jueves, 28 de noviembre de 2013

A minha constelação

A TSF juntou-as esta semana! Eu achei bem e junto-as também, assim, na forma de poema dos inspirados Jorge Palma e Fernando Tordo! A segunda até é repetente por aqui. Apetites!

Estrela do Mar
Jorge Palma
Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
E em que o sono parecia disposto a não vir
Fui estender-me na praia sozinho ao relento
E ali longe do tempo acabei por dormir

Acordei com o toque suave de um beijo
E uma cara sardenta encheu-me o olhar
Ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
Ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar

Sou a estrela do mar
Só ele obedeço, só ele me conhece
Só ele sabe quem sou no principio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim

Não se era maior o desejo ou o espanto
Mas sei que por instantes deixei de pensar
Uma chama invisível incendiou-me o peito
Qualquer coisa impossível fez-me acreditar

Em silêncio trocámos segredos e abraços
Inscrevemos no espaço um novo alfabeto
Já passaram mil anos sobre o nosso encontro
Mas mil anos são poucos ou nada para a estrela do mar

Estrela da Tarde
Carlos do Carmo
Era a tarde mais longa de todas as tardes
Que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas
Tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
Tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste
Na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhamos tardamos no beijo
Que a boca pedia
E na tarde ficamos unidos ardendo na luz
Que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto
Tardaste o sol amanhecia
Era tarde demais para haver outra noite,
Para haver outro dia. (Refrão)
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.

Foi a noite mais bela de todas as noites
Que me aconteceram
Dos noturnos silêncios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.

Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram.

(Refrão)

Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto!

martes, 12 de noviembre de 2013

Sobre o Tempo

Sobre o "About Time", a primeira coisa que me ocorre é que deveria ter o alto patrocínio da Renova!
O tal do Richard Curtis já tinha provado antes que sabia como impulsionar o consumo de lenços!
No registo comédias românticas, eu prefiro a pronúncia britânica! Esta cumpriu.

Se mudaria alguma coisa no meu passado? (A pergunta existencialista que o filme coloca)
Claro. Tantas.
A boa notícia é que o futuro me interessa mais ainda que o passado.


viernes, 4 de octubre de 2013

Rio volta a vencer no Porto!

Eu podia alegar que me tornei numa pessoa ponderada que procura analisar as coisas a frio (gelado) e que por isso só agora comento as autárquicas, mas na realidade este post foi mentalmente escrito no domingo, assim que a SIC avançou com o "Rui Moreira vence no Porto!", e ainda está por inventar a tal máquina de transformar o pensamento em escrita...
Parecia que o meu F.C. Porto tinha voltado a vencer a Champions! Não contive um grito de alegria!
Duvidei do bom senso do povo! Afinal, se os juízes não foram capazes de o demonstrar...
Mas os portuenses (e os lisboetas também) fizeram a justiça nas urnas! Orgulho!

Não tenho ainda uma opinião formada sobre o Rui Moreira: há qualquer coisa ali de vira-casacas, não sinto convicção... mas pelo menos as promessas eram as mais sensatas! 
E qualquer coisa era melhor do que Meneses!

Fiquei também bem impressionada com o discurso do candidato socialista: oportuno e astuto este Pizarro! Provavelmente teria chegado mais longe, se tivesse havido uma maior cobertura mediática nestas eleições e debates frente-a-frente!


martes, 17 de septiembre de 2013

Subversivo, à maneira de Gandhi ou Luther King

O mérito é do Rodrigo Leão. Foi por saber que ia ler o nome dele na tela e envaidecer-me com a música dele, que escolhi ver "O Mordomo".
Orgulho Luso!
Não sabia sobre o que tratava o filme, mas passa a estar na lista de filmes que um dia quero rever com a minha filha como mote para conversar sobre ser humano, sobre o descabido que é o racismo.
A vergonha tem memória fraca e este filme refresca-a.

Josefinas!






Suspeito que há qualquer coisa de passado mal resolvido em quase todas as ex-bailarinas. Ali, algures, ficaram suspensas pelas pontas a que aspiraram ou que efectivamente um dia as elevaram.

A Saint Laurent compreendeu isso muito bem e vende-nos a sabrina como esse perpetuar do sonho de bailarina.

Poderia ser paradoxal, mas não é: o mais raso dos sapatos, transporta potencialmente a mais feminina elegância, como que a evidenciar que a elegância autêntica dispensa moletas ou efeitos visuais!

Há uns tempos, a vaguear pelo site da Repetto, questionava-me como não havia ainda uma marca portuguesa de sabrinas. Fiquei muito feliz ao perceber que alguém se chegou à frente. Adorei o conceito, o nome, ...

viernes, 23 de agosto de 2013

Sem nome

Há dois kitesurfers a brincar na foz do Lima, que aprecio inesperadamente, com uma lentidão que não me permitiria se tudo tivesse corrido bem.

Há também uma gaivota farejadeira que visita o parapeito da janela que me calhou.
Penso, para me abstrair, se se concretizará a “Cidade Naútica”, sobre a qual ainda há dias escrevia.
Penso, sem querer, que há palavras que agora me pesam mais. Penso que há sonhos que temo repetir e medos novos para domar...

E penso em como tudo talvez se resuma a uma marca de água num desejável futuro.

martes, 23 de julio de 2013

Ficção demasiado fictícia

Gostar de cinema, ter saudades de cinema e ficar circunscrita ao cartaz do Almada Fórum (o mais próximo da baby sitter) obriga a eleger o WWZ, quando o que se queria ver era o "Antes da Meia Noite".

Filme mais ou menos. O mais é o Brad Pitt, que segura o filme, e a sequência inicial, uma espécie de volta ao mundo apocalíptica, que nos dá pistas para uma provável terceira guerra mundial. O mau é quase tudo o resto: o realizador permite-nos ser detectives e facilita-nos demasiado a tarefa de chegar à conclusão a que chegou o Brad Pitt, mas antes dele; acresce que a metáfora doz zombies está gasta.

Tendo a dar razão ao Pedro Mexia quando diz que a ficção para TV está a evoluir melhor do que a ficção para cinema.

lunes, 22 de julio de 2013

Então?

Não, Cavaco! Erraste! (Nada a que já não nos tenhas habituado!)
Eu também gosto da poesia inerente ao "é preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma!", mas o timing falhou!
Este era o timing certo para convocar eleições! Este era o timing certo para derrubar de uma assentada três maus líderes: Passos (o teimoso obtuso), Seguro (o inseguro indefinido) e Portas (o inteligente perigosíssimo)!
Este era o timing certo para o PSD empossar Rui Rio - alguém com norte, caráter e bom senso!
O melhor seria, Cavaco, que te dedicasses apenas a anilhar cagarras!

Claro que os mercados iriam despencar, a Merkl iria surtar, a troika far-nos-ia um ultimato (coisa que costuma correr-nos mal), mas concluiriam que seria um mal menor, que depois da tempestade viria a bonança...

Luxo!

Maia - Palácio da Bolsa (centro do Porto): menos de 20 minutos de carro, às 9 da manhã, de um dia de semana!
Bem sei que estamos no verão, mas ainda assim, é de aplaudir! E com obras na Baixa!

Almoço razoável num restaurante na Ribeira, numa esplanada com vista, sem filtros, para o Douro, a escutar as conversas das gaivotas: 9€!
Compreende-se por que razão visitar o Porto (Lisboa também) seja conselho recorrente em jornais e revistas de todo o mundo! E comece a ser muito falada como excelente cidade para instalar novos negócios!

Temos tanto para dar certo, Portugal!

jueves, 4 de julio de 2013

Rebobinar, desconfiar, ...

Penso vezes sem conta em como gostaria de ditar o que penso para um teclado autónomo o suficiente para dispensar as minhas ou outras mãos... Inviável, por agora.

E agora que tenho tempo para escrever, para intervir neste paleio, vítima de ausência prolongada, não me lembro de quase nenhum dos pensamentos que me pareciam merecedores de registo.

Eterna luta contra o que o tempo nos faz perder...

Ocorre-me que queria ter escrito sobre o Crivelli, o quadro privado que a imprensa portuguesa quis nacionalizar, escusando-se de investigar e contar a história como ela precisava de ser contada, porque a demagogia resulta mais fácil, vende mais, recruta mais simpatizantes... Comigo funciona precisamente ao contrário (para alguma coisa me havia de servir ser tão desconfiada - ofensivamente desconfiada, por vezes): se anda quase tudo a remar para o mesmo lado, desconfio, logo me apetece procurar argumentos para contrariar a tendência. "Por outro lado" é um dos meus pontos de partida preferidos. E, garante-me a experiência, é quase sempre uma viagem que compensa.

Sobre o Governo, quase tudo o que se lê, o que se escreve, o que penso, me parece ridículo!
Parafraseando o meu pai, só me ocorre que precisamos de trocar, em simultâneo, de Governo e de oposição!

Queria ter escrito sobre como me questiono todos os verões (uma vez chega para me desarmar) sobre o mar de pó em que se transformam os "parques de estacionamento" das praias vizinhas da Caparica! (Eleitores da margem sul, oxalá se lembrem disto nas próximas autárquicas!) -
Cada vez os tolero menos, cada vez tolero menos o tapete de toalhas que cobre as praias urbanas!
Viva o vento, que acautela o sossego nortenho!

Sinto-me cada vez menos jornalista e isso, estranhamente, inquieta-me menos: começo a aceitar-me noutra esfera, a de alguém que gosta de conhecer histórias e de as contar. Só.

A coerência dá um trabalho dos diabos e seduz-me menos do que outrora.

lunes, 6 de mayo de 2013

Agradecimento

... ao senhor do staf benfiquista que sublinhou o feito da defesa portista: uma época sem grandes penalidades contra o FCP!
Eu, por exemplo, não me tinha dado conta do mérito.

Quanto ao resto, a "vindima" ainda decorre...

miércoles, 10 de abril de 2013

Gonçalo Ribeiro Teles

Há anos que Gonçalo Ribeiro Teles alerta para o problema de petrificar a Lisboa pombalina, a cidade erguida sobre estacas de madeira e que precisa de água para as manter molhadas (de modo a não quebrarem). Há anos que alerta para a importância dos espaços verdes, das hortinhas na cidade, já que além da sua função de pulmão, concorrem para a saúde da água que anda muito abaixo dos nossos pés...
Há anos que defende um ordenamento racional do território e a preservação da variedade de espécies autóctones. Há anos que luta contra a tirania do eucalipto...
Foi das entrevistas mais aprazíveis que fiz e o tempo todo só me apetecia fazer-lhe vénias por concordar com tudo o que disse.

Hoje ao receber o prémio Sir Geoffrey Jellicoe, atribuído pela Federação Internacional dos Arquitectos Paisagistas (IFLA), comentou que se tratava de uma “couraça", que lhe vai permitir continuar a dizer o mesmo, mas com reconhecimento internacional.

Entre muitos outros testemunhos, devemos-lhe o magnífico jardim da Gulbenkian, cenários de muitos dos meus piqueniques evasivos à hora de almoço, quando o sol assim ordena.

Hoje, por coincidência, almocei com uma amiga espanhola e ex-colega que tinha acabado de revisitar o dito, para matar saudades dos piqueniques de outrora. Falou-me do abandono que sentiu por lá.
Já lá não vou desde o verão, pelo que não posso confirmar esta leitura. Será que o petróleo da Partex não consegue patrocinar a manutenção adequada do jardim?


martes, 9 de abril de 2013

Verdades sobre a mentira

A mentira é potencialmente mais literária do que a verdade. Inegavelmente, é criativa.
Subjetiva, serve melhor a intenção e o coração.
Desdenho de quem taxativamente a repugna, desconsiderando os seus bons propósitos.






miércoles, 3 de abril de 2013

Falta de visão

Volta e meia recebo no mail histórias suspeitas e já aconteceu descobrir que se tratam de embustes depois de as googlar: artigos de opinião assinados por especialistas que não existem, a "descoberta da pólvora", nas suas mais diversas versões...

A aldeia global está cheia de minas, sobretudo para os que querem fazer jornalismo, e acreditar tornou-se ato* mais trabalhoso. Por outro lado, confirmar as fontes nunca foi tão fácil (salvo raras exceções)...

Na semana passada, a Visão tropeçou numa mina: publicou o que se revelou ser uma fotomontagem de Ronaldo a segurar um cartaz com uma mensagem a favor da Palestina.
É grave. Eu acho grave, sobretudo porque se tornou banal cometer este tipo de erros e as redações não investem tempo no contraditório.

Quando o jornalismo perde a obrigação (que o define) de contar a verdade, de a procurar, da obrigação decisiva para se distinguir da variedade de informação que circula online ao abrigo de outras capas, deixa de ser jornalismo.

*Passei a adotar o acordo ortográfico e passei a concordar com ele porque tenho uma filha que vai aprender a escrever com este português e porque o acordo ortográfico é também favorável ao jornalismo: há muito que nos circunscrevemos a um mercado de 10 milhões e desprezamos os milhões de leitores que falam, escrevem e lêem português. O acordo ortográfico impõe o português como uma ferramenta de trabalho mais inclusiva. Está na hora de os jornais e revistas portuguesas aproveitarem a oportunidade gerada pelo acordo e investirem a sério em delegações em África (no Brasil será mais difícil, dado o número de concorrentes...),  para ganharmos publicações com uma cobertura expressiva (digna) do mundo lusófono. Faz sentido também do ponto de vista comercial, já que muitas empresas estão (finalmente) a levar as suas marcas para os países lusófonos e através de um só suporte poderiam chegar a estes mercados.
Enfim, contratem-me!

viernes, 22 de marzo de 2013

Rafael Bordalo Pinheiro


Como adoro todo o universo bordaliano, não poderia deixar de registar que o Google celebrou, ontem, a data de nascimento desse génio português, com um doodle do Zé Povinho, que infelizmente não perde actualidade.

A propósito, publico aqui um artigo que escrevi há alguns anos para a revista Actualidade - Economia Ibérica:

Bordalo intemporal
Caricatura, cerâmica e decoração de interiores ao serviço da crítica bem humorada e da beleza. Rafael Bordalo Pinheiro responde por tudo isso. No museu que o homenageia em Lisboa vai perceber que as obras deste artista poderiam muito bem reportar-se aos dias de hoje, apesar de ele já ter morrido há mais de um século…

Um ramo de bacalhaus presos pelo rabo enfeitam uma mísula. Mesmo ao lado, um móvel semelhante exibe uma cabeça de perú. São ambas peças de cerâmica aplicadas em madeira e ambas atestam a criatividade e o talento de Rafael Bordalo Pinheiro. Substantivos recorrentes para qualificar o mestre depois de visitar o Museu Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa.
Por aqui é possível conhecer uma parte significativa das obras de cerâmica de Bordalo, fruto do seu interesse pela indústria do sector, das Caldas da Rainha, como recorda Pedro Bebiano Braga, o novo comissário científico e responsável pelo museu: “Em 1884 Bordalo funda a Sociedade Fabril das Caldas da Rainha. Bordalo pega na tradição e eleva-a, inova, actualizando vários moldes da cerâmica caldense. Além da louça que se vende um pouco por todo o mundo, criou várias peças únicas, de uma estética moderníssima.” Bordalo era dado aos revivalismos históricos e como tal homenageou através da cerâmica vários estilos: o mourisco, bastante presente em alguns dos seus azulejos, os anjinhos do barroco, as cordas e outros motivos que evocam o manuelino e a época de glória dos portugueses, a arte nova, as cópias da natureza representada através de reptéis, marisco,musgos, frutos, etc. Não é difícil surprendermo-nos com a riqueza dos detalhes como quando descobrimos que o que parece ser um cesto de verga é uma peça toda em cerâmica. “Bordalo deu-se ao trabalho de entrelaçar tiras de cerâmica para dar o efeito da cestaria”, garante Pedro Bebiano Braga.
Além da cerâmica, outra das facetas conhecidas e reconhecidas de Bordalo é a de caricaturista. Fundou vários jornais, onde publicava os seus desenhos. Ao jeito para desenhar aliava o poder de observação e sentido de humor, tornando-os instrumentos ao serviço da crítica política e social corrosiva e também do elogio, já que “Bordalo tinha um sentido ético notável”, comenta Pedro Bebiano Braga. “É um homem muito atento ao seu tempo e isso é quase diariamente plasmado nos seus desenhos e nas suas peças”, observa, acrescentando que “a partir dos anos 70 Bordalo entra em cena e vai dando notícia das transformações de Lisboa”, tornando impossível estudar o século XIX e início do século XX sem passar por este artista. As histórias das suas caricaturas aludem “à pequena anedota da Baixa, às grandes negociatas políticas”, dão-nos conta dos quiosques que se instalam na cidade, do banco novo da rua. E são histórias de Portugal e do mundo, frisa o historiador: “Bordalo era conhecido também fora de Portugal, já que às suas caricaturas respondiam outros caricaturistas europeus. Trocava farpas a nível internacional, numa altura em que comunicar à distância não era fácil. Chegou a ter caricaturas nas tabernas alemãs. Não se limitava a abordar a sociaedade portuguesa. Caricaturou Bismark, por exemplo.”
A dimensão internacional de Bordalo prende-se também com o facto de ter viajado bastante e ter trabalhado em Espanha, em França e no Brasil. Em Portugal era muito bem relacionado e o seu trabalho tinha tal impacto que muitas pessoas chegaram a pedir-lhe para ser caricaturado.
Bordalo não poupava políticos como o chefe do governo António Maria Fontes Pereira de Melo, através da personagem António Maria, mas o seu “boneco mais popular é o Zé Povinho. Criado a 12 de Junho de 1875, ainda hoje é evocado. Trata-se de “uma personagem ícone, que traduz o que é ser português”, explica Pedro Bebiano Braga. Na altura “iletrado, vítima, o Zé Povinho é muitas vezes representado como burro de carga do poder que o carrega”, recorda o historiador, ressalvando que “este povo resignado e adepto do deixa andar, porque sabe que as negociatas acabam por ser desmascaradas e que as coisas vão mudar, está muitas vezes a fazer o maguito, que é a sua forma de reagir”. À semelhança com os dias de hoje, na altura os tempos também eram de crise, pelo que este Zé Povinho tem algo de intemporal, ainda que já não seja iletrado. Aliás, a iliteracia permite perceber o sucesso das caricaturas: “As pessoas entendiam melhor a mensagem desenhada, já que havia muito analfabetismo. A imagem de um Zé Povinho a dar pontapés a um político, obrigando-o a sair da margem da página e a continuar a sair nas restantes páginas cria uma novela com o leitor. Apesar da mensagem ser facilmente perceptível, as caricaturas estão chegias de detalhes, que é preciso decifrar. Temos que estar atentos ao que desenham as sombras, por exemplo.”
Bordalo caricaturista e ceramista são as duas faces mais conhecidas do artista e preenchem a exposição permanente do museu. Pedro Bebiano Braga, em funções no museu desde Fevereiro quis mostrar uma nova dimensão de Bordalo, a de decorador de interiores, a descobrir na exposição temporária que o museu abriga até o dia 15 de Agosto: “Bordalo foi sempre recordado como exímio caricaturista, bem como pelas suas criações de cerâmica, mas as suas peças de mobiliário e o seu talento para a decoração estavam ainda por destacar. Trata-se de uma abordagem inédita.”
Nesta mostra temporária recorda-se que foi Bordalo que dirigiu a representação portuguesa na grande exposição universal de Paris de 1989. Podemos apreciar os cachos de uva de cerâmica que usou para decorar o espaço, onde havia um bar de provas de vinho português, conservas, artesanato… Pedro Bebiano Bordalo considera que “Bordalo teve a mestria de perceber que por cá havia valor e interessou-se pela cerâmica”, e lembra que “o nacionalismo estava em voga na altura”.
Bordalo teve também intervenções decorativas em espaços lisboetas como a famosa sala de jantar do Beau Séjour, actual gabinete de estudos olissiponenses, a Panificação Lisbonense, a tabacaria Mónaco, bem como um painel de azulejos que representa o ambiente tertuliano da cervejaria Leão de Ouro. Tudo isto é focado na exposição, onde estão várias peças de mobiliário, com aplicações de cerâmica, bem como peças de luminárias (candeiros e castiçais), molduras, caixas para relógios, cestos, etc.
Nascido numa família de artistas – o irmão Columbano era pintor, a irmã era bordadeira, fazia vitrais e empenhou-se no renascimento das rendas em Portugal - muitas vezes Bordalo trabalhava em equipa com os irmãos, cada um na sua arte.
Pedro Bebiano Braga está consciente de que sobre Bordalo ainda há muito o que explorar e pretende não só mostrar novas facetas do artista, como atraiar novos públicos: “As crianças e os séniores são os que mais visitam o museu. Temos oficinas para crianças, onde se trabalha cerâmica inspirada em Bordalo, muito frequentadas e com um enorme sucesso. A faixa etária entre os 17 e os 35 é a mais difícil de atrair, mas quando descobrem a obra de Bordalo ficam fascinados e divertem-se imenso. Também é importante dar a conhecer a dimensão internacional do trabalho de Bordalo, para atrair estrangeiros para o museu.”

Museu Bordalo Pinheiro
Campo Grande, 382 -1700-097 Lisboa
www.museubordalopinheiro.pt


lunes, 11 de marzo de 2013

Aos 104 anos!

Às vezes sentimos vergonha pelo que não se faz, pela falta de reconhecimento do país aos que elevam o seu nome. Como também acontece (muitas vezes) o contrário: "Momento marcante foi a sessão especial dedicada aos 70 anos de estreia do mítico “Aniki Bóbó” que serviu de pretexto para uma homenagem ao decano dos realizadores mundiais – Manoel de Oliveira – e da protagonista feminina, Fernanda Matos  (a Teresinha) . Na altura (no passado dia 6) Manoel de Oliveira confessou: “Esta noite, para mim, foi como um sonho. É pena ter chegado um bocado tarde. Isto nem em Cannes”. Uma apoteótica recepção de um público muito jovem e uma impressionante cobertura mediática foram o merecido e sentido reconhecimento de um génio, pela sua cidade natal."
Fico feliz de saber que assim foi e gostava de ter estado!

"Necesitamos tu manera de querer"

Me encanta!
Caso ganhe o concurso para realizar os Jogos Olímpicos de 2020, Madrid precisará de muitos voluntários. O apelo é delicioso: "Necesitamos tu manera de querer"!

E que bem que me parece para Espanha (e para Portugal, indirectamente) esta candidatura, economicamente e socialmente.
Há que pensar a médio prazo: o desânimo não veio para ficar.

jueves, 7 de marzo de 2013

Maria Pia recebe Joana Vasconcelos

E também me recebeu a mim e a outros jornalistas, para mostrar um pouco da que será a maior exposição de Joana Vasconcelos em Portugal (maior do que a do CCB há uns anos).
O oportuno convite foi do, na altura, secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas (que admirava antes, admirei durante e depois).
A inspiração foi a hiper bem-sucedida mostra de Joana em Versalhes.
A nossa Maria Antonieta é a rainha Maria Pia, que "empresta" o seu palácio da Ajuda para acolher as cerca de 40 peças de Joana. Muitas delas inéditas para os portugueses, como o lilicoptère, que ainda não estava montado, e várias outras inéditas de todo, já que foram feitas para esta mostra: é o caso das peças bordalianas, trajadas de renda açoriana.

O par Marilyn, uma das peças mais conhecidas.
A polémica "noiva", que Versalhes censurou, também integra a exposição, a última na direção (louvavelmentee mais aberta do que a de Versalhes) da vibrante e entusiasmante Isabel Godinho, que está de saída do palácio.



Mais do que "decorar o palácio", as peças dialogam com a decoração existente.
Há uns anos colocava-se em Lisboa, a dicussão sobre a pertinência estética de um elevador modernaço para escalar a colina do castelo de São Jorge. Desconhecia o projeto e não posso opinar sobre ele, mas parece-me bem o diálogo entre passado e presente. Preservá-lo é determinante, mas imaculá-lo poder ser sinónimo de afastá-lo. O palácio reviverá com esta "ajuda", certamente... 
Depois de Versalhes, esperam-se filas na bilheteira da Ajuda.
Eu voltarei para ver a exposição completa (a partir de 23 de março e até 25 de agosto)
e apreciar melhor o palácio, que desconhecia, na sua vertente mais intimista, apesar de ter estado na ala que recebeu uma interessantísssima exposição sobre a Rússia dos Czares (qualquer coisa assim).
De aplaudir também que o evento tenha zero custos para o Estado: a Everything is New (produtora do optimus Alive) assim o garante. Querendo ser um exemplo de produção privada neste tipo de iniciativas, é de lamentar, no entanto, a recusa em revelar os custos do mesmo.
Considero que seria mais inspirador tornar o processo mais transparente.


Fotos: minhas

martes, 5 de marzo de 2013

Thinking/sinking in the rain

É possível gostar de chuva
da que arrefece um dia quente
da que molha terra fértil,
libertando uma essência impossível de enfrascar

(pensava nisto, para me distrair do ar saturado, a bordo de um autocarro, num dia de chuva e pareceu-me que tão "eloquente" deriva não poderia ser exclusivo dos meus botões...)

jueves, 28 de febrero de 2013

martes, 26 de febrero de 2013

I would do it better!

Então e a APICER não se lembrou de slogan mais original do que "Portuguese Ceramic does it better!"

Contratem-me!

Descobrimentos encobertos

Só posso aplaudir a criação da “Descubriter – Rota Europeia dos Descobrimentos”, um projeto que une esforços do Algarve e da Andaluzia e que deverá estar concluído "até ao final de julho”.
A coisa envolve “um museu virtual dos Descobrimentos, jornadas sobre o papel dos portugueses e andaluzes nas expedições marítimas da época e passeios a bordo de réplicas de embarcações históricas”, etc.
Tudo óptimo, porém, o press release indica o seguinte, que a apresentação oficial do Descubriter decorreu a bordo da Nao Victoria, réplica do barco que no século XVI completou a primeira viagem de circumnavegação, sob o comando de Juan Elcano!!!!!!!!!!!!!!

Quanto a mim, dizer isto é dizer pouco, num projeto que se quer ibérico. Parece-me imperioso sublinhar que a primeira viagem de circumnavegação, foi uma expedição organizada por Fernão de Magalhães, que só não completou a viagem, porque terá, alegadamente, morrido/sido assinado nas Filipinas, a meio da viagem.
Não se trata de nacionalismo, trata-se de sublinhar o mérito de ambos, para não ferir a verdade.

PS: Senhores da comunicação do projeto, por favor, não se limitem a traduzir o press release espanhol, ok?!

(Já há alguns anos, num museu holandês, também se suprimia o mérito dos navegadores portugueses nos Descobrimentos, sublimando as conquistas espanholas (ok, que eles dominaram a Flandres durante algum tempo), mas a História merece maior respeito. Será que ninguém da embaixada lusa na Holanda visitou o Riksmuseum?)


Joana Vasconcelos: A escala*

* Gosto de palavras com duplo sentido: escala, porque é o que está a fazer o Trafaria e escala, porque é um dos argumentos da obra de Joana: impressiona, mesmo à distância ;)
A escala do barco com vista sobre a cidade - designação a usar, quando o Trafaria se passar pelas águas de Veneza (o outro quarto com vista sobre a cidade, via Florença).
 Azulejos Viúva Lamego.

Fotos: Equipa da Joana Vasconcelos

miércoles, 20 de febrero de 2013

A Estatística

O Chrome ultrapassou o Firefox no ranking de motores de busca que vêm ter a esta porta.
O Explorer continua a liderar destacado.
E 37 visitas vieram ao Paleio a partir do Vietname! 65 chegaram da Rússia no último mês! - Evgueni Mouravitch, também Te admiro!

Enfim, a utilidade da estatística afigura-se-me cada vez mais compremetida (e compremetedora).

A guerra de Tammam Azzam e de Graça Morais

O jovem artista sírio Tammam Azzam resgata Klimt, Warhol, Goya, Matisse, Da Vinci e muitos outros dos seus museus e transfere-os para o cenário que a Síria permite por estes dias, reinterpretando-os...


 A guerra de alertar o mundo para o que o mundo se habituou a ignorar.
Por ventura, a mesma guerra de Graça Morais, através da mostra "Os Desastres da Guerra, pintura e desenho de Graça Morais", patente na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva.
E talvez a das vozes que cantam o Grândola Vila Morena...
Inócuos?
Mas inconformados.

martes, 19 de febrero de 2013

viernes, 15 de febrero de 2013

She did it again (Joana Vasconcelos)

E por falar em gritar (o nome de Portugal), Joana Vasconcelos, tenho a dizer-te que estou a poupar para te ir aplaudir a Veneza, a Ti e ao provavelmente mais bem gasto dinheiro que alguma vez o Estado português investiu na Biennale.

Tendo sido a Praça de São Marcos o lugar, que me fez tremer na base, aquele sítio que nos faz sentir a viver. Antecipo sentimento semelhante, quando vir o Trafaria a bailar na lagoa.

P.S. Isto está a ficar monotemático, mas a Joana não dá tréguas e a editora do blogue autoriza "obsessões".

lunes, 4 de febrero de 2013

Imposssível não escrever mais um post sobre Joana Vasconcelos

Esta exposição é a mais visitada dos últimos 50 anos em Paris, de acordo com o artigo (que não li porque é pago) do jornal francês Le Figaro.
A notícia é de sexta, porém aqui escreve-se quando se pode e eu faço questão de não omitir este sublinhado da minha escrita. Porquê? Porque a Joana Vasconcelos me faz sentir orgulhosa, porque a arte dela é outra forma de falar de Portugal, porque o nome dela sairá quando estrangeiros me pedirem para falar da nossa cultura...

jueves, 31 de enero de 2013

A suspirar por Paris e pelo Hemingway de Corey Stoll

"Meia-noite em Paris", do Woody Allen.
Vi-o no passado fim-de-semana e encantei-me! Surprendentemente, porque embirro com o Owen Wilson (actor principal).
No entanto, adorei a mistura da viagem às duas épocas em que Paris foi a cidade mais criativa do mundo com as anotações sobre o dilema de quem sente que nasceu tarde demais.
Sentimento de identificação - inevitável.

"Let's do it, let's fall in love"

E agora ando a consumir Cole Porter em doses jeitosas!

miércoles, 30 de enero de 2013

Gonçalo, na Fitur

Lá estão elas, a homenagear o design português, na Fitur, em Madrid.
As cadeiras Gonçalo de que eu tanto gosto!

Adenda: As cadeiras integraram o cenário de um conceito vencedor: "um bairro português", que fez Portugal vencer o melhor stand internacional na Fitur 2013, a Feira de Turismo de Madrid.



miércoles, 9 de enero de 2013

Fazer render a renda

Era uma vez uma tolha de renda que virou fronha, temporariamente...
Gosto desta coisa das coisas de renda/crochet, feitas por mãos, jeito e paciência, e de as descontextualizar.
Já fazê-las é outra conversa, já que me faltam o jeito e sobretudo a paciência: fiz, em tempos, um naperão (o Priberam diz que é esta a versão portugaise do napperon)
para a minha avó com menos de meio metro x 20 cm (?) destinado a prenda de anos - junho, mas só foi entregue pelo Natal (ou ao contrário...!?)!
Há por aí algum cãozinho de louça que queira testar a "Joana Vasconcelos" que há em mim? :)

A minha Serra

Faria aqui o presépio...

lunes, 7 de enero de 2013

"Então, não me dás um beijo?"*

Tenho os melhores pais do mundo! (Tenho a certeza de que partilham o pódio com muitos outros melhores pais do mundo:))

A minha mãe: imbatível na capacidade de se dar, de assim demonstrar amor, tornando difícil pagar-lhe na mesma moeda; uma inspiração pela coerência, pela honestidade natural, pela fidelidade à verdade, pela capacidade de não deixar nada a meio.

O meu pai: a melhor forma de o justificar é recordar a que considero ter sido a maior lição que algum dia recebi e que partilho como forma de abrir este 2013, que nos pisca o olho em desafio...

Numa noite em que o gin tónico (para lá da conta) tomou conta do meu discernimento, pus um carro a voar. Pilotado pela sorte, aterrou sem grandes mazelas físicas para mim e para os dois passageiros que me acompanhavam.
Liguei de imediato ao meu pai, que chegou antes da polícia e dos socorristas. A primeira coisa que me disse:
- Então, não me dás um beijo?
Não me passou a mão pela cabeça, mas tratou de mostrar que estava ali por mim e para mim, para me ajudar. O ajuste de contas inevitável para a consciência de pai (que ele sabia ser desnecessário, porque eu retirara dali o que era preciso) ficou para mais tarde, depois dos exames médicos, depois do soninho atenuante.
Eu não sei se já o sabia, mas foi fundamental consciencializar-me, naquele dia, que mais importante do que não errar, era a humildade de admitir que erramos e a atitude para peitar a tarefa de consertar o que estragamos; que mais importante do que apontar o dedo é saber como podemos facilitar e contribuir para este processo de redenção daquele que erra e, acima de tudo, ajudar a salvar o que é possível salvar. A prioridade do meu pai foi dizer-me que estava ali para construir comigo esse processo porque acreditava que eu estava à altura dele. Saber que ele não tinha dúvidas disso é altamente responsabilizante.

*Para Ti, Joana; Para Ti, Florinda; Para Ti, António.