lunes, 20 de julio de 2009

Dolce, ma non troppo!

De dentro do helicóptero, ele (jornalista) pede-lhes (às dondocas estilosas que apanhavam sol na cobertura de um prédio) o número de telefone, que não chega a obter e nunca obteria tal é o barulho da hélice, tal é o barulho da vida, para quem não estaciona em quase nada, para quem opta pela sedução do imprevisto... E talvez não lhe interessasse genuinamente aquele número, pelo menos não tanto como lhe interessava pedi-lo!
Começa assim o "La Dolce Vita" de Frederico Fellini, um filme tão cheio de detalhes, de entrelinhas, que merece (carece de) ser visto mais do que uma vez...

A história começa com uma falha de comunicação e é com ela que acaba, já que a menina angélica da sequência final também grita qualquer coisa que o nosso protagonista não capta, mas ficamos com a impressão que é essa mensagem que ele vai agarrar, como trilho de vida...

Porque o filme, que se passa em Roma, a capital do catolicismo, também é sobre a busca de um sentido para a vida e sobre a dúvida do que ela possa ser: viver intensamente como se não houvesse amanhã será talvez evitar ou protelar esse amanhã porque não queremos ou não sabemos tomar decisões e com elas preterir a multiplicidade de opções que só quem se sujeita à espontaneidade conhece!

Vemos Jesus (em estátua) suspenso do helicóptero a sobrevoar Roma, a mesma Roma que engole o "milagre" encenado da aparição de Nossa Senhora a duas crianças! Porque na vida, buscamos os milagres e acreditar neles, para nos facilitar a opção, para não andarmos à deriva...

Talvez a deriva seja mais verdadeira do que as certezas que achamos que temos, sugere uma das personagens, aparentemente alinhada, quando decide matar os filhos e se suicidar!

Foi uma excelente ideia assistir na Alameda à sessão de cinema ao ar livre e rever o "La Dolce Vita"

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