"A coisa mais difícil e mais bonita de partilhar entre duas pessoas é o silêncio."
A penúltima vez que li um livro sem intervalo foi o "Cartas a Sandra" do Virgílio Ferreira e a última foi ontem à noite, o "No teu deserto" do Miguel Sousa Tavares.
Nestas coisas talvez o tamanho importe, já que ambos têm pouco mais de 100 páginas, mas a razão pela qual em nenhum momento consegui adiar a leitura das páginas seguintes foi porque conversas daquelas não queremos deixar a meio... E se na realidade o fazemos, generosos com a angústia, vingamo-nos na ficção, na verdade dos outros!
E com isto chego à conclusão nada inédita de que a arte serve para isso mesmo, para dizer a verdade que calamos na vida de todos os dias... por isso nos emociona, por isso nos identificamos! Vai daí que a arte não imita a vida coisa nenhuma, supera-a quase sempre! Ou pelo menos sempre que justifica esse nome!
A vida anda demasiado preenchida com banalidades... ou como escreve o Miguel, as pessoas, "em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro... Muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão. "
Às vezes não entendemos logo porquê, mas o cérebro faz curiosas associações... e o meu foi buscar agora o "Few of us" do Sharunas Bartas. Eu tenho o desolador hábito de me esquecer até dos filmes de que gostei..., mas deste não me esqueço, de tal maneira me atingiu aquele silêncio... de tal forma gostei daquela partilha, de perceber o tanto que o silêncio pode dizer. O Paulo Branco, que o produziu, aconselhou a certa altura que se escrevesse pouco sobre o filme, já que "está para lá das palavras!"
Eu desobedeço-lhe com medo de que a memória me traia...
No hay comentarios:
Publicar un comentario