jueves, 25 de octubre de 2012

Paixão, País, Amor

Os substantivos deste título deveriam estar no plural...
No início era Amesterdão, era a Holanda.
Talvez por culpa do Van Basten e do Adam Curry, talvez por gostar da cor laranja, talvez porque os holandeses foram os primeiros estrangeiros de que me apercebi, talvez por culpa dos amigos holandeses que via nas fotos de férias da minha madrinha. Certamente também pela associação à água e às flores, às tulipas de quase todas as cores. Não era ainda por escutar o belga Brell sobre o brinde dos marinheiros, no porto de Amesterdão, aos sonhos e à saúde das prostitutas da cidade velha, nem pelas imagens das estreitas casinhas de encantar, nas margens, e das flutuantes, nos canais de Amesterdão, numa cidade que é mais curvilínea do que angulosa e que me perdoe o Marquês (a quem agradeço a geometria de Lisboa), mas sabe-me tão bem a sinuosidade medieval de cidades como o Porto e Amesterdão. (A natureza privou Lisboa de quase tudo o que era medieval e se era para reconstruir, claro que não fazia sentido recorrer, no século XVIII, à lógica do passado).
Enfim, era a Amesterdão que queria ir, era a Holanda que queria visitar se me fosse dado a escolher. Não foi e a Holanda surgiu no meu caminho bem mais tarde, por alturas da minha espécie de Erasmus em Antuérpia. Uma ida fugaz de um dia, que confirmou tudo o que eu sabia, tudo o que eu suspeitava sobre a Holanda e sobre os holandeses, com bonificações. Amesterdão não deve andar muito longe da cidade perfeita para se viver, pelo temperamento, por um lado, alegre e contagiante, de flores, bicicletas (já disse que ver gente a andar de bicicletas nas cidades me deixa feliz), animação e criatividade, por outro, suave, à força da chuva assídua e da água que por todo o lado nos ordena sensatez, respeito e tranquilidade. Quando uma cidade não precisa de sol para brilhar, é porque nos apaixonámos por ela. E eu apaixonei-me mesmo antes de a conhecer...
Voltei a Amesterdão mais duas vezes. 
A primeira, assumidamente para a conhecer, passear de bicicleta, comprar queijos gigantes e roupa vintage nas feiras, confirmar a magia (alguns diriam loucura) das pinceladas de Van Gogh e o fulgor da arte no auge da Flandres, reviver o Diário de Anne Frank in loco, bisbilhotar por entre as cortinas mal corridas das casas-barco, despertar com o sino da igreja por detrás do hostal que me serviu de casa, no Red Ligh District, jantar às seis da tarde, beber cerveja em copos acabados de mergulhar numa bacia de água com higiene duvidosa, sentir-me ligeiramente holandesa, como se sentem os estrangeiros que os holandeses historicamente sempre gostaram de acolher, na cidade mais cosmopolita de toda a Holanda.
A segunda, a trabalho, mas com um fim de tarde livre para voltar aos "locais do crime", aqueles que mais me pedia a memória.
Os substantivos deste título não estão no plural, porque das outras paixões, países, dos outros amores escreverei noutros "capítulos"...
Em matéria de Amor, a regra é: um de cada vez ;)

jueves, 11 de octubre de 2012

Joana de Portugal

Consta-se que todas as princesas e rainhas Joanas da cristandade homenageavam Joana D'Arc. No entanto, quantas foram guerreiras?
Pelo menos uma, Joana de Portugal, casada com Enrique IV, de Espanha. Trocava os brocados e as rendas (importados da, na época, mais luxuosa e moderna corte portuguesa) com que limitava, generosamente, o decote, que paralisava os gulosos olhares castelhanos, pela armadura para lutar ao lado do rei contra os mouros que ainda sobravam na península.
À cobiçada rainha, linda, segundo as escrituras, a História não terá feito justiça, mas Marsílio Cassotti, autor de "A Rainha Adúltera. Joana de Portugal e o enigma da Excelente Senhora", reescreveu-a, com esse objectivo.
A mulher que criou a mais influente rainha espanhola - Isabel, a Católica, cuja vida, retratada em série, está a deixar, semanalmente, três milhões de espanhóis colados à televisão - por opção, já que a queria perto de si, de modo a evitar que casasse com Fernando de Aragão (com quem casou mesmo), comprometendo os planos portugueses (do mano Afonso V) de anexar Castela. Isabel muito terá aprendido com a culta, astuta e sedutora Joana de Portugal...
O mais singular legado de Joana terá sido, como tenta provar Marsílio, o facto de ter sido a primeira mulher do mundo inseminada artificialmente. A filha, Joana (a Excelente Senhora), que a História apelidou de bastarda e de Beltraneja (atribuída a uma relação adúltera com Beltrán de la Cueva), era, de acordo com as provas apresentadas por Marsilio, do rei Enrique, que se declarou impotente, mas não era estéril.
A ginecologia estava já bastante avançada porque assim convinha aos interesses de sucessão da realeza. E, no caso, serviu os de Castela, garantindo por inseminação artificial sucessora a Enrique. Como o que estava em jogo era o poder: difamaram a rainha para impedir que a princesa (também Joana) herdasse a coroa do pai.
Tudo seria inevitavelmente diferente se Isabel não chegasse a rainha, se Afonso V casasse com a sobrinha, para anexar Castela.Talvez não nos tivéssemos virado para o mar...

Ah! Sim, a rainha foi adúltera (por amor), mas bem depois de ter tido Joana. Nos sete primeiros anos de casamento não engravidou, nem do marido impotente, nem de nenhum outro: na época, não havia contraceptivos! Logo...
Joana tinha os traços germânicos de Enrique, contrastando com os latinos da mãe.
Isto parece fofoca histórica, mas é bem mais do que isso: é a ciência e o jogo político ao serviço do poder, na mesma família, a ibérica (casavam uns com os outros, para consumar a desejada união ibérica).

PS: Reapaixonei-me pela História!

jueves, 4 de octubre de 2012

Lisboa de Fernando Pessoa, Ary dos Santos e Eduardo Gageiro

A minha preferida é que revela D. José, lá do alto do seu absolutismo real (paradoxal que o monarca mais representativo desse regime político deva quase tudo a outra figura: o Marquês de Pombal). Eduardo Gageiro fotografou o monarca, como se ele estivesse em bico de pés, a querer aparecer de qualquer maneira: imagino que se tenha deitado no degrau mais baixo da escadaria do Cais das Colunas para assim o colocar. O que mais se vê é precisamente a sucessão de degraus, como se nos guiassem até essa representação do poder.
Gosto da fotografia por isso que vi nela e porque me lembrei das palavras de um certo marinheiro, do seu encanto por regressar a Portugal, pelo Tejo.
Também me lembrei de uma fotografia da Madona, que analisamos no curso de fotografia que fiz no CENJOR. Vê-se a cantora de costas e um batalhão de fotógrafos a tentar captá-la. O único que lá não estava era o autor da fotografia!

Gageiro também se pôs do lado de lá, dos que vêem Lisboa de fora, dos que a vêem do Tejo. E são muitos os que todos os dias a vêem assim.

Não consegui encontrar a fotografia da escadaria dos Cais das Colunas para a colocar aqui. Vai continuar exposta na Câmara Municipal de Lisboa, até ao dia 9 deste mês, na mostra: "Lisboa amarga e doce" de Eduardo Gageiro. A cidade, entre 1975 e 2010, pela lente de Gageiro, acompanhada das palavras de Fernando Pessoa e de Ary dos Santos.

"Outra vez te revejo — Lisboa e Tejo e tudo —,


Transeunte inútil de ti e de mim,

Estrangeiro aqui como em toda a parte,

Casual na vida como na alma,

Fantasma a errar em salas de recordações,

Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem

No castelo maldito de ter que viver..."  
Álvaro de Campos    

"Nas minhas mãos a madrugada

abriu a flor de Abril também,

a flor sem medo perfumada

com o aroma que o mar tem,

flor de Lisboa bem amada

que mal me quis, que me quer bem."

Ary dos Santos





miércoles, 3 de octubre de 2012

Porto!

Mais um vídeo sobre Portugal premiado- na Roménia, durante a 15ª edição do "International Film Festival Document Art". A cidade que me merece mais exclamações, que mais me altera o ritmo cardíaco, "Uma Cidade Chamada Porto", num vídeo que tenta captar o seu dia-a-dia.

Publicidade goleia jornalismo

No caso da campanha da Cacharel, a minha leitura é a seguinte: fait divers 0 - campanha da Cacharel 10!

O "espírito benfiquista" (leia-se: a culpa é sempre de terceiros) contamina o caso: em vez de se reflectir sobre a razão pela qual "um rapaz alegadamente apaixonado e à procura da moça" mereceu tanta cobertura jornalística, é mais fácil crucificar a Cacharel!

Houve, no entanto, algum entusiamo desmedido e por isso ingénuo da Cacharel, ao permitir que o tal "Ricardo" fosse entrevistado pela TVI, sem antecipar que a opinião pública não paparia de bom grado o logro.

martes, 2 de octubre de 2012

Pedro Barroso, "na rua livre de um palco, entre canções"

"... seremos quase mil cantando pela Liberdade, em nome da memória e do futuro", promete Pedro Barroso na sua página no Facebook
Uns dias antes garantia: "Dia 2 quero fazer do palco uma pátria diferente. Que pelo mundo do sonho se distinga voe e saiba diferir do cinzento dos dias tristes. Quero q comigo sejam conjurados de um outro sentir, outro saber; o sitio onde o Douro encontra o Tejo e juntos arrasam todos os medíocres q nos controlam o prazer e a alegria.
Como detesto esta gente pintada de séria e corrupta até à raiz dos cabelos. Como me bast...ei de misérias impostas e roubos declarados.
Estarei como um povo inteiro, na rua; só q isso será na rua livre de um palco, entre canções. Mas o meu discurso embora poético, apela a tudo o que de positivo é possivel fazer e rejeita a submissão dos dias ao jugo germânico da esmola como moeda de exigência.
Temos mil anos de historia. Que raio! Nao podemos temer o futuro. Só há que saber dizer isto bem alto, sem medo de amanhã. Porque o futuro só meterá medo precisamente se não o dissermos.
Quero que todos no fim do Concerto sintam e digam: valeu a pena
E que sintam que é possivel mudar as coisas porque viver tem de ser mais que isto q nos estão a obrigar. E a memória que vos trago traz um futuro iminente de acontecer.
Que todos saiamos do Rivoli de portas abertas e vontade expressa.
Conto convosco. É tempo de agir."

E antes ainda, comentava: "Em relação ao 2 Out no Porto, acho sinceramente q a publicidade entre amigos é a q mais desejo e a q mais resulta. Quero ter a casa cheia de amigos cumplices e solidarios, bem precisamos todos dessa alma colectiva!"

Esta noite queria estar no Rivoli com este "trovador", que tão bem escreve para cantar.

Assim:

"Excesso"

Há amores estranhos fundos sem razão


- são secretos vivem na cumplicidade

indizíveis nas palavras que aqui vão

são impróprios de viver em liberdade

levaram a ternura ao exagero

e a um excesso saboroso a nossa pele

só compreende quem sente o latejar

bem mais dentro que os olhos do olhar,

há amores que não posso aqui explicar

pois quer queiram quer não inda vivemos

na pré-História de um Futuro de cem mil anos

nas grutas de um sentir que não sabemos



há uma palavra escandalosa e proibida

quando se fecha a porta e começa a fantasia

e me sento no sofá e desligo-me da vida

e fico Senhor completo do teu corpo

e o código começou e tu me ofereces

o máximo que alguém nos pode dar

e a guerra não tem hoje nem tabus

são duas vontades grandes que ali estão

e mais que as mãos e a boca e o Futuro

e o vício de dois corpos seminus

amarro em ti a vida que me escapa

e acordas-me explicando o mundo todo

e cedo a esta raiva que me mata



e sinto em ti Mulher, Mulher de mais

e houvesse aqui, agora, já, um altar

e eu casava-me contigo poro a poro,

casava-me contigo em todos os rituais

se é que não estou exactamente assim casando

o ontem com o presente e o infinito

e a cada jogo beijo salto ou grito

pressinto o chão fugir e o mundo longe

e há um abuso consentido que não peço

e tu olhas-me plácida e tremente raiva e calma

e a tormenta desabrocha e sai de nós

pela porta escancarada do excesso    

"Viriato"

Trago comigo uma guitarra para a viagem

na minha voz esta canção antiga

tenho nos olhos mais do que a paisagem

a memória e o sal da gente amiga

não feneceu ainda em mim o velho sonho

trago na ideia uma razão e um sentido

que eu tenho o mar, o fundo mar, por testemunha

e a esse mar que em mim navega tudo é devido

e há qualquer coisa em tudo isto

que eu não posso ou sei esconder

e que faz com que vos cante esta canção

é uma história um gesto antigo

que eu nem sei como dizer

Viriato tem mil anos de razão

É do verde e fresco Minho que eu vos falo

e dessa calma alentejana que nos cala

e é em casa junto ao rio Tejo que me embalo

e é em Sagres que essa história mais nos fala

lá nas Atlântidas perdidas de um sonho

ou num velho cacilheiro que nos leva

e há nas ancas das varinas no Porto, na ribeira,

todo um mundo que nos lembra e que celebra

e há qualquer coisa em tudo isto

que eu não posso ou sei esconder

e que faz com que vos cante esta canção

é uma história um gesto antigo

que eu nem sei como dizer

Viriato tem mil anos de razão

Anonimato nas luzes da ribalta

No Abrupto, o que mais gosto é do nome. Ainda assim, de vez em quando, visito-o.

Cito o que escreve Pacheco Pereira  sobre a manipulação política, com a cumplicidade do que alguns chamam de jornalismo:

"ÍNDICE DO SITUACIONISMO: "RECADOS" ANÓNIMOS

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Há vários problemas no nosso jornalismo político que são endémicos e contribuem para a sua má qualidade, entre eles a fusão de "recados" com fontes anónimas. Os "recados" são uma pura manipulação da opinião pública, transmitindo um discurso sem edição, que diz o que quer, que antecipa o que quer e que não precisa de ser confrontado com a realidade, nem com o contraditório. É um tipo de discurso político "limpo", sem mediação jornalística, que agrada aos políticos e manipula o jornalismo e a opinião.

O Expresso publica um por semana, tendo como origem o governo, e os gabinetes do Primeiro-ministro e do ministro Relvas, mais a sua multidão de assessores. Têm para quem os emite a vantagem de fornecer uma versão das coisas que é favorável ao poder, que ocupa normalmente uma primeira página e o seu título principal de forma vantajosa. Evita outra primeira página eventualmente mais hostil e pretende condicionar a opinião, fazer uma ameaça velada, ou testar a reacção a uma determinada medida. Muitas vezes pouco mais é do que a descrição de um "estado de alma" qualquer do primeiro-ministro (PM), destinado a sugerir que ele "sente" as mesmas indignações que o "povo", mesmo que não faça nada em consequência.
Os "recados" de hoje são mais do que isso:
"É preciso dar uma pedrada no charco e neste momento ele está claramente a pensar nisso e tem tudo em aberto: pode ser antes, durante ou após a apresentação do OE em 15 de Outubro" ("fonte próxima do PM").
"Se o PM recuou na TSU, também tem a agilidade, sem tabus, de rever o que está mal no governo." ("fonte oficial") .
Não tenho dúvidas sobre a fonte, foi o PM, ou alguém por "ele", como é identificado, que disse isto ao Expresso, usando o anonimato para exprimir não apenas opiniões, mas pressupostas intenções pessoais do PM. Num país em que houvesse um mínimo de vergonha, o Ministro da Economia apresentava a demissão de imediato, e se o ministro Relvas não estivesse envolvido na combinação, faria o mesmo. Para contentar a opinião pública, o PM ataca o seu próprio governo, debaixo da cobertura do anonimato, para transmitir uma "imagem" de determinação e firmeza em dia de manifestações. Não há uma linha destes "recados", que atravessam toda a "notícia", que não seja pura manipulação. No fundo é mais um sinal alarmante do grau de decomposição e desorientação do governo e do PM."

lunes, 1 de octubre de 2012

Woody Allen, o caricaturista! Mi piace!


"Porca miséria!", diz o polícia romano, em jeito de auto-apresentação. Todo o filme é uma caricatura a Roma, no que tem de bom, e aos romanos, no que têm de... caricato! E claro, a habitual caricatura à relação do casal e dos candidatos a casal, no que têm de mais rotineiro... E à desalmada hipocondria/angústia das personagens interpretadas por Allen. E aos costumes: hilariante a ascenção e queda do "novo famoso, sem nada ter feito por isso", na mesma linha da sátira do Bruno Nogueira em "O último a sair".
Nada de novo, mas agradável. É como rever um filme de Woody Allen, sem que seja bem o mesmo filme.
O que anda a mudar é a cenografia e isso agrada-me, porque gosto de viajar pelas cidades, também através do cinema, como gosto de o fazer através de um livro.
E não vejo problema algum no facto de Allen ser pago para promover uma cidade, ao mesmo tempo que faz o que sempre fez: caricaturar. Viaja mais, conhece mais, com o aliciante desafio de ter que inventar uma história para a cidade. Ele já fazia o mesmo antes com Paris, Veneza e Manhatan e tinha que arranjar dinheiro à mesma para pagar o filme.
Paguem-me a mim para fazer o mesmo! António Costa e Rui Rio estou à Vossa inteira disposição... A desculpa de que eu não sou tão popular quanto o Allen torna o cachet bem mais negociável!

E apeteceu-me voltar a Roma: esperemos que a moedinha que atirei à Fontana coopere!
(Woody, prueba superada!)