lunes, 29 de noviembre de 2010

Frio, porque há muito que lhes falha o calor


Mantinhas azuis e escuras à nossa espera. Isso e um tecto trabalhado e mal caiado para nos fazer pensar sobre as ruínas que autorizamos na cidade que é património da UNESCO. Autorizamos ruínas de um património de que nos deveríamos orgulhar por todo o país. Mas essa nem sequer é a nossa maior ruína…
Um plástico transparente entre eles e nós e depois cai o pano. Não costuma cair o pano antes de começar, mas aqui é assim que começa.
Um pano branco, com ares de tela de cinema, que vai ficar lá até ao fim, para nos filtrar a realidade. Estamos já habituados a filtrá-la, a impor-lhe uma distância, pelo que não estranhamos assim tanto vê-los a eles do outro lado.
E estava frio, muito. O termómetro do carro haveria de marcar zero graus duas horas depois.
Para eles, o frio é cenário e estado de espírito. Tapam-no com sobrepostas peças de roupa, tampam-no com o álcool, o mesmo que esconde o que lhes sobra ainda de vontade, o mesmo que lhes acrescenta resignação.
As quatro histórias que o Glowacki cruza colocam-nos como espectadores desse estado terminal da dignidade, da nossa e da deles. E espectadores é o que optamos por ser quase sempre, só que o Glowacki e a bruxa Teatro obrigam-nos a ter consciência de que é só isso que fazemos.

viernes, 19 de noviembre de 2010

Caricias que parecen mariposas...

Faz tudo bem!
Elogia-lhe a pele sedosa, enquanto a percorres com os dedos
Não negligencies o olhar, pousa-o demoradamente no dela, sem falar
Sente-lhe o perfume e a textura do cabelo
Beija-lhe a nuca nua num sussurro
Ela obedece-te a partir daí, fingindo que nem desconfia que tudo nela é uma ordem

viernes, 12 de noviembre de 2010

Quentes e boas!

Não me lembro de mais nenhum título de qualquer outro texto dos livros de leitura da escola primária, mas lembro-me do "Quentes e boas!", a anunciar o Outono! Bom, também me recordo de outro texto que falava sobre um plátano centenário de folhas "escarlates"! E o escarlate deve ter sido o que bastou para não me esquecer do texto, cujo título não gravei...

Fiquei ali uns minutos à espera que as 12 castanhas se assassem e que o vendedor as empacotasse no cone, que desta vez não era de papel jornal, nem de páginas amarelas.
E fiquei ali a lembrar-me do pregão que dava nome ao texto sobre o Outono e a olhar para o ponto em que encontrava o Senhor que acenava e sorria, sempre que a noite já ia alta, mas ainda não era madrugada, mais ou menos à hora em que terminam as penúltimas sessões do Monumental... Ninguém ficava indiferente ao adeus, nem à figura, que a mim me recordava o Andy Warhol..."

"Foi uma figura, nunca um figurante"...

Foi sobre o "Facebook" a sua última crónica, a que escrevia indirectamente, através de um amigo, com quem assistia, semanalmente, a um filme...

As castanhas, assadas no fogareiro ambulante, estavam como costumam estar: quentes e boas!