleia do comércio do vinho. O museu reconstitui a vivência da época, com móveis de diferentes estilos, que desvendam o eclectismo dos românticos. Testemunha-se igualmente a sua paixão pelo coleccionismo num quarto que exibe várias colecções. A ampla sala de baile deixa-nos imaginar saiotes a rodopiar em serões festivos e faustosos, ao som de Chopin ou Beethoven, autores certamente tocados nos dois pianos fortes Collard que permanecem no museu. Em algumas dessas festas participou o rei italiano Carlos Alberto de Piemonte e Sardenha, que esteve nesta casa exilado e nela faleceu em 1849.
Em frente à Quinta da Macieirinha fica a Quinta Tait (Rua de Entrequintas, 219), que abrigou várias famílias inglesas, como a do abastado negociante de Vinho do Porto William Tait. Mais tarde adquirida pela prefeitura, a casa mantém o traço romântico e acolhe exposições temporárias, merecendo uma visita também pelos seus perfumados jardins.
Colado à Quinta da Macieirinha fica outro legado do romântico, o Palácio de Cristal (Rua D. Manuel II), ou o que resta dele, já que o edifício, erguido em 1865, foi demolido em 1951, dando lugar ao pavilhão desportivo Rosa Mota. Camilo contestou a construção desse palácio que considerava o símbolo do Porto burguês e materialista. O imóvel original, assinado pelo inglês Thomas Dillen Jones, foi tal como o Palácio de Cristal de Petrópolis inspirado no Crystal Palace londrino. Actualmente o espaço atrai sobretudo pelos jardins românticos projectados pelo paisagista alemão Emílio David e pela moderna Biblioteca Almeida Garrett (outro escritor do romântico português).
O ponto final neste roteiro pelo Porto do século XIX pode ser temperado por um cálice da bebida que na época fermentou a cidade comercialmente, projectando-a no resto do mundo. Pode brindar à História e a Camilo, por exemplo, na Quinta da Macieirinha, onde também mora o Solar do Vinho do Porto. Das janelas deste bar/loja de vinho pode igualmente ver os rabelos a partir e a chegar. Em vez de vinho transportam agora turistas desejosos de o experimentar…
O Porto de Siza Vieira
O vencedor do Pritzker em 1992 conhece uma cidade empenhada em acordar depois da ditadura. O Porto de hoje tem o dedo de Álvaro Siza Vieira. A cidade onde o arquitecto trabalha preserva as heranças do passado, mas quer deixar marcas para o futuro. O projecto Porto Capital Europeia da Cultura 2001 agitou a cidade. O efeito continua contagiando vários sectores da vida da segunda maior urbe de Portugal.
Se a viagem pelo Porto de Camilo Castelo Branco pode terminar com um cálice do vinho licoroso que foi buscar o nome à cidade, é justo iniciar um percurso inspirado em Álvaro Siza Vieira com o mesmo copo na mão. O arquitecto português, é conhecido pelas formas que vai acrescentando ao espaço urbano, mas poucos sabem que é também o autor do copo oficial da bebida mais famosa de Portugal (à venda no Solar do Vinho do Porto). Assim é desde 2001, por encomenda do Instituto do Vinho do Porto. A peça de cristal Tritan mede 16,7 cm e é mais alta do que os até então copos usados para beber Vinho do Porto. No pé, o copo possui uma ligeira concavidade para indicar onde deve assentar o polegar, de modo a melhor movimentar e observar a bebida antes de lhe sentir o aroma e de a provar.
A experiência fica mais saborosa se a escassos metros de si estiver o mar, apenas filtrado por uma parede de vidro. Isto é possível na Casa de Chá da Boa Nova (Lugar da Boa Nova, Matosinhos), projectada por Siza Viera e concluída em 1963. O espaço parece ter sido cavado nos rochedos da Praia de Leça da Palmeira, uma das primeiras que encontra depois do Douro se render ao Atlântico. Quem visita o Porto dificilmente resiste a um desvio à cidade vizinha de Matosinhos para conhecer esta carismática obra de Siza. Aqui pode beber um Porto, um chá (a outra bebida, que os portugueses ensinaram os ingleses a gostar, através de Catarina de Bragança, esposa do rei Carlos II de Inglaterra) ou mesmo fazer uma refeição.
Ainda na praia de Leça da Palmeira, a convidá-lo para um mergulho, estão as Piscinas das Marés (Avenida da Liberdade, Matosinhos) também da autoria de Siza. A construção surge tal como a Casa de Chá camuflada entre os rochedos, como se não quisesse perturbar a Natureza. Antes tira partido dela, já que é da água salgada do Atlântico que se alimentam as piscinas.
Seguindo pela costa atlântica que nos leva até à Foz do Douro, já no Porto, faça escala no Parque da Cidade (Avenida da Boavista), uma conquista recente para a qualidade de vida dos portuenses. Idealizado pelo arquitecto paisagista Sidónio Pardal, o maior parque urbano do país é generoso em espaços verdes e lagos, sendo ideal para jogging, passear de bicicleta, ou simplesmente relaxar.
O recinto faz fronteira com a Boavista, zona de luxuosas vivendas que se estica até à Foz do Douro. Entre ambos está a Avenida da Boavista. Recomenda-se uma paragem a meio, não por se tratar da mais longa artéria da cidade, mas porque é imperioso visitar a Quinta de Serralves, onde está o Museu de Arte Contemporânea (serralves.pt, Rua D. João de Castro, 210), outra obra com o carimbo de Siza. O edifício branco, de linhas rectas e surpreendentes jogos de luz, concluído em 1999, alberga uma colecção permanente, que conta a evolução da arte desde a década de 60, e recebe mostras temporárias de arte contemporânea. O espaço é determinante no diálogo com outras instituições culturais, na projecção internacional da cidade, bem como na educação para a arte e na sedução de novos públicos.
O mesmo caminho parece trilhar a Casa da Música (casadamusica.com, Avenida da Boavista, 604-610), projectada por outro colosso da arquitectura actual, o holandês Rem Koolhaas. Este novo espaço, incontornável na programação musical da cidade, ficou pronto em 2005 e é já um ícone arquitectónico do Porto, justificando a visita guiada (€ 3).
A Casa da Música é um legado do Porto Capital Europeia da Cultura 2001, projecto que catalisou a revitalização de muitos espaços culturais e melhorias urbanísticas em zonas como a Praça Carlos Alberto ou o quarteirão do Jardim da Cordoaria. Os arranjos sublinharam a imponência da Igreja e Torre dos Clérigos (Rua dos Clérigos), projectadas pelo italiano Nicolau Nasoni. Concluída em 1763, a torre é o símbolo do Porto e permite aos que se atrevem a escalar os seus 225 degraus uma vista de 360 graus sobre o centro histórico da cidade, que vale a classificação de Património Mundial da UNESCO.
Desse ponto observa-se a remodelada Avenida dos Aliados, um trabalho de Siza em parceria com o também reputado arquitecto português Eduardo Souto Moura. Os Aliados foram reestruturados de modo a acumularem a função de praça, para maior usufruto das pessoas. O granito é o material de eleição, em homenagem ao maciço rochoso em que assenta a cidade e que agradou a vários estilos arquitectónicos: Sé (românico), Igreja de São Francisco (gótico), Igreja da Misericórdia (renascentista), Clérigos (barroco), Palácio da Bolsa, Câmara Municipal e Hospital de Santo António (neoclássico), entre outros…
Não se despeça da cidade de Camilo e de Siza sem antes a ver do lado de fora. Desça os Aliados até à Estação de Comboios de São Bento (obrigatório cruzar a porta de entrada e babar com os 20 mil azulejos de Jorge Colaço), embrenhe-se no Porto mais medieval até ao rio, atravesse pela Ponte D. Luís (projectada pela equipa de Gustav Eiffel no século XIX) para a Ribeira de Gaia. Eleja uma das esplanadas das caves de Vinho do Porto. À sua frente, em cascata, o Porto espelha-se no Douro. O cinzento granítico mistura-se com tons ocres. De cortar a respiração!
Esta é a versão pré-adaptação ao português do Brasil...
O Porto de Camilo Castelo Branco
A cidade que inspirou o nome a Portugal tem séculos de argumentos para merecer uma visita. Vamos deter-nos no XIX e seguir o rasto do romancista e jornalista Camilo Castelo Branco. O Porto, que também emprestou o nome ao vinho, era por esta altura uma cidade mercantil, industrial, cosmopolita, revolucionária e romântica. O autor de “Amor de Perdição” e de “A Queda de um Anjo” alugou-a e contracenou com ela.
Da janela do quarto, Camilo Castelo Branco poderia, se quisesse, contar quantos barcos rabelos atracavam por dia no cais da Ribeira. Até serem substituídas pelo comboio, estas embarcações, que hoje encantam os turistas, desciam o Rio Douro carregadas de pipas de Vinho do Porto para armazenar nas caves de Vila Nova de Gaia (actualmente visitáveis). O vinho adoçava a boca aos ingleses e impelia a cidade a fazer justiça ao seu nome, sendo porto de chegada para as pipas provenientes do Alto Douro e de partida para as garrafas de Porto a exportar para Inglaterra. Tudo isto poderia Camilo confirmar porque estava preso na Cadeia da Relação numa cela voltada para o rio. Estávamos em 1860 e o escritor cumpria pena por adultério, no edifício em que pelo mesmo crime se encontrava também encarcerada a sua amada, Ana Plácido.
O bulício do Douro, que desagua no Porto, não seria distracção suficiente para o escritor, que encontrou no papel e no tinteiro melhor companhia. Hoje é possível conhecer esse espaço reduzido onde Camilo escreveu um dos seus mais afamados romances, “Amor de Perdição”, a história trágica de Simão e Teresa, inspirada no amor reprovado do escritor por Ana Plácido. A antiga cela de Camilo está aberta ao público bem como outras salas da Cadeia da Relação, transformada em Centro Português de Fotografia (cpf.pt, Campo Mártires da Pátria, entrada livre). Aí podemos espreitar por lentes arcaicas que congelaram momentos desde os primórdios da fotografia, admirar o espólio de um pioneiro fotógrafo e cineasta português, Aurélio da Paz dos Reis, e outras mostras que o centro vai rodando.
Recuar às primeiras experiências fotográficas, é viajar pelo século XIX, pelo romantismo artístico, político e filosófico em que encaixa a obra e a vida de Camilo. O escritor nasceu em Lisboa, em 1825, mas morou quase toda a sua vida no Norte de Portugal. O Porto foi palco de anos rebeldes: Camilo dividia-se entre inflamadas paixões e a boémia dos cafés e salões burgueses, onde era popular pelos seus escritos jornalísticos.
Descobrimos esse Porto burguês e romântico na encosta que se estende da Boavista ao rio. Descendo uma das suas estreitas ruas alcança-se o Museu Romântico (Rua de Entrequintas, 220, € 2 de terça a sexta, entrada livre aos sábados e domingos), alojado na Quinta da Macieirinha, reduto de férias da família Pinto Bastos, fundadora da conceituada fábrica de porcelanas Vista Alegre.
A casa envolta por jardins, denuncia quão forte era a presença britânica no Porto no século XIX, um pouco à boleia do comércio do vinho. O museu reconstitui a vivência da época, com móveis de diferentes estilos, que desvendam o eclectismo dos românticos. Testemunha-se igualmente a sua paixão pelo coleccionismo num quarto que exibe várias colecções. A ampla sala de baile deixa-nos imaginar saiotes a rodopiar em serões festivos e faustosos, ao som de Chopin ou Beethoven, autores certamente tocados nos dois pianos fortes Collard que permanecem no museu. Em algumas dessas festas participou o rei italiano Carlos Alberto de Piemonte e Sardenha, que esteve nesta casa exilado e nela faleceu em 1849.
Em frente à Quinta da Macieirinha fica a Quinta Tait (Rua de Entrequintas, 219), que abrigou várias famílias inglesas, como a do abastado negociante de Vinho do Porto William Tait. Mais tarde adquirida pela prefeitura, a casa mantém o traço romântico e acolhe exposições temporárias, merecendo uma visita também pelos seus perfumados jardins.
Colado à Quinta da Macieirinha fica outro legado do romântico, o Palácio de Cristal (Rua D. Manuel II), ou o que resta dele, já que o edifício, erguido em 1865, foi demolido em 1951, dando lugar ao pavilhão desportivo Rosa Mota. Camilo contestou a construção desse palácio que considerava o símbolo do Porto burguês e materialista. O imóvel original, assinado pelo inglês Thomas Dillen Jones, foi tal como o Palácio de Cristal de Petrópolis inspirado no Crystal Palace londrino. Actualmente o espaço atrai sobretudo pelos jardins românticos projectados pelo paisagista alemão Emílio David e pela moderna Biblioteca Almeida Garrett (outro escritor do romântico português).
O ponto final neste roteiro pelo Porto do século XIX pode ser temperado por um cálice da bebida que na época fermentou a cidade comercialmente, projectando-a no resto do mundo. Pode brindar à História e a Camilo, por exemplo, na Quinta da Macieirinha, onde também mora o Solar do Vinho do Porto. Das janelas deste bar/loja de vinho pode igualmente ver os rabelos a partir e a chegar. Em vez de vinho transportam agora turistas desejosos de o experimentar…
O Porto de Siza Vieira
O vencedor do Pritzker em 1992 conhece uma cidade empenhada em acordar depois da ditadura. O Porto de hoje tem o dedo de Álvaro Siza Vieira. A cidade onde o arquitecto trabalha preserva as heranças do passado, mas quer deixar marcas para o futuro. O projecto Porto Capital Europeia da Cultura 2001 agitou a cidade. O efeito continua contagiando vários sectores da vida da segunda maior urbe de Portugal.
Se a viagem pelo Porto de Camilo Castelo Branco pode terminar com um cálice do vinho licoroso que foi buscar o nome à cidade, é justo iniciar um percurso inspirado em Álvaro Siza Vieira com o mesmo copo na mão. O arquitecto português, é conhecido pelas formas que vai acrescentando ao espaço urbano, mas poucos sabem que é também o autor do copo oficial da bebida mais famosa de Portugal (à venda no Solar do Vinho do Porto). Assim é desde 2001, por encomenda do Instituto do Vinho do Porto. A peça de cristal Tritan mede 16,7 cm e é mais alta do que os até então copos usados para beber Vinho do Porto. No pé, o copo possui uma ligeira concavidade para indicar onde deve assentar o polegar, de modo a melhor movimentar e observar a bebida antes de lhe sentir o aroma e de a provar.
A experiência fica mais saborosa se a escassos metros de si estiver o mar, apenas filtrado por uma parede de vidro. Isto é possível na Casa de Chá da Boa Nova (Lugar da Boa Nova, Matosinhos), projectada por Siza Viera e concluída em 1963. O espaço parece ter sido cavado nos rochedos da Praia de Leça da Palmeira, uma das primeiras que encontra depois do Douro se render ao Atlântico. Quem visita o Porto dificilmente resiste a um desvio à cidade vizinha de Matosinhos para conhecer esta carismática obra de Siza. Aqui pode beber um Porto, um chá (a outra bebida, que os portugueses ensinaram os ingleses a gostar, através de Catarina de Bragança, esposa do rei Carlos II de Inglaterra) ou mesmo fazer uma refeição.
Ainda na praia de Leça da Palmeira, a convidá-lo para um mergulho, estão as Piscinas das Marés (Avenida da Liberdade, Matosinhos) também da autoria de Siza. A construção surge tal como a Casa de Chá camuflada entre os rochedos, como se não quisesse perturbar a Natureza. Antes tira partido dela, já que é da água salgada do Atlântico que se alimentam as piscinas.
Seguindo pela costa atlântica que nos leva até à Foz do Douro, já no Porto, faça escala no Parque da Cidade (Avenida da Boavista), uma conquista recente para a qualidade de vida dos portuenses. Idealizado pelo arquitecto paisagista Sidónio Pardal, o maior parque urbano do país é generoso em espaços verdes e lagos, sendo ideal para jogging, passear de bicicleta, ou simplesmente relaxar.
O recinto faz fronteira com a Boavista, zona de luxuosas vivendas que se estica até à Foz do Douro. Entre ambos está a Avenida da Boavista. Recomenda-se uma paragem a meio, não por se tratar da mais longa artéria da cidade, mas porque é imperioso visitar a Quinta de Serralves, onde está o Museu de Arte Contemporânea (serralves.pt, Rua D. João de Castro, 210), outra obra com o carimbo de Siza. O edifício branco, de linhas rectas e surpreendentes jogos de luz, concluído em 1999, alberga uma colecção permanente, que conta a evolução da arte desde a década de 60, e recebe mostras temporárias de arte contemporânea. O espaço é determinante no diálogo com outras instituições culturais, na projecção internacional da cidade, bem como na educação para a arte e na sedução de novos públicos.
O mesmo caminho parece trilhar a Casa da Música (casadamusica.com, Avenida da Boavista, 604-610), projectada por outro colosso da arquitectura actual, o holandês Rem Koolhaas. Este novo espaço, incontornável na programação musical da cidade, ficou pronto em 2005 e é já um ícone arquitectónico do Porto, justificando a visita guiada (€ 3).
A Casa da Música é um legado do Porto Capital Europeia da Cultura 2001, projecto que catalisou a revitalização de muitos espaços culturais e melhorias urbanísticas em zonas como a Praça Carlos Alberto ou o quarteirão do Jardim da Cordoaria. Os arranjos sublinharam a imponência da Igreja e Torre dos Clérigos (Rua dos Clérigos), projectadas pelo italiano Nicolau Nasoni. Concluída em 1763, a torre é o símbolo do Porto e permite aos que se atrevem a escalar os seus 225 degraus uma vista de 360 graus sobre o centro histórico da cidade, que vale a classificação de Património Mundial da UNESCO.
Desse ponto observa-se a remodelada Avenida dos Aliados, um trabalho de Siza em parceria com o também reputado arquitecto português Eduardo Souto Moura. Os Aliados foram reestruturados de modo a acumularem a função de praça, para maior usufruto das pessoas. O granito é o material de eleição, em homenagem ao maciço rochoso em que assenta a cidade e que agradou a vários estilos arquitectónicos: Sé (românico), Igreja de São Francisco (gótico), Igreja da Misericórdia (renascentista), Clérigos (barroco), Palácio da Bolsa, Câmara Municipal e Hospital de Santo António (neoclássico), entre outros…
Não se despeça da cidade de Camilo e de Siza sem antes a ver do lado de fora. Desça os Aliados até à Estação de Comboios de São Bento (obrigatório cruzar a porta de entrada e babar com os 20 mil azulejos de Jorge Colaço), embrenhe-se no Porto mais medieval até ao rio, atravesse pela Ponte D. Luís (projectada pela equipa de Gustav Eiffel no século XIX) para a Ribeira de Gaia. Eleja uma das esplanadas das caves de Vinho do Porto. À sua frente, em cascata, o Porto espelha-se no Douro. O cinzento granítico mistura-se com tons ocres. De cortar a respiração!
domingo, 3 de mayo de 2009
Pinceladas na memória
Não tenho assim um grande manancial de provérbios na ponta da língua, nem de tiradas de filósofos, mas há meia dúzia de frases, ou passagens que me ficam... Como o grito de resistência da Scarlet O' Hara em E tudo o vento levou: "Não vou preocupar-me com isso agora. preoucupar-me-ei amanhã porque amanhã é outro dia."
E no sábado quando revi pela terceira vez o filme sobre a vida de uma pintora de quem sou fã, Frida, atentei noutra. Qualquer coisa assim: "... mas nada disto interessa porque te amo cada vez mais e acho que me amas um bocadinho também e, mesmo que seja mentira, não vou deixar de ter esperança de que seja verdade."
E esta não é ficção, já que a Frida terá escrito isto mesmo a Diego Rivera, o pintor da vida dela.
E no sábado quando revi pela terceira vez o filme sobre a vida de uma pintora de quem sou fã, Frida, atentei noutra. Qualquer coisa assim: "... mas nada disto interessa porque te amo cada vez mais e acho que me amas um bocadinho também e, mesmo que seja mentira, não vou deixar de ter esperança de que seja verdade."
E esta não é ficção, já que a Frida terá escrito isto mesmo a Diego Rivera, o pintor da vida dela.
A1
Hoje fiz a viagem Porto-Lisboa na companhia do Camané... mais ou menos até Coimbra. Depois apeou-se e deu lugar ao Wim Mertens...
Fiquei presa à letra desta música. Foi a primeira vez que a entendi.
Camané, Sei de um rio
Sei de um rio
sei de um rio
em que as únicas estrelas
nele sempre debruçadas
são as luzes da cidade
Sei de um rio
sei de um rio
rio onde a própria mentira
tem o sabor da verdade
sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios
dá-me os lábios desse rio
que nasceu na minha sede
mas o sonho continua
E a minha boca até quando
ao separar-se da tua
vai repetindo e lembrando
sei de um rio
sei de um rio
Fiquei presa à letra desta música. Foi a primeira vez que a entendi.
Camané, Sei de um rio
Sei de um rio
sei de um rio
em que as únicas estrelas
nele sempre debruçadas
são as luzes da cidade
Sei de um rio
sei de um rio
rio onde a própria mentira
tem o sabor da verdade
sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios
dá-me os lábios desse rio
que nasceu na minha sede
mas o sonho continua
E a minha boca até quando
ao separar-se da tua
vai repetindo e lembrando
sei de um rio
sei de um rio
miércoles, 29 de abril de 2009
Em pontas
Curioso como o tempo nos faz esquecer ao ponto de já nem percebermos o que antes nos fazia sofrer.
Ainda estremeço, mas agora com um sorriso, quando ouço a Marcha Radeski de Strauss.
Durante algum tempo tive pesadelos. Mais do que uma vez sonhei com sabrinas de fitas de cetim, com saltos e piruetas... Às tantas gritava, acordava, percebia que já nada disso fazia parte de mim e duvidava se algum dia voltaria a fazer. E não sei se gritava antes ou depois de o perceber.
Só fiz ballet durante um ano e foi um capricho, ou um gosto que começou a nascer nas páginas do livro da Anita, ou numa telenovela brasileira. Não me recordo bem... Carina de Limeira Brandão chamava-se a personagem: uma bailarina que deixara de o ser porque sofrera um acidente. Mas várias vezes dançou nessa novela. E já não sei se foi a magia das pontas, se a graça do tutu, ou o porte de princesa, ou os desenhos no ar quase em câmara lenta, mas essas imagens transformaram-se em desejo.
A minha primeira professora foi a Anita: imitava-a nas cinco posições ilustradas no meu livro preferido na altura. A palhaçada deve ter sido o suficiente para convencer os meus pais a matricularem-me na Parnaso (a arte pela arte!). Procurei com os meus dedos (foi mesmo através das páginas amarelas) o local onde queria aprender a suster-me na ponta dos pés.
Durante um ano vivi esse sonho cor-de-rosa (as meias e as sabrinas) e branco (fato de ballet). E nem a voz algo militar do Professor César, nem a exigência constante de disciplina e rigor ensombravam as tardes de terça, quinta e sábado. Sentia-me na ponta dos pés, mesmo sem nunca ter chegado a fazer pontas perfeitas!
Começávamos com exercícios de aquecimento na barra. Umas 30 meninas a ensaiar movimentos de cisne. Sim, naquela altura, já todas ambicionávamos ser cisnes! O cisne do lago!
Percebi que as cinco posições básicas não eram estanques como no livro. Deslizávamos da primeira para a segunda e depois para a terceira... A Anita não conseguiu ensinar-me isso! Nem os galopes do cavalo, nem as variantes em plié, nem o "parte e pouca" (deve ser outra coisa, mas recordo-me de ouvir o César chamar-lhe assim), que se treinava individualmente, primeiro, e depois com o par...
E recordo-me do êxtase dos ensaios da coreografia da Marcha Radeski, que apresentámos depois na festa de final de ano lectivo, no Auditório Carlos Alberto. A minha primeira vez em palco! Tinha nove anos e achava que o ballet era coisa séria, coisa para continuar...
Mas não foi porque no ano seguinte entrei para a escola Preparatória e o horário já não me permitia ir às aulas na Parnaso. Ir para outra escola era andar de cavalo para burro. Ficou combinado que adiaria o sonho até que fosse possível... Adiei para sempre...
Nas fotografias dos anos que se seguiram às aulas na Parnaso, os meus pés ainda posavam em primeira posição. Lembro-me das outras também sempre que escuto a marcha Radeski de Strauss. E acho que ainda conseguiria reproduzir os primeiros passos da coreografia...
PS: Imagino 40 anos na ponta dos pés da Maximova, a antiga prima-bailarina do teatro Bolshoi que morreu ontem...
Ainda estremeço, mas agora com um sorriso, quando ouço a Marcha Radeski de Strauss.
Durante algum tempo tive pesadelos. Mais do que uma vez sonhei com sabrinas de fitas de cetim, com saltos e piruetas... Às tantas gritava, acordava, percebia que já nada disso fazia parte de mim e duvidava se algum dia voltaria a fazer. E não sei se gritava antes ou depois de o perceber.
Só fiz ballet durante um ano e foi um capricho, ou um gosto que começou a nascer nas páginas do livro da Anita, ou numa telenovela brasileira. Não me recordo bem... Carina de Limeira Brandão chamava-se a personagem: uma bailarina que deixara de o ser porque sofrera um acidente. Mas várias vezes dançou nessa novela. E já não sei se foi a magia das pontas, se a graça do tutu, ou o porte de princesa, ou os desenhos no ar quase em câmara lenta, mas essas imagens transformaram-se em desejo.
A minha primeira professora foi a Anita: imitava-a nas cinco posições ilustradas no meu livro preferido na altura. A palhaçada deve ter sido o suficiente para convencer os meus pais a matricularem-me na Parnaso (a arte pela arte!). Procurei com os meus dedos (foi mesmo através das páginas amarelas) o local onde queria aprender a suster-me na ponta dos pés.
Durante um ano vivi esse sonho cor-de-rosa (as meias e as sabrinas) e branco (fato de ballet). E nem a voz algo militar do Professor César, nem a exigência constante de disciplina e rigor ensombravam as tardes de terça, quinta e sábado. Sentia-me na ponta dos pés, mesmo sem nunca ter chegado a fazer pontas perfeitas!
Começávamos com exercícios de aquecimento na barra. Umas 30 meninas a ensaiar movimentos de cisne. Sim, naquela altura, já todas ambicionávamos ser cisnes! O cisne do lago!
Percebi que as cinco posições básicas não eram estanques como no livro. Deslizávamos da primeira para a segunda e depois para a terceira... A Anita não conseguiu ensinar-me isso! Nem os galopes do cavalo, nem as variantes em plié, nem o "parte e pouca" (deve ser outra coisa, mas recordo-me de ouvir o César chamar-lhe assim), que se treinava individualmente, primeiro, e depois com o par...
E recordo-me do êxtase dos ensaios da coreografia da Marcha Radeski, que apresentámos depois na festa de final de ano lectivo, no Auditório Carlos Alberto. A minha primeira vez em palco! Tinha nove anos e achava que o ballet era coisa séria, coisa para continuar...
Mas não foi porque no ano seguinte entrei para a escola Preparatória e o horário já não me permitia ir às aulas na Parnaso. Ir para outra escola era andar de cavalo para burro. Ficou combinado que adiaria o sonho até que fosse possível... Adiei para sempre...
Nas fotografias dos anos que se seguiram às aulas na Parnaso, os meus pés ainda posavam em primeira posição. Lembro-me das outras também sempre que escuto a marcha Radeski de Strauss. E acho que ainda conseguiria reproduzir os primeiros passos da coreografia...
PS: Imagino 40 anos na ponta dos pés da Maximova, a antiga prima-bailarina do teatro Bolshoi que morreu ontem...
martes, 28 de abril de 2009
O bom, os maus e os vilões
"O que mais custa não é o que nos mandam fazer (matar na guerra da Coreia), mas sim o que não nos mandam fazer"... Foi uma das saídas do "bom" interpretado por Clint Eastwood no Gran Torino.
Maus mandadores fazem dos que obedecem vilões...
Gostei do Gran Torino.
Maus mandadores fazem dos que obedecem vilões...
Gostei do Gran Torino.
viernes, 24 de abril de 2009
Procura-se!
Comprei uma reprodução deste cartaz da Vieira da Silva há uns anos e não sei onde o pus...
Nos dois meses de ditadura que testemunhei andava entretida com sestas e biberões... Mas acho que imagino a euforia daquele Abril e esta é a imagem que para mim mais facilmente a projecta.
E não entendo, apesar de tudo, quem prefere celebrar o 24 de Abril. Eu sou das que comemoro o 25 porque gerir mal a Liberdade é sempre mais doce do que não ter Liberdade alguma para gerir...
Nos dois meses de ditadura que testemunhei andava entretida com sestas e biberões... Mas acho que imagino a euforia daquele Abril e esta é a imagem que para mim mais facilmente a projecta.
E não entendo, apesar de tudo, quem prefere celebrar o 24 de Abril. Eu sou das que comemoro o 25 porque gerir mal a Liberdade é sempre mais doce do que não ter Liberdade alguma para gerir...
Esquecerem-se da outra metade
Na véspera em que se assinala o dia que permitiu que os seguintes fossem dias de liberdade, apetece-me escrever sobre a que me autoriza a estar agora a teclar assim, sem freio... sem o freio externo, porque do nosso nunca nos livramos!
Isto porque ontem disse a mais um colega o que já disse a outros quando acreditava neles ou na vontade deles... Disse-lhe que se queria ser jornalista, não desistisse do jornalismo e senti o que já tinha sentido outras vezes: que o apunhalava pelas costas... porque só uma parte de mim acredita no que estava a dizer... a outra metade teme que insistir não seja suficiente... porque conheço mais finais infelizes do que permanências felizes no jornalismo...
Temos Liberdade e até temos a liberdade de não saber arcar com as consequências da Liberdade e essa já é talvez liberdade a mais. Ou talvez nos falte interiorizar que a Liberdade pesa mais sobre as nossas costas do que a sua ausência. Esqueceram-se de conquistar metade da Liberdade, esqueceram-se da responsabilidade que a dignifica.
E no jornalismo essa metade está escancaradamente ausente. Temos agora mais órgãos de comunicação, temos blogues, temos por onde escolher... Mas temos também muito do mesmo. Temos redacções mal geridas e jornalistas sem pingo de criatividade e/ou de ética. Incompetência paga a peso de ouro (incompetência remunerada é sempre demasiado bem paga)! Temos gente dessa em trânsito de redacção em redacção a minar a vontade de quem quer fazer melhor, de quem sabe fazer diferente, de quem um dia deixa de insistir, a quem desarmam... E é quase sempre nesses incompetentes do costume que apostam os investidores (incompetentes) do costume...
Há uns anos fui a uma entrevista no Jornal de Negócios... Não tinham lido um texto meu, nem me pediram para ler. Perguntaram-me pela minha agenda de contactos na área de energia e sobre o meu currículo. Era-lhes indiferente, aparentemente, o meu eventual talento, as minhas motivações para estar na profissão, as propostas de temas a explorar. De mim não queriam nada de novo, queriam pouco de mim, queriam que fizesse provavelmente umas quantas chamadas por dia e escrevesse a partir delas... porque dessas caixas preguiçosas vivem ainda muitas páginas de jornais, resolvem o dia de escrivas de quem não sai uma ideia de notícia, nem uma abordagem diferente, nem um raciocínio capaz de ir buscar a notícia ao miolo de uma conversa de café, à passagem de um livro, ao detalhe camuflado pelo protagonismo da actualidade... Os que babam pelo press release e pelos segredos (estrategicamente libertados) em conversas de bastidores estão pouco empenhados em empregar ou gerir alguém que ouse propor, raciocinar sobre outras possibilidades, sem estar refém da actualidade e da sacro-santa agendinha de contactos...
Essa é a tal responsabilidade do jornalismo, a de não ir só pelo caminho mais óbvio. A de contar outras verdades, outras histórias, de gerar outros interesses, de alargar as vistas do receptor, de o fazer questionar, despertar-lhe outras curiosidades. Essa responsabilidade de que a liberdade também é feita está em esquecimento ou em progressiva letargia.
"i" num instante tudo muda? http://www.inuminstantetudomuda.com/#/home
Espero que mude mesmo, espero que melhore! Aguardo por esse novo projecto jornalístico "i" com essa expectativa!
Numa interessante e para mim reveladora entrevista que Emídio Rangel deu esta semana à Antena 1, recordou outro instante em que muita coisa mudou, o instante em que nasceu a TSF. Para mim ainda o melhor órgão de informação em exercício em Portugal. Também o aparecimento da SIC mudou muita coisa na informação, como também recordou Rangel, acabando com a hegemonia do ângulo estatal que a RTP daquele tempo privilegiava... mas disso eu não me lembro... tinha pouca maturidade jornalística na época e ainda menos consciência política. Mas gostei de saber que antes da TSF se tinha que agendar com os deputados da Assembleia da República o dia em que eles responderiam à pergunta e que com a TSF a actualidade ganhou uma definição mais fiel a si própria e os deputados uma nova "destreza mental", capaz de reagir ao directo, em directo!
A inteligente estratégia de promoção do "i" é também inquietante! "i" num estante muda tudo!
PS: Há uns dias escrevia que ainda não sabia o que fazer com isto, com este blogue hermafrodita, entalado entre um quase jornal e um quase confessionário de tom moralista ou redentor. Continuo a não saber e a sentir-me desconfortável com isso... porque dizer a verdade é uma coisa. No instante seguinte, já passou! Mas escrever a verdade é bem diferente. A escrita grava como num fóssil o pensamento, mesmo quando até o autor já não pensa mais o mesmo.
Isto porque ontem disse a mais um colega o que já disse a outros quando acreditava neles ou na vontade deles... Disse-lhe que se queria ser jornalista, não desistisse do jornalismo e senti o que já tinha sentido outras vezes: que o apunhalava pelas costas... porque só uma parte de mim acredita no que estava a dizer... a outra metade teme que insistir não seja suficiente... porque conheço mais finais infelizes do que permanências felizes no jornalismo...
Temos Liberdade e até temos a liberdade de não saber arcar com as consequências da Liberdade e essa já é talvez liberdade a mais. Ou talvez nos falte interiorizar que a Liberdade pesa mais sobre as nossas costas do que a sua ausência. Esqueceram-se de conquistar metade da Liberdade, esqueceram-se da responsabilidade que a dignifica.
E no jornalismo essa metade está escancaradamente ausente. Temos agora mais órgãos de comunicação, temos blogues, temos por onde escolher... Mas temos também muito do mesmo. Temos redacções mal geridas e jornalistas sem pingo de criatividade e/ou de ética. Incompetência paga a peso de ouro (incompetência remunerada é sempre demasiado bem paga)! Temos gente dessa em trânsito de redacção em redacção a minar a vontade de quem quer fazer melhor, de quem sabe fazer diferente, de quem um dia deixa de insistir, a quem desarmam... E é quase sempre nesses incompetentes do costume que apostam os investidores (incompetentes) do costume...
Há uns anos fui a uma entrevista no Jornal de Negócios... Não tinham lido um texto meu, nem me pediram para ler. Perguntaram-me pela minha agenda de contactos na área de energia e sobre o meu currículo. Era-lhes indiferente, aparentemente, o meu eventual talento, as minhas motivações para estar na profissão, as propostas de temas a explorar. De mim não queriam nada de novo, queriam pouco de mim, queriam que fizesse provavelmente umas quantas chamadas por dia e escrevesse a partir delas... porque dessas caixas preguiçosas vivem ainda muitas páginas de jornais, resolvem o dia de escrivas de quem não sai uma ideia de notícia, nem uma abordagem diferente, nem um raciocínio capaz de ir buscar a notícia ao miolo de uma conversa de café, à passagem de um livro, ao detalhe camuflado pelo protagonismo da actualidade... Os que babam pelo press release e pelos segredos (estrategicamente libertados) em conversas de bastidores estão pouco empenhados em empregar ou gerir alguém que ouse propor, raciocinar sobre outras possibilidades, sem estar refém da actualidade e da sacro-santa agendinha de contactos...
Essa é a tal responsabilidade do jornalismo, a de não ir só pelo caminho mais óbvio. A de contar outras verdades, outras histórias, de gerar outros interesses, de alargar as vistas do receptor, de o fazer questionar, despertar-lhe outras curiosidades. Essa responsabilidade de que a liberdade também é feita está em esquecimento ou em progressiva letargia.
"i" num instante tudo muda? http://www.inuminstantetudomuda.com/#/home
Espero que mude mesmo, espero que melhore! Aguardo por esse novo projecto jornalístico "i" com essa expectativa!
Numa interessante e para mim reveladora entrevista que Emídio Rangel deu esta semana à Antena 1, recordou outro instante em que muita coisa mudou, o instante em que nasceu a TSF. Para mim ainda o melhor órgão de informação em exercício em Portugal. Também o aparecimento da SIC mudou muita coisa na informação, como também recordou Rangel, acabando com a hegemonia do ângulo estatal que a RTP daquele tempo privilegiava... mas disso eu não me lembro... tinha pouca maturidade jornalística na época e ainda menos consciência política. Mas gostei de saber que antes da TSF se tinha que agendar com os deputados da Assembleia da República o dia em que eles responderiam à pergunta e que com a TSF a actualidade ganhou uma definição mais fiel a si própria e os deputados uma nova "destreza mental", capaz de reagir ao directo, em directo!
A inteligente estratégia de promoção do "i" é também inquietante! "i" num estante muda tudo!
PS: Há uns dias escrevia que ainda não sabia o que fazer com isto, com este blogue hermafrodita, entalado entre um quase jornal e um quase confessionário de tom moralista ou redentor. Continuo a não saber e a sentir-me desconfortável com isso... porque dizer a verdade é uma coisa. No instante seguinte, já passou! Mas escrever a verdade é bem diferente. A escrita grava como num fóssil o pensamento, mesmo quando até o autor já não pensa mais o mesmo.
jueves, 16 de abril de 2009
Se não me ligas já, vou aí e dou-te um beijo!
As telenovelas brasileiras trataram de democratizar a expressão "amo-te" ainda que na versão mais melosa "tchi amo", mas o serviço de SMS dos telemóveis, os chats e outros conversadores em tempo real (tipo Messenger), as redes sociais Hi5, Facebook e afins massificaram a coisa... Os adolescentes vão coleccionando umas dezenas de "amo-te" nos mais diversos suportes, mais ou menos escancarados!
A minha colecçãozinha é bem mais modesta e discreta, mas guardo cada "amo-te" numa gaveta privilegiada da memória, mesmo os que não retribuí, os que disse em silêncio, os que sairam fora de tom e de tempo, ... Uns são só meus e alguns são apenas nossos. E destes "amo-te" haverá sempre, mas há agora também muitos dos outros, dos mais despojados! E eu não tenho nada contra, ou melhor... quase nada. É que o reverso desta generosidade e espontaneidade verbal chama-se angústia... Aguarda-se agora muito mais por esses "amo-te". O SMS, o telemóvel, o Hi5 e outros que tal multiplicaram exponencialmente a ansiedade ou as oportunidades para a acordar. O SMS que não chega, o telemóvel que não toca... Julgo que ser adolescente (e não só) ficou ainda mais difícil...
As recentes tecnologias são agentes disseminadores do "amo-te", mas também da angústia...
Dei comigo comigo a pensar (como se não estivesse em semana de fecho de edição*) que o antídoto para isto pode muito bem ser inspirado numa ameaça que um ex-professor de história meu costumava usar: "Se não te calas já, vou aí e dou-te um beijo". E ninguém nunca pagou para ver!... Afinal quantas vezes não seria o caso de gritar "Se não me ligas/mandas uma mensagem já, vou aí e dou-te um beijo!" Se corresse mal, correria sempre bem... a curto prazo!
* esta minha tendência para o devaneio quando tenho textos daqueles remunerados para escrever é o equivalente à vontade de fazer limpezas que costumava assaltar-me em vésperas de teste!
PS: A invasora da intimidade das pedras fui eu, em Paris... Quem disse que as pedras não falam?
A minha colecçãozinha é bem mais modesta e discreta, mas guardo cada "amo-te" numa gaveta privilegiada da memória, mesmo os que não retribuí, os que disse em silêncio, os que sairam fora de tom e de tempo, ... Uns são só meus e alguns são apenas nossos. E destes "amo-te" haverá sempre, mas há agora também muitos dos outros, dos mais despojados! E eu não tenho nada contra, ou melhor... quase nada. É que o reverso desta generosidade e espontaneidade verbal chama-se angústia... Aguarda-se agora muito mais por esses "amo-te". O SMS, o telemóvel, o Hi5 e outros que tal multiplicaram exponencialmente a ansiedade ou as oportunidades para a acordar. O SMS que não chega, o telemóvel que não toca... Julgo que ser adolescente (e não só) ficou ainda mais difícil...
As recentes tecnologias são agentes disseminadores do "amo-te", mas também da angústia...
Dei comigo comigo a pensar (como se não estivesse em semana de fecho de edição*) que o antídoto para isto pode muito bem ser inspirado numa ameaça que um ex-professor de história meu costumava usar: "Se não te calas já, vou aí e dou-te um beijo". E ninguém nunca pagou para ver!... Afinal quantas vezes não seria o caso de gritar "Se não me ligas/mandas uma mensagem já, vou aí e dou-te um beijo!" Se corresse mal, correria sempre bem... a curto prazo!
* esta minha tendência para o devaneio quando tenho textos daqueles remunerados para escrever é o equivalente à vontade de fazer limpezas que costumava assaltar-me em vésperas de teste!
PS: A invasora da intimidade das pedras fui eu, em Paris... Quem disse que as pedras não falam?
martes, 14 de abril de 2009
Para exorcizar o sonho
Esta coisa da terra mexer mexe um bocadinho comigo também.
Na semana passada mexeu em Itália, onde já tinha mexido há uns anos, mesmo no Verão em que eu fiz o Interrail e andei a brincar ao esconde-esconde com os tremores de terra (que aconteciam no Sul quando eu estava no Norte de Itália e vice-versa). Em 1755 também mexeu em Lisboa e paira sempre a ameaça de que pode mexer outra vez, a qualquer momento. E se mexer?
Tenho um desejo perverso (daqueles de que não deveria nem falar, mas falo porque acho que assim o exorcizo) de que mexa mesmo. Que mexa mesmo e que me resolva o problema que muito bem me diagnosticou um médico há uns anos numa consulta "estranha" de medicina no trabalho. Conversámos durante muito tempo, como se ele quisesse radiografar parte da minha alma, e a certa altura, inesperadamente, dispara uma pergunta que soava a sentença: "Lida muito mal com a perda, não lida?" Foi mais ou menos como se ele tivesse accionado o "botão de fazer chorar" e ao mesmo tempo escondesse o "botão de fazer um buraquinho no chão para eu desaparecer num instante" porque eu juro que não o encontrei...
O tremor de terra dos meus sonhos (deveria chamar-lhes pesadelos) resolvia-me este meu problema. De uma assentada desaparecíamos todos juntos: eu e as pessoas que eu não quero perder... Para ser perfeito isto aconteceria daqui a muitas décadas, na altura em que é digno desaparecermos todos...
PS: Curiosamente quando andava à procura de casa para comprar, cheguei a perguntar se a construção era anti-sísmica e como me poderia certificar de tal. Vi as expressões faciais mais espantadas nessa fase das conversações, como se estivesse a perguntar se a casa estava preparada para acolher marcianos. As respostas (ausência delas) foram bastante preocupantes e eu comprei casa na mesma sem qualquer garantia de que a construção (de 1980) é anti-sísmica. Acresce que as seguradoras não incluem a modalidade "sismos" nos seguros de habitação. Essa modalidade requer um seguro específico e chorudo que ainda não fiz....
Na semana passada mexeu em Itália, onde já tinha mexido há uns anos, mesmo no Verão em que eu fiz o Interrail e andei a brincar ao esconde-esconde com os tremores de terra (que aconteciam no Sul quando eu estava no Norte de Itália e vice-versa). Em 1755 também mexeu em Lisboa e paira sempre a ameaça de que pode mexer outra vez, a qualquer momento. E se mexer?
Tenho um desejo perverso (daqueles de que não deveria nem falar, mas falo porque acho que assim o exorcizo) de que mexa mesmo. Que mexa mesmo e que me resolva o problema que muito bem me diagnosticou um médico há uns anos numa consulta "estranha" de medicina no trabalho. Conversámos durante muito tempo, como se ele quisesse radiografar parte da minha alma, e a certa altura, inesperadamente, dispara uma pergunta que soava a sentença: "Lida muito mal com a perda, não lida?" Foi mais ou menos como se ele tivesse accionado o "botão de fazer chorar" e ao mesmo tempo escondesse o "botão de fazer um buraquinho no chão para eu desaparecer num instante" porque eu juro que não o encontrei...
O tremor de terra dos meus sonhos (deveria chamar-lhes pesadelos) resolvia-me este meu problema. De uma assentada desaparecíamos todos juntos: eu e as pessoas que eu não quero perder... Para ser perfeito isto aconteceria daqui a muitas décadas, na altura em que é digno desaparecermos todos...
PS: Curiosamente quando andava à procura de casa para comprar, cheguei a perguntar se a construção era anti-sísmica e como me poderia certificar de tal. Vi as expressões faciais mais espantadas nessa fase das conversações, como se estivesse a perguntar se a casa estava preparada para acolher marcianos. As respostas (ausência delas) foram bastante preocupantes e eu comprei casa na mesma sem qualquer garantia de que a construção (de 1980) é anti-sísmica. Acresce que as seguradoras não incluem a modalidade "sismos" nos seguros de habitação. Essa modalidade requer um seguro específico e chorudo que ainda não fiz....
lunes, 13 de abril de 2009
Outro ensaio sobre outra cegueira
Quando procurava o "Vamos ao circo" dos Sitiados, apanhei este vídeo, com uma das minhas músicas preferidas dessa banda.
A letra vale mesmo assim a seco. *
«e ela cega
e ela sabe
ai onde vai
e ela cai
mas ao cair
finge-se cega
e ela entrega
sente o fundo
de quem a tem
e ela vem
sem que alguém
sinta chegar
e ela dor
deixa-te só
faz-te chorar
ela ensina
ela engana
ai a saudade
e o desejo
de mais um beijo
tocar a mão
e se ela existe
ela resiste
mesmo se os olhos
dizem que não
ela insiste
espera em vão
mas ela é vida
triste a vida
sem ela»
* mas ganha com a música e com a voz de fado roqueiro que o João Aguardela tinha.
A letra vale mesmo assim a seco. *
«e ela cega
e ela sabe
ai onde vai
e ela cai
mas ao cair
finge-se cega
e ela entrega
sente o fundo
de quem a tem
e ela vem
sem que alguém
sinta chegar
e ela dor
deixa-te só
faz-te chorar
ela ensina
ela engana
ai a saudade
e o desejo
de mais um beijo
tocar a mão
e se ela existe
ela resiste
mesmo se os olhos
dizem que não
ela insiste
espera em vão
mas ela é vida
triste a vida
sem ela»
* mas ganha com a música e com a voz de fado roqueiro que o João Aguardela tinha.
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