martes, 20 de octubre de 2015

Histórias aos quadradinhos - capítulo V


Se eu fosse cega e tivesse que escolher uma cor pela sonoridade seria a azul a eleita. Junta só a minha vogal e a minha consoante preferida: o u e o l.
Não devemos ignorar os argumentos da sonoridade nisto de angariar simpatias com as palavras. Não é à toa que William Hurt (a voz masculina mais sedutora de que me consigo lembrar) foi o escolhido para interpretar a personagem que conquista a cega de “Filhos de um Deus Menor” e não é à toa que alguém dos Madredeus informava há alguns anos que procuravam os sons doces e sibilantes quando escreviam as letras das músicas: os mm e os aa, exemplificavam.

Já os mestres da azulejaria portuguesa terão escolhido a cor azul para a maioria dos seus trabalhos por outras razões: o corante óxido de cobalto encontrava-se mais facilmente.

Por coincidência leio a justificação para as grossas pinceladas de azul, que ameaçam esconder Helena Almeida nas suas "pinturas habitadas" (agora expostas em Serralves e que julgo ter visto no CCB). “Uso o azul porque é uma cor espacial. Tem de ser azul (…). É mesmo o espaço, é engolir a pintura”, terá justificado Helena aos curadores da exposição de Serralves.

Espacial, acessível, de sonoridade sedutora, azul é a cor que conta, por ventura, mais histórias da arte portuguesa. A comprovar no Museu do Azulejo, em todo Portugal e em todo o mundo em que os portugueses pousaram quadradinhos.



(lamento, mas não estou a conseguir subir as fotos dos azulejos que se impunham nesta história: to be continued...)