miércoles, 29 de diciembre de 2010

Dulcineia

História da Arte é o curso que irei fazer mais tarde ou mais cedo...Como sou hedonista e não me custa nada ler mais sobre, bisbilhotar sobre, visitar museus, exposições... é um curso que vou fazendo. Os pseudo testes psico-técnicos do nono ano apontavam para aí... Já se sabe que não é difícil condicionar as respostas no sentido dos resultados desejados... Mas, embora gostasse de ser conotada com essa área (devo ter lido demasiado sobre aquarianos), do alto da maturidade dos meus 14/15 anos não me via a trabalhar directamente em Artes e decidi que haveria de seguir saúde. Afinal quisera ser pediatra durante a minha infância (e bailarina), não tinha que fugir à Matemática, a "medicina" parecia ser um bom plano, aplaudido pela família chegada, e a maioria dos meus amigos também ia seguir saúde (esse foi, percebi mais tarde, o fiel da balança, que é como quem diz, o hedonismo e o curto prazo a pesarem mais).

O problema é que me engano muito mal e não foi preciso muito para enfrentar o que já sabia: estava no curso errado. Não queria ser médica coisa nenhuma (a Grey's Anatomy não passava na época!). As minhas disciplinas preferidas eram Português, Inglês e Filosofia (já não tinha Educação Visual) e as notas saíam em conformidade. Uma péssima professora de Matemática e um desajeitado professor de Física e Química, que tornavam obrigatório o fastidioso estudo por conta própria (sempre adorei aulas, mas em casa encontrava sempre melhor maneira de passar o tempo do que a estudar), contribuíram para o meu desinteresse crescente sobre essas matérias. Em contrapartida, rejubilava com a professora de Português (acho que já escrevi sobre a Angélica aqui e se não o fiz, deveria tê-lo feito, já que a Senhora foi determinante no meu percurso), que me incentivava a "mudar de vida". Foi o que fiz e não me arrependo.
Escrever continua a dar-me prazer. Fazê-lo no papel de jornalista permite-me conhecer pessoas, lugares e histórias interessantes (também acho que já escrevi isto algures por aqui, mas eu autorizo-me a ser repetitiva). E mais importante do que tudo o resto: ainda não me lembrei de nada de que gostasse de fazer mais.
Quando surge alguma ameaça nesse sentido vem precisamente do lado das Artes (ia, sem pestanejar, dirigir o gabinete de comunicação de Serralves)...
Poderia ter optado por recordar "The Fallen Madonna With the Big Boobies", que andou de mãos em mãos na saga do "Allo, Allo", mas não resisti à introspecção como prefácio à única notícia que li na totalidade durante a minha ronda pelo mundo de papel digital...
(para quem não partilhar do meu entusiasmo, abrevio: a notícia versa sobre os quadros roubados que mais infrutífero trabalho têm dado à polícia espanhola)
E nunca se sabe, se um dia tropeçaremos num destes...
A polícia espanhola, talvez pouco crente na sua recuperação, colocou-os numa base de dados a que chama Dulcineia!



Adenda: Claro que tenho esperança que alguém em Serralves chegue a este post e decida testar o meu potencial!
E se não chegarem até mim assim, é porque alguém no gabinete de comunicação não está a fazer o trabalho como deveria ;-)
E não, não estou armada em D. Quixote!

lunes, 27 de diciembre de 2010

Podia bem ser cozido à portuguesa e fado

Já não me lembro se foi em 2009 ou em 2008 que vi "O segredo de um cuscuz" pela primeira vez. Revi-o no sábado e reforcei a minha convicção contra as generalizações e contra os preconceitos.

É este o tipo de cinema que justifica um subsídio. De repente, conhecemos melhor uma família de imigrantes, de repente conseguimos estar nesta família de emigrantes, porque algures já sentimos na pele como a discriminação corrói.

Nem todos podem viajar e conhecer outros povos, mas o cinema, como a literatura, como a Internet, deixam-nos sem desculpa para dizer coisas como "os muçulmanos são assim, os brasileiros são assado..."

Se olharmos mais de perto, nos defeitos e nas virtudes, somos menos diferentes do que parecemos. As diferenças culturais não interferem no carácter.

Mas, muitas vezes, é também a arte que ajuda a perpetuar o preconceito, a generalização, mesmo quando o faz encapotada de humor. Lembro-me da caricatura, quanto a mim preguiçosa, aos japoneseses, num filme de que até gostei muito, o "Lost in translation"... Outro exemplo é o da imagem da "família à portuguesa" no "Love actually", ainda por cima de influência italiana, porque os homens portugueses não costumam beijar-se na face (Lúcia podias tê-los poupado a esse lapso!). É que até uma caricatura deve basear-se num fundo de verdade e também me custa que seja apenas básica, como se para caricaturar fosse dispensável a imaginação.

jueves, 16 de diciembre de 2010

viernes, 3 de diciembre de 2010

miércoles, 1 de diciembre de 2010

Declaração de independência! A minha.

A coerência é um desafio que dá um trabalho danado e valentes dores na consciência! Quando me dá para deslizar para a moralização, também acontece tropeçar nos estilhaços dos meus telhados de vidro!
Às vezes a coisa corre muito bem, como quando decidi comprar casa. Depois de sujeitar o meu “sócio” a uma argumentação quilométrica sobre como chega a ser quase indecente comprar casa nova nesta Lisboa de centro histórico moribundo… Pelo contrário, comprar em segunda ou décima quinta mão é contribuir para a preservação do edificado, desperdiçando menos recursos, porque não podemos estar sempre a criticar os prédios devolutos, as fachadas seculares em decadência e depois, na hora de intervir, preferimos uma casa num prédio novinho em folha, quase sempre encavalitado noutros velhos ou novos, sem comércio e sem jardins à volta, sem espaço para circular, sem espaço para estacionar, que é assim que se constroem a maioria dos novos prédios (acessíveis a bolsas como a minha) na Lisboa onde ainda há espaço… E acautelei também que ir para os arredores de Lisboa é acentuar o “efeito dormitório” e a desertificação do coração da cidade… Que não queria passar boa parte da minha vida em transportes públicos e que já sou deslocada da família, pelo que não era justo que também me sentisse deslocada dos amigos e da vida de que usufruo por estar em Lisboa. Que Lisboa só para trabalhar não tem graça nenhuma…
Não sei bem se foi mérito da minha choradeira, capaz de derreter o bronze ao Oscar, se da providencial clarividência do meu pai, que nos alertou para os potenciais problemas que prédios com dezenas de condóminos prometem, mas lá acabamos por eleger um apartamento usado no pitoresco (leia-se caótico) bairro dos Anjos, a dois passos da linha do afamado 28, que volta e meia suspende a marcha, momento, quase sempre longo, patrocinado por um incauto condutor que estaciona na esquina de que o eléctrico precisa para fazer a curva.
Sim, que as juntas e a CML pouco têm feito para travar a vontade de fugir dos moradores que ainda resistem em Lisboa… E isto da consciência é um luxo que nem sempre podemos autorizar…
No domínio casa, a minha consciência e a minha coerência passaram com distinção, mas não é bem assim noutros parâmetros…
Eu embirro com a maioria da nova construção em Lisboa quase tanto como me envergonho do modelo de centros comerciais à la Belmiro, que se multiplicam por este Portugal soalheiro, e no entanto passo a vida a prevaricar. Em Lisboa nem por isso, já que opto pela Baixa, para a qual consigo ir a pé, mas no Porto custa-me mais evitá-los, ou porque determinada loja não existe noutro sítio, ou porque me desafiam, ou porque eu desafio, ou porque faz frio, ou porque faz calor, ou porque o IKEA é uma âncora de peso…
E ontem, em conversa com outra portuguesa e com uma galega, a certa altura, comentávamos que no quarteirão Saldanha/Picoas há a maior concentração de centros comerciais do mundo (cinco) e esse deverá provavelmente ser um título vitalício (duvido que se repita tamanha estupidez), do qual não devemos orgulhar-nos. E toca a defender que o único conceito de centro comercial que considero tolerável é o do Fórum de Aveiro, onde as lojas têm direito a rua, mas esta não dispensa um generoso passeio coberto, que intercede contra a chuva e contra o sol…
Daqui à conversa sobre a necessidade da imparcialidade no jornalismo foi um passinho, porque às tantas digo que me apeteceria perguntar a quem de direito se têm consciência de que autorizam sem freio sucessivos caixotes de consumo, se não pensam nas consequências… Bem sei que o mercado ainda lhes dá razão e que edifícios monstruosos como o Colombo já ganharam prémios internacionais… E que as batatas fritas também fazem mal e não vamos por isso crucificar quem as produz…
Por outro lado, não é por comer batatas fritas que me vou esquecer de que fazem mal. Como também não será por ter imensa dificuldade em ser coerente, que me vou demitir de ter opinião. E, em última análise, não será por ser jornalista que o farei. E é aqui que se instala a confusão: venderam-me a imparcialidade quase como uma negação da capacidade crítica e frequentemente a confundem com ética.
A imparcialidade, da forma como eu a entendo, não existe, a não ser no formato notícia de agência, o tal que apenas responde ao “quem, quando, onde e o quê” e aflora factualmente o “como e o porquê”. Num artigo mais alargado e com alguma análise a coisa complica-se porque uma coisa é tentar ouvir todas as partes implicadas, pesquisar exaustivamente o tema, o dever de relatar a verdade, outra coisa é prescindir de sentido crítico e deixar de perguntar, de questionar, por temer denunciar que se tem esta ou aquela opinião…
O jornalismo em que eu acredito deve ter causas. Os jornais, as revistas e os demais órgãos, não prescindindo das obrigações éticas, nem do compromisso com a verdade e com a justiça, devem deixar claro o que defendem, e não estou a falar de cores políticas, estou a falar de princípios políticos, de opções editoriais claras. Se a aposta é a sustentabilidade, por exemplo, todos os artigos devem sempre que possível dar resposta às preocupações do leitor nesse domínio. Ou seja, não se trata de não noticiar mais um campo de golfe, mas sim de o fazer com o cuidado de analisar que consequências terá para a comunidade e para o país numa perspectiva de sustentabilidade, ou seja, de longo prazo. Acredito mais neste jornalismo do que noutro qualquer. Acredito mais neste tipo de fidelização de leitores (por identificação com determinados valores, por coerência) do que noutro qualquer.
E enfim, se a imparcialidade fosse um valor no jornalismo, “A Bola” não seria um obituário (do Benfica) com tantos leitores em Portugal.
E por falar em obituários, no meu gostaria que constasse o seguinte: “Foi jornalista, esforçou-se por não ser imparcial e conseguiu ser justa, bem como eticamente correcta”. Seria um final feliz.

PS: Fosse eu o Sr. Belmiro e zelaria para que alguém, no departamento de comunicação, googlasse regularmente a expressão “centro comercial” e afins, para ver o que se diz sobre o sector, o que inclui a menos filtrada blogosfera… Pode ser que assim perceba que os consumidores estão a mudar e que tem tudo a ganhar se optar por um novo paradigma! Sr. Belmiro, reinvente-se! Revolucione!