Este cruzamento de ideias agradou a alguém ao ponto de pagar 192 mil euros pela peça, num leilão da Christie's, realizado ontem.
A autora de "Cinderela", um sapato de tacão gigante feito só com tachos e testos, grita pela cultura e pelas tradições portuguesas e grita sobre o papel da mulher na sociedade. Frida Kahlo também fez das tradições mexicanas o fio condutor da sua obra e também elegeu a mulher, ainda que numa perspectiva de introespecção mais do que sociológica.
Frida colocava-se ao espelho enquanto Joana é a observadora externa. Mesmo nas suas obras, é muitas vezes o terceiro elemento. Na colcha de renda gigante, que vestiu uma torre do castelo de Santa Maria da Feira e depois pendeu da varanda da Ponte D Luis, no Porto, foi a coordenadora de muitas mãos de fada, especialistas em crochet.
O nome de Joana é dos mais internacionais das artes plásticas portuguesas... A fórmula de Joana é brilhante: passa a mensagem da estética e das tradições de um povo e convoca a discussão sobre a condição feminina.
Não há fórmulas certas. Se há traço que caracteriza a arte contemporânea é a total ausência de espartilhos (Frida percebeu-o bem), mas a fórmula de Joana parece-me potencialmente mais certa do que a de muitos outros: faz sentido criar sobre o que melhor conhecemos, faz sentido criar sobre o que melhor nos define, faz sentido diferenciar-nos à boleia disso... Ela faz tudo isso, tal como Frida o fez.
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