miércoles, 29 de diciembre de 2010

Dulcineia

História da Arte é o curso que irei fazer mais tarde ou mais cedo...Como sou hedonista e não me custa nada ler mais sobre, bisbilhotar sobre, visitar museus, exposições... é um curso que vou fazendo. Os pseudo testes psico-técnicos do nono ano apontavam para aí... Já se sabe que não é difícil condicionar as respostas no sentido dos resultados desejados... Mas, embora gostasse de ser conotada com essa área (devo ter lido demasiado sobre aquarianos), do alto da maturidade dos meus 14/15 anos não me via a trabalhar directamente em Artes e decidi que haveria de seguir saúde. Afinal quisera ser pediatra durante a minha infância (e bailarina), não tinha que fugir à Matemática, a "medicina" parecia ser um bom plano, aplaudido pela família chegada, e a maioria dos meus amigos também ia seguir saúde (esse foi, percebi mais tarde, o fiel da balança, que é como quem diz, o hedonismo e o curto prazo a pesarem mais).

O problema é que me engano muito mal e não foi preciso muito para enfrentar o que já sabia: estava no curso errado. Não queria ser médica coisa nenhuma (a Grey's Anatomy não passava na época!). As minhas disciplinas preferidas eram Português, Inglês e Filosofia (já não tinha Educação Visual) e as notas saíam em conformidade. Uma péssima professora de Matemática e um desajeitado professor de Física e Química, que tornavam obrigatório o fastidioso estudo por conta própria (sempre adorei aulas, mas em casa encontrava sempre melhor maneira de passar o tempo do que a estudar), contribuíram para o meu desinteresse crescente sobre essas matérias. Em contrapartida, rejubilava com a professora de Português (acho que já escrevi sobre a Angélica aqui e se não o fiz, deveria tê-lo feito, já que a Senhora foi determinante no meu percurso), que me incentivava a "mudar de vida". Foi o que fiz e não me arrependo.
Escrever continua a dar-me prazer. Fazê-lo no papel de jornalista permite-me conhecer pessoas, lugares e histórias interessantes (também acho que já escrevi isto algures por aqui, mas eu autorizo-me a ser repetitiva). E mais importante do que tudo o resto: ainda não me lembrei de nada de que gostasse de fazer mais.
Quando surge alguma ameaça nesse sentido vem precisamente do lado das Artes (ia, sem pestanejar, dirigir o gabinete de comunicação de Serralves)...
Poderia ter optado por recordar "The Fallen Madonna With the Big Boobies", que andou de mãos em mãos na saga do "Allo, Allo", mas não resisti à introspecção como prefácio à única notícia que li na totalidade durante a minha ronda pelo mundo de papel digital...
(para quem não partilhar do meu entusiasmo, abrevio: a notícia versa sobre os quadros roubados que mais infrutífero trabalho têm dado à polícia espanhola)
E nunca se sabe, se um dia tropeçaremos num destes...
A polícia espanhola, talvez pouco crente na sua recuperação, colocou-os numa base de dados a que chama Dulcineia!



Adenda: Claro que tenho esperança que alguém em Serralves chegue a este post e decida testar o meu potencial!
E se não chegarem até mim assim, é porque alguém no gabinete de comunicação não está a fazer o trabalho como deveria ;-)
E não, não estou armada em D. Quixote!

lunes, 27 de diciembre de 2010

Podia bem ser cozido à portuguesa e fado

Já não me lembro se foi em 2009 ou em 2008 que vi "O segredo de um cuscuz" pela primeira vez. Revi-o no sábado e reforcei a minha convicção contra as generalizações e contra os preconceitos.

É este o tipo de cinema que justifica um subsídio. De repente, conhecemos melhor uma família de imigrantes, de repente conseguimos estar nesta família de emigrantes, porque algures já sentimos na pele como a discriminação corrói.

Nem todos podem viajar e conhecer outros povos, mas o cinema, como a literatura, como a Internet, deixam-nos sem desculpa para dizer coisas como "os muçulmanos são assim, os brasileiros são assado..."

Se olharmos mais de perto, nos defeitos e nas virtudes, somos menos diferentes do que parecemos. As diferenças culturais não interferem no carácter.

Mas, muitas vezes, é também a arte que ajuda a perpetuar o preconceito, a generalização, mesmo quando o faz encapotada de humor. Lembro-me da caricatura, quanto a mim preguiçosa, aos japoneseses, num filme de que até gostei muito, o "Lost in translation"... Outro exemplo é o da imagem da "família à portuguesa" no "Love actually", ainda por cima de influência italiana, porque os homens portugueses não costumam beijar-se na face (Lúcia podias tê-los poupado a esse lapso!). É que até uma caricatura deve basear-se num fundo de verdade e também me custa que seja apenas básica, como se para caricaturar fosse dispensável a imaginação.

jueves, 16 de diciembre de 2010

viernes, 3 de diciembre de 2010

Mitos gregos... as time goes by

Quando um clássico (o calendário da Pirelli) recruta Lagerfeld, que se inspira nos clássicos (gregos)...


miércoles, 1 de diciembre de 2010

Declaração de independência! A minha.

A coerência é um desafio que dá um trabalho danado e valentes dores na consciência! Quando me dá para deslizar para a moralização, também acontece tropeçar nos estilhaços dos meus telhados de vidro!
Às vezes a coisa corre muito bem, como quando decidi comprar casa. Depois de sujeitar o meu “sócio” a uma argumentação quilométrica sobre como chega a ser quase indecente comprar casa nova nesta Lisboa de centro histórico moribundo… Pelo contrário, comprar em segunda ou décima quinta mão é contribuir para a preservação do edificado, desperdiçando menos recursos, porque não podemos estar sempre a criticar os prédios devolutos, as fachadas seculares em decadência e depois, na hora de intervir, preferimos uma casa num prédio novinho em folha, quase sempre encavalitado noutros velhos ou novos, sem comércio e sem jardins à volta, sem espaço para circular, sem espaço para estacionar, que é assim que se constroem a maioria dos novos prédios (acessíveis a bolsas como a minha) na Lisboa onde ainda há espaço… E acautelei também que ir para os arredores de Lisboa é acentuar o “efeito dormitório” e a desertificação do coração da cidade… Que não queria passar boa parte da minha vida em transportes públicos e que já sou deslocada da família, pelo que não era justo que também me sentisse deslocada dos amigos e da vida de que usufruo por estar em Lisboa. Que Lisboa só para trabalhar não tem graça nenhuma…
Não sei bem se foi mérito da minha choradeira, capaz de derreter o bronze ao Oscar, se da providencial clarividência do meu pai, que nos alertou para os potenciais problemas que prédios com dezenas de condóminos prometem, mas lá acabamos por eleger um apartamento usado no pitoresco (leia-se caótico) bairro dos Anjos, a dois passos da linha do afamado 28, que volta e meia suspende a marcha, momento, quase sempre longo, patrocinado por um incauto condutor que estaciona na esquina de que o eléctrico precisa para fazer a curva.
Sim, que as juntas e a CML pouco têm feito para travar a vontade de fugir dos moradores que ainda resistem em Lisboa… E isto da consciência é um luxo que nem sempre podemos autorizar…
No domínio casa, a minha consciência e a minha coerência passaram com distinção, mas não é bem assim noutros parâmetros…
Eu embirro com a maioria da nova construção em Lisboa quase tanto como me envergonho do modelo de centros comerciais à la Belmiro, que se multiplicam por este Portugal soalheiro, e no entanto passo a vida a prevaricar. Em Lisboa nem por isso, já que opto pela Baixa, para a qual consigo ir a pé, mas no Porto custa-me mais evitá-los, ou porque determinada loja não existe noutro sítio, ou porque me desafiam, ou porque eu desafio, ou porque faz frio, ou porque faz calor, ou porque o IKEA é uma âncora de peso…
E ontem, em conversa com outra portuguesa e com uma galega, a certa altura, comentávamos que no quarteirão Saldanha/Picoas há a maior concentração de centros comerciais do mundo (cinco) e esse deverá provavelmente ser um título vitalício (duvido que se repita tamanha estupidez), do qual não devemos orgulhar-nos. E toca a defender que o único conceito de centro comercial que considero tolerável é o do Fórum de Aveiro, onde as lojas têm direito a rua, mas esta não dispensa um generoso passeio coberto, que intercede contra a chuva e contra o sol…
Daqui à conversa sobre a necessidade da imparcialidade no jornalismo foi um passinho, porque às tantas digo que me apeteceria perguntar a quem de direito se têm consciência de que autorizam sem freio sucessivos caixotes de consumo, se não pensam nas consequências… Bem sei que o mercado ainda lhes dá razão e que edifícios monstruosos como o Colombo já ganharam prémios internacionais… E que as batatas fritas também fazem mal e não vamos por isso crucificar quem as produz…
Por outro lado, não é por comer batatas fritas que me vou esquecer de que fazem mal. Como também não será por ter imensa dificuldade em ser coerente, que me vou demitir de ter opinião. E, em última análise, não será por ser jornalista que o farei. E é aqui que se instala a confusão: venderam-me a imparcialidade quase como uma negação da capacidade crítica e frequentemente a confundem com ética.
A imparcialidade, da forma como eu a entendo, não existe, a não ser no formato notícia de agência, o tal que apenas responde ao “quem, quando, onde e o quê” e aflora factualmente o “como e o porquê”. Num artigo mais alargado e com alguma análise a coisa complica-se porque uma coisa é tentar ouvir todas as partes implicadas, pesquisar exaustivamente o tema, o dever de relatar a verdade, outra coisa é prescindir de sentido crítico e deixar de perguntar, de questionar, por temer denunciar que se tem esta ou aquela opinião…
O jornalismo em que eu acredito deve ter causas. Os jornais, as revistas e os demais órgãos, não prescindindo das obrigações éticas, nem do compromisso com a verdade e com a justiça, devem deixar claro o que defendem, e não estou a falar de cores políticas, estou a falar de princípios políticos, de opções editoriais claras. Se a aposta é a sustentabilidade, por exemplo, todos os artigos devem sempre que possível dar resposta às preocupações do leitor nesse domínio. Ou seja, não se trata de não noticiar mais um campo de golfe, mas sim de o fazer com o cuidado de analisar que consequências terá para a comunidade e para o país numa perspectiva de sustentabilidade, ou seja, de longo prazo. Acredito mais neste jornalismo do que noutro qualquer. Acredito mais neste tipo de fidelização de leitores (por identificação com determinados valores, por coerência) do que noutro qualquer.
E enfim, se a imparcialidade fosse um valor no jornalismo, “A Bola” não seria um obituário (do Benfica) com tantos leitores em Portugal.
E por falar em obituários, no meu gostaria que constasse o seguinte: “Foi jornalista, esforçou-se por não ser imparcial e conseguiu ser justa, bem como eticamente correcta”. Seria um final feliz.

PS: Fosse eu o Sr. Belmiro e zelaria para que alguém, no departamento de comunicação, googlasse regularmente a expressão “centro comercial” e afins, para ver o que se diz sobre o sector, o que inclui a menos filtrada blogosfera… Pode ser que assim perceba que os consumidores estão a mudar e que tem tudo a ganhar se optar por um novo paradigma! Sr. Belmiro, reinvente-se! Revolucione!

lunes, 29 de noviembre de 2010

Frio, porque há muito que lhes falha o calor


Mantinhas azuis e escuras à nossa espera. Isso e um tecto trabalhado e mal caiado para nos fazer pensar sobre as ruínas que autorizamos na cidade que é património da UNESCO. Autorizamos ruínas de um património de que nos deveríamos orgulhar por todo o país. Mas essa nem sequer é a nossa maior ruína…
Um plástico transparente entre eles e nós e depois cai o pano. Não costuma cair o pano antes de começar, mas aqui é assim que começa.
Um pano branco, com ares de tela de cinema, que vai ficar lá até ao fim, para nos filtrar a realidade. Estamos já habituados a filtrá-la, a impor-lhe uma distância, pelo que não estranhamos assim tanto vê-los a eles do outro lado.
E estava frio, muito. O termómetro do carro haveria de marcar zero graus duas horas depois.
Para eles, o frio é cenário e estado de espírito. Tapam-no com sobrepostas peças de roupa, tampam-no com o álcool, o mesmo que esconde o que lhes sobra ainda de vontade, o mesmo que lhes acrescenta resignação.
As quatro histórias que o Glowacki cruza colocam-nos como espectadores desse estado terminal da dignidade, da nossa e da deles. E espectadores é o que optamos por ser quase sempre, só que o Glowacki e a bruxa Teatro obrigam-nos a ter consciência de que é só isso que fazemos.

viernes, 19 de noviembre de 2010

Caricias que parecen mariposas...

Faz tudo bem!
Elogia-lhe a pele sedosa, enquanto a percorres com os dedos
Não negligencies o olhar, pousa-o demoradamente no dela, sem falar
Sente-lhe o perfume e a textura do cabelo
Beija-lhe a nuca nua num sussurro
Ela obedece-te a partir daí, fingindo que nem desconfia que tudo nela é uma ordem

viernes, 12 de noviembre de 2010

Quentes e boas!

Não me lembro de mais nenhum título de qualquer outro texto dos livros de leitura da escola primária, mas lembro-me do "Quentes e boas!", a anunciar o Outono! Bom, também me recordo de outro texto que falava sobre um plátano centenário de folhas "escarlates"! E o escarlate deve ter sido o que bastou para não me esquecer do texto, cujo título não gravei...

Fiquei ali uns minutos à espera que as 12 castanhas se assassem e que o vendedor as empacotasse no cone, que desta vez não era de papel jornal, nem de páginas amarelas.
E fiquei ali a lembrar-me do pregão que dava nome ao texto sobre o Outono e a olhar para o ponto em que encontrava o Senhor que acenava e sorria, sempre que a noite já ia alta, mas ainda não era madrugada, mais ou menos à hora em que terminam as penúltimas sessões do Monumental... Ninguém ficava indiferente ao adeus, nem à figura, que a mim me recordava o Andy Warhol..."

"Foi uma figura, nunca um figurante"...

Foi sobre o "Facebook" a sua última crónica, a que escrevia indirectamente, através de um amigo, com quem assistia, semanalmente, a um filme...

As castanhas, assadas no fogareiro ambulante, estavam como costumam estar: quentes e boas!

jueves, 14 de octubre de 2010

"E tu bem sabes como o tempo foge"

Viajar tem pouco que ver com carimbos no passaporte e muito mais com experiências, no Intendente, ou em qualquer outra morada.
E há um "bilhete de viagem" que entalei na prateleira durante dois anos. Chama-se "África Acima" e foi escrito pelo Gonçalo Cadilhe, que viajou de facto por ela acima. Resgatei-o na segunda-feira, para "dar um tempo" a outro livro que não me anda a entusiasmar... Durante dois inícios de noite andei por África. E sei que os meus dois últimos anos teriam sido diferentes se tivesse dado "uso ao bilhete" mal o comprei. E já o sabia quando o comprei.

Uma das partes do livro, que só por si justifica a viagem:

"O Lubango diz-nos respeito, e ainda vamos a tempo de o preservar para a memória futura de Portugal. Lubango devia candidatar-se a Património Mundial da Unesco e Portugal devia tomar como missão, como desígnio nacional, esta candidatura. Portugal devia oferecer-se a Angola para fazer desta cidade um monumento único no género no mundo: recuperando-a, investindo nela, ajudando-a a reencontrar um sentido, uma razão de ser... Um patético "arranha-céus" está a ser projectado no centro... Se for para a frente, a integridade do Lubango será estilhaçada e a cidade nunca será património da Unesco... Hoje em dia não existe nada mais progressista do que a preservação das próprias raízes."
(Isto a propósito de uma cidade que congelou na arquitectura do Estado Novo - que eu classifico de equilibrada -, coisa que não aconteceu em mais nenhuma cidade made in ou made by Portugal)

Vou roubar ao Gonçalo (o "meu") uma foto do Lubango :)
Quando voltar a Angola (que vou voltar) irei verificar se o tal arranha-céus está lá para impugnar a sugestão do Gonçalo (o Cadilhe). E fotografo eu o Lubango. Prometido.

miércoles, 13 de octubre de 2010

"Levantados do chão"

Fora do contexto, talvez tivesse reservas em afirmar que me interesso pouco pelas notícias, as dos noticiários, as das primeiras páginas dos jornais. Passo por elas. Na verdade, todos, apenas, passamos por elas, pelos títulos, pela imagem fugidia.
Mas neste contexto, neste Paleio, autorizo-me a revelar que, sendo jornalista, me interessam pouco as notícias. Já as histórias interessam-me bastante. Não é preciso explicar, pois não?

E como isto é uma espécie de diário, de auxilar futuro da memória, não quero não registar que hoje é o dia em que os 33 mineiros chilenos começam a ser devolvidos à luz do dia. O acaso, e talvez o espírito de entreajuda, fez deles heróis.

O El País tem contado bem a história. O que me lembra do mais perto que está a imprensa espanhola da América Latina! E o tão longe que estamos do resto do mundo com que partilhamos a língua e o mau que isso é culturalmente e o mau que isso é economicamente, já que desperdiçamos esse efeito de escala fantástico que é ter tantos milhões a falar português. Mas, não. É mais fácil continuar a afundar jornais, como o Público, e a ensaiar outros jornais, que incorrem nas mesmas lacunas dos restantes, como o I ou o Sol...
Pequeninos é o que nós somos, porque ainda achamos que o tamanho (do país) conta, já que temos curtas vistas.

viernes, 1 de octubre de 2010

Na Tutulândia

Há abelhas profissionais que fazem mel nas colmeias do telhado cinzento da Ópera de Paris. Do outro lado do telhado, mais ou menos no centro, está um tecto de cores mágicas pintadas por Marc Chagal, que nos deixa hipnotizados e à beira de um torcicolo. E por aquela escadaria palaciana e por aqueles corredores passeiam-se sabrinas e pés nervosos a caminho do linóleo das salas de ensaios, onde o piano lhes ditará: plié, degagé, arabesque...
E há uma teia gigante com dezenas de projectores e cordas longas que enrolaram e desenrolaram centenas de espectáculos. E há gente que zela para que os tectos, os soalhos, as paredes, as cadeiras de contornos dourados, forradas de veludo vermelho, mantenham o esplendor do Palais Garnier.

Não fui eu que escolhi, mas uma "fada-madrinha" tratou de me colocar nesse quarteirão na semana em que vivi em Paris... Num pequeno hotel, que terá sido atelier de Henri de Toulouse-Lautrec, que também pintou bailarinas clássicas (estava tão perto delas), ainda que tenha ficado conhecido por retratar sobretudo as de cabaret...
No penúltimo dia sentámo-nos a almoçar nas escadas exteriores do palácio, a sentir o reboliço, a corrente eléctrica da zona... Talvez tivessem por nós passado alguns dos protagonistas de "La Danse", o documentário que entra na vida do Ballet de L' Opera de Paris, uma das melhores companhias de dança do mundo...

Claro que fui ver e adorei. E vinguei-me de não me terem permitido entrar no grand salon, depois de pagar oito euros para conhecer o palais. Na altura confirmei pelos postigos das portas de acesso à plateia que se ensaiava no palco...

Imperdoável não me ter sentado também nas cadeiras de veludo vermelho.
Vai ser difícil esquecer-me deste PS.

viernes, 24 de septiembre de 2010

"Los Angeles", Lisboa, a caminho da aula de flamenco

Semáforo vermelho. Escutava a canção de Antony and the Johnsons que passava a Radar. Olho para a esquerda, para a papelaria dos indianos, e apanho a empregada mais jovem, filha dos donos, do lado de lá do balcão a cozer um lenço de um lindo verde garrafa com bordados cor de prata. Ela levanta as pálpebras pestanudas e sorri-me. É sempre o que fazemos, quando por lá passo a pé e a encontro à porta, como se por estupidez espontânea temêssemos não entender o "olá" na língua de cada uma...

Uns minutos à frente, já era uma música do "Automatic for the people" dos REM que a mesma rádio propunha. Paro porque um grupo de jovens trajados de sapatilhas e calções atravessa a rua a passo de corrida. Fiquei com inveja do jogging deles. Ou antes, do voluntarismo que exibem. Correr é mesmo o desporto mais barato e acessível. Desarma qualquer preguicite disfarçada de desculpa. Depois da inveja, chega-me a consciência pesada. O que me vale é que sou hedonista e, por sorte, gosto de dançar, e danço. Vale-me isso e o autocarro que persigo para me distrair do mea culpa. Pára na diagonal junto à paragem, justamente para impedir que o ultrapasse. Também é certo que quando não o fazem, secam até que algum condutor generoso os deixe voltar a alinhar-se na faixa de rodagem. Típicos ambos os casos. Insulto-o em silêncio, enquanto me ferve o sangue nas veias. Alertam-nos para os perigos de uma alimentação desequilibrada, para a falta de exercício físico, mas esquecem-se que a falta de civismo é muitas vezes o catalisador que falta para o colapso das coronárias.

... Entretanto já estacionei e aguardo que a aula que precede a minha termine. Quase a chegar ao pé de mim, um senhor rosadinho e com andar pouco articulado levanta o dedo indicador até junto dos lábios fechados a pedir-me cumplicidade e, alertado pela música, aponta de seguida para a janela que deixa ver uma nesga da coreografia de flamenco. Quando chega ao pé de mim, ainda me pergunta: "É chinesa ou indiana ela (a professora)?
Respondo-lhe que é portuguesa. Ele muda logo de conversa e, a olhar para a esquina, onde um painel de azulejos anuncia que ali começa a Rua Francisco Lázaro. Diz-me: "Ninguém o parava!" Reparo que no painel está também desenhado um atleta a correr... Googlei o nome e sei agora que Francisco Lázaro era maratonista e morreu dopado, naquela que foi a primeira participação portuguesa nos Jogos Olímpicos, em Estocolmo 1912 (Suécia). A autópsia apontou desidratação e insolação como causas da morte, o que foi relacionado com o facto de ter coberto o corpo com sebo... Mais tarde descobriu-se que foi vítima de "emborcação", uma mistela de essência de terebintina (anestésico) e ácido acético (vinagre), usada como um complemento do treino.

Ainda não sabia disso quando fiquei a especular sobre o triste que talvez se sentisse o senhor rosadinho para recorrer àquele doping - álcool.

lunes, 20 de septiembre de 2010

Tiros no pé

“O modelo cubano nem para nós já funciona”, terá dito Fidel Castro e até admite que o disse, mas logo veio alertar que foi mal interpretado, pois queria significar justamente o contrário. Na verdade custa-me a crer que o Senhor tenha tido um momento de clarividência e se teve, está provado, foi mesmo um momento apenas.
Entretanto o mesmo Fidel anuncia que o Governo vai despedir um milhão de funcionários públicos! E metade é já nos próximos seis meses. Se isto não é dizer por outras palavras, as mais claras, que o modelo cubano não funciona, é o quê então?

Mas tudo isto é perigosamente relativo, como é relativo o sucesso do socialismo sueco, posto em xeque pelo feito dos Democratas (o partido de extrema direita sueco), que conseguiu entrar no Parlamento e eleger 20 deputados. Estamos a falar do partido que terá manifestado intenção de acabar com a forte imigração (mais de 100.000 pessoas ao ano) no país...

O conceito de imigração parece-me obsoleto... Somos todos cidadãos do mundo desde que capazes de respeitar o próximo. Quem vier por bem (leia-se disposto a aceitar as regras de cidadania) deve ser bem recebido. Caso contrário, percebo muito bem que deva ser sancionado, da mesma forma que os nativos... E que eu saiba não exportamos nativos quando eles se portam mal?
Convém é não pegar no assunto da forma trôpega como o está a fazer Sarkozy, arriscando-se a ser ele o sancionado, tal é a sua falta de tacto...
E estamos ou não estamos com problemas de natalidade na Europa? Não seria melhor pensar a sério numa política inclusiva para estes imigrantes em prole do equilíbrio demográfico? O desafio é converter os fora-da-lei em gente de bem? Esse dá muito mais trabalho, pelo que toca a contornar o problema e contornar o problema é o mesmo que ampliá-lo.

E antes que avancem os extremismos, convinha também repensar a educação política e a forma como se ensina História nas escolas.

jueves, 16 de septiembre de 2010

FADO

Na sala ainda se falava quando principiavam a sussurar a guitarra e a viola... Percebemos a ideia e passámos a sussurar também até nos calarmos de vez. Ela pega no xaile negro de franjas longas e coloca-o sobre um ombro apenas, deixando-o descair no outro até à linha da cintura. Volta-se para os seus músicos e segreda-lhes... o nome da música, julgo.

Não nos olha nunca, mas dá a volta à sala com os olhos antes de os fechar e começar a cantar, a contar-nos uma história que nos fala da saudade, da dor do desamor e da ausência...
Compreendo ao ouvi-la que é obrigatório ter sofrido por amor algum dia. É obrigatório para entender boa parte da poesia, boa parte da arte, boa parte da verdade que há quando um artista se dá.
E lembrei-me das palavras que um dia um amigo, amante de Fado, me disse: "É fadista aquele que sente o Fado e não apenas quem o canta e nem sempre quem o canta."

martes, 14 de septiembre de 2010

La vie n' est pas en rose

"Na vida é preciso sempre ter qualquer coisa a que renunciar."

Escolhi o filme pelo título, "Non ma fille, tu n'iras pas danser", e pelo realizador, Christophe Honoré, de quem tinha visto apenas um filme, "Ma mère", daqueles duros de engolir, a doer.
Este não lhe fica atrás. Também nos questiona? Questiona até que ponto é débil o nosso equilíbrio.

jueves, 9 de septiembre de 2010

Eu, mas na versão "fada do lar"

Fada do lar graças aos toques mágicos de varinhas alheias... O Verão não foi rico em deriva geográfica, mas foi generoso em dicas gastronómicas!

... Há cerca de um ano, um italiano quase me batia porque estava a cozinhar massa em calda de estrugido com tomate, ao qual ia acrescentar atum! "Isso nunca, jamais se faz à massa", dizia... Na altura o rapaz irritou-me um bocadinho e não desenvolvemos muito o assunto... Até porque a minha massa preferida, a "massa à lavrador da minha mãe", é cozinhada em mixórdia com couve, feijão e restos da carnes do cozido à portuguesa! E porque não concebo que possa haver limite (a não ser o do bom senso/paladar) para a criatividade gastronómica.
Este Verão voltei à carga com uma prima que já vive em Itália há muitos anos... Explicou-me que por lá a massa é apenas cozinhada em água e sal. Só assim se consegue perceber se é boa, dependendo da viscosidade que deixa na água (ao que percebi, quanto menos viscosa, melhor). Depois é que deve ser misturada com molho e aí é que os italianos gostam de ser criativos. Gostei da explicação e das receitas, o que não me fará prescindir da "massinha à lavrador"...

Já na Corunha, onde tivemos direito a visita guiada feita por um galego encantador, indaguei uma vez mais junto da portuguesa, agora também galega, que é sua mulher, como fazer tortilha, a simples, de batata, ovo e cebola, que é a de que mais gosto... Vou tentar que a coisa não volte a ficar com aspecto de ovos mexidos!

Mas no topo das dicas, coloco as que me deu o dono de um restaurante (recomendado no guia Michelin) que entrevistei em Caminha. Além de já identificar quem é a peixeira de confiança, a que mais percebe do que está a fazer, no mercado da cidade, passei a saber que "o melhor tamboril é o de barriga preta", ao contrário do "branco que não sabe a nada", e que o linguado mais saboroso é o pintarolado (apresenta pintas). Já o robalo e a dourada, não há que enganar: "as escamas devem ter um aspecto colorido e selvagem"!

E lembro-me agora que há uns anos foi um pescador de Vila Praia de Âncora que me explicou que o polvo deve ser congelado antes de cozinhado. Conhecimento que aprofundei em Tavira, onde o especialista local me fez saber que o polvo é dos mais inteligentes seres marinhos que há e é bicho que demora muito a morrer. Por isso é que tem que ser congelado, antes de ir para a panela, para ter tempo de morrer... Ah! E nada de panelas de pressão, que não há dois polvos iguais, pelo que é impossível determinar o tempo de cozedura como se fosse uma regra! É ir picando!

martes, 7 de septiembre de 2010

Como?

Um filme sobre o que mais importa:
Amizade
Ética
Dignidade
Justiça (acima da verdade)
Amor
Humor


Um filme que eu já não esperava ver no cinema porque adiei muito a ida. Surpreendentemente persiste no king e ontem ainda a sala estava bem composta, numa sessão de fim de tarde.

lunes, 6 de septiembre de 2010

Amor/Ódio ao mar

De tal forma estavam fartos do mar que construíram as casas de costas para ele. Talvez não seja caso isolado, este, dos pescadores da Corunha, mas foi o primeiro de que tive conhecimento. Foi "a dica" de que mais gostei, a que mais me intrigou, da lista de obrigatório ver e saber que me passaram as minhas colegas galegas, sabendo que eu planeava uma visita à cidade delas.
Logo me lembrei dos meus amigos mais atlânticos, que na serrana Covilhã penavam e faziam questão de anunciar o quanto penavam por ficarem semanas sem pôr a vista no"seu" mar.

Eu, insensível, nasci em Matosinhos e não renego o pedaço de mar a que tenho direito, mas não sou muito dada à saudade com cheiro de maresia. Pelo contrário, senti-me logo cúmplice destes pescadores, fartos do mar com quem contracenavam muito mais do que o contemplavam. Talvez por ter passado loooooooongas tardes de domingo enfiada no banco traseiro do carro, com os meus pais, a ouvir o relato de futebol e a olhar para o mar... Como me pesava ser filha única nesse tempo. As casinhas dos pescadores lá estavam, encantadoras. Se tinham mau aspecto as tais traseiras, os galegos tratararam de as cobrir com umas charmosas vidraças brancas quadriculadas, todas iguais (nada que possa ser confundido com o mau gosto português de tapar varandas, seja nas frentes, seja nas traseiras, cada uma com um material mais feio que a outra... No mesmo prédio podem ser vistos alumínios e vidraças de meia dúzia de cores diferentes! Assim, como se fosse um catálogo), que reflectem a luz da marina. Anoitecer por ali amortiza um ano de tardes no banco traseiro do Renault 16, a olhar o mar de Matosinhos... Quem pousa em A Coruña não vislumbra qualquer ressentimento em relação ao mar (é mais fácil encontrá-lo na costa portuguesa). Reconciliaram-se e tiram partido dele da melhor maneira, seja através do circuito de eléctrico (azul) que acompanha a linha de água, seja pelos canhões, que assinalam o estratégico que era/é o posicionamento da Corunha em tempo de guerra, integrados agora no parque de lazer do Monte de São Pedro, pavimentado de erva verdinha e dada ao rebolanço... Seja ainda, no extremo oposto da cidade, pela obrigatória cruzada ao mais antigo farol romano em actividade. Há quanto tempo já se "contemplava" o mar! Voltarei a A Coruña para melhor lhe conhecer as entranhas.

miércoles, 1 de septiembre de 2010

Cegos na cidade da luz

À falta de vontade para teclar em causa própria, toca a citar a vizinhança... O alfaiate costurou um interessante artigo sobre a ligação paradoxal que os lisboetas têm com a sua cidade e aproveitou para divulgar o festival Out Jazz...

Os dados que evoca (e tem o cuidado de explicar que são especulações suas) dizem respeito sobretudo a Lisboa, mas o registo comportamental (especulo eu também) é válido para o resto do país, um país de sol, muito sol. Estas considerações, que não devem afastar-se muito da realidade, deveriam fazer pensar autarcas, comerciantes, agentes culturais e, claro, os cidadãos!

E sinto-me com legitimidade para o sermão porque tento remar contra esta maré, fartando-me de ouvir negas! com desculpas tão esfarrapadas como "cansaço laboral", a mais frequente apesar de ser a que menos justifica legitimamente a vontade de ficar em casa... Já dizia uma antiga professora minha "descansar é mudar de actividade e não forçosamente fazer nada"...

De outra forma, como prega o alfaiate:

"Um londrino passa o dobro do tempo que um lisboeta nos parques da sua cidade.

Só no centro histórico de Tallin há mais 23 esplanadas que em Lisboa e toda a sua área metropolitana.

A percentagem de executivos suecos que usa fatos de linho é o dobro da dos executivos portugueses.

Os habitantes de Dublin sorriem, em média, mais 2,43 vezes por dia que os lisboetas.

Em média, um guarda-roupa duma madrilena tem mais 4 mini-saias que o de uma lisboeta

Em pleno Dezembro, há cerca de mais 5.000 ciclistas nas ruas de Riga que nas nossas avenidas.

Entre 21 de Dezembro 21 de Março um milanês, em média, junta-se 7 vezes mais com os seus amigos depois do trabalho que um lisboeta (essa mesma relação, entre 22 de Março e 20 de Junho, dispara para 11 para 1)

A probabilidade de um lisboeta experimentar, a partir das 17h de Domingo, um sensação de apatia aguda ou leve depressão por não conseguir tirar da cabeça a ideia de que terá que trabalhar no dia seguinte é 9 vezes superior à dum berlinense.

Por ano, realizam-se 3 vezes mais concertos ao ar livre em Bruxelas que em Lisboa.

Um adolescente moscovita tem 3,5 vezes mais lata para abordar a miúda que mora na rua da frente com quem se cruza diariamente enquanto ambos passeiam seus cães que um adolescente lisboeta (sabendo-se que este último, apesar de ter a jogar a seu favor uma probabilidade 7 vezes inferior de estar a chover e 23 de estar um frio de rachar, prefere tentar encontrá-la no Facebook)"

martes, 31 de agosto de 2010

! e !

Cheguei há pouco da sorna e tenho andado a vasculhar o que se se disse, o que se escreveu e publicou na minha "ausência"...

Para a posteridade (a minha) gravo a entrevista de um português de que me orgulho ao El Pais: José Mourinho

e um artigo fantástico da Rita Ferro sobre os predicados e os delitos dúbios da fidelidade e da infidelidade.

martes, 10 de agosto de 2010

O pântano em que se movem as certezas absolutas

O problema é a multiplicidade de cinzentos que esticam o caminho entre o branco e o preto.
Admito que quando olhei para esta capa da Time condenei-a imediatamente e condenei o jogo que faz com este título. Condenei o "nós" que adoptaram os responsáveis editoriais da revista. Indiscutivelmente eu teria optado pela terceira pessoa.
Mas depois li o artigo disponível na edição online e lá vieram os cinzentos minar o meu julgamento a preto e branco...
É fácil a comparação com a edição da National Geographic que também colocou uma mulher menina afegã na capa. Duas mulheres num país onde ser mulher é um risco acrescentado à dificuldade que representa lá viver por estes e naqueles dias.

Aisha, a menina da Time, ficou neste estado, alegadamente, à custa do marido. Fugiu a tempo de garantir a sobrevivência. Diz a Time que Aisha foi recolhida por uma organização humanitária e será submetida a uma cirurgia reconstrutiva nos EUA. A revista pega na história de Aisha para questionar o que vai acontecer se os EUA retirarem as suas tropas do Afeganistão.
No site há também um vídeo da sessão de fotografias que permitiu chegar a esta capa. Considero demasiada a exposição que solicitaram à Aisha. Por outro lado foi precisamente o vídeo que me esclareceu. Estava a ser difícil não pensar no vampiresco desejo de vender à custa da polémica imediatista que uma imagem assim sugere...
É uma foto estudada e só possível com a cumplicidade da jovem. Eu não conheço Aisha, mas também é credível que ela queira expor-se ao mundo para que o mundo, ou alguém intervenha a favor dela e a favor dos direitos da mulher no Afeganistão. Se os EUA ficam ou não pode não ser a chave para que estes direitos sejam acautelados, mas o alheamento internacional não o é certamente.
Imagino que talvez tenham tido dúvidas os editores da Time, como confessaram ter tido os editores do primeiro jornal que publicou a foto do homem que caiu (forçou-se a cair) de uma das torres gémeas a 11 de Setembro de 2001... Há quem tente até hoje descobrir a identidade do homem e há até hoje famílias doridas que não perdoam os que publicaram a imagem. Mas a questão é que ela impede mais que qualquer outra que nos esqueçamos.

Esse é também o argumento em defesa do Museu que no Ground Zero irá garantir a memória daqui a 100 anos, quando os contemporâneos do 11/set já cá não estiverem...

E é também um pouco isso que me faz escrever aqui: questionar no futuro até que ponto eram a preto e branco as minhas certezas absolutas...

Mesmo sem coreto...

Não me certifiquei, mas os ponteiros do relógio da recentemente restaurada Torre, que nos abre a porta para a folia nocturna das noites de Verão na Rua Direita, deveriam andar perto das 4 horas... e também não me certifiquei, mas qualquer termómetro que por ali andasse deveria marcar um valor não muito longe dos 40 graus, mesmo à sombra de todos os guarda-sóis de serviço na praça de Caminha. Estavam quase todas as mesas ocupadas, o que é frequente nas tardes soalheiras. Menos normal era que todas as cadeiras se voltassem para o mesmo lado, o do palco onde tocava a Sociedade Musical Banda Lanhelense.
E que bem nos soube escutar o que se esperava de uma banda quando chegámos... Desse repertório, mais convencional, já não tivemos tempo de ouvir muito... Logo fizeram um pequeno intervalo para trocar a folha de pauta, descolar a camisa das costas e sossegar a garganta, que a sede só poderia ser muita... E começa um novo bloco: um medley de Xutos e Pontapés que põe muitos a bater o pezinho e outros, mais aventureiros, a tentar cantarolar os temas. Terminou da melhor maneira, com a minha preferida dos Xutos: Contentores...
Reportório inteligente para seduzir novos fãs e provavelmente novos músicos, como que a dizer que as bandas já não são o que eram porque "o passado foi lá trás"!

PS: O concerto integra a programação das Festas de Caminha! Mais uma bela ideia esta de pôr a banda a tocar, assim, ao ar livre, na praça, como se lá houvesse um coreto...

jueves, 5 de agosto de 2010

"Taxi driver"

Os taxistas conhecem milhares de pessoas, o que por si só os torna pessoas potencialmente interessantes, já que podem assim sugar conhecimentos das "fontes" que vão transportando, observar comportamentos, às vezes, como se quase não estivessem ali, escutar conversas que são tidas como se eles fossem surdos...
Enfim, acho-lhes piada e muitas vezes sabe-me bem aquele paleio com fim anunciado.

Há uns tempos, um português foi para Nova Iorque conduzir um taxi e depois registou em livro algumas das conversas que teve... Não cheguei a lê-las, mas a ideia é bastante inspiradora...

Muitas das minhas conversas com taxistas começam pelo futebol, o que acontece geralmente quando joga um dos clubes portugueses nas competições europeias, e daí é um saltinho para o perspicaz "a menina é do Norte, nota-se" ou o desatento com pretensões de lisonja "já deve cá estar há muito tempo, que já perdeu a pronúncia" e daí desenrola a história da vida dele, de onde veio, que nem sempre foi taxista, que tem uma filha que também é jornalista, e que transportou já fulano e que "a Simone de Oliveira é assim mesmo, uma simpatia, uma mulheraça" e que "a Madonna andava de jipe com o marido e com os filhos, quando veio a Lisboa, a passear como qualquer pessoa"... E o fado, que muitos têm a rádio Amália sintonizada, um excelente piscar de olhos aos turistas, e gostam muito e percebem de fado... E outros que reclamam do estado desalmado em que Lisboa se pôs, com prédios seculares a gritar por socorro, como se desconfiassem que esse tema me dispõe para tagarelice tempo suficiente para fazer a volta a Portugal de taxi! Mais que ninguém, estão atentos às mudanças. O novo buraco na rua, a última inovação de desvio de trânsito! E são críticos. Muito. Candidato a presidente de CML com dois palmos de testa deveria conversar com taxistas, de preferência clandestinamente, para colher mais verdade do exercício...

Anteontem (desconfio que nunca tinha escrito esta palavra antes!)nem fui eu que comecei a conversa: "Já esteve em Porto Santo?" E eu respondi que lamentavelmente não, mas que iría um dia certamente. "Parece o deserto (no que ele afirma de calma e de infinitude, pensei eu), só tem praia e é linda", comentou, aconselhando-me a que fosse mesmo. E continuava para me dizer que tinha lido que já estavam a estudar a criação de cosméticos com base na areia e na água do Porto Santo, que alegadamante terá poderes curativos. "Que bom que aproveitem o que temos de bom", dizia e lembrou-me que "já se chegou a vender aquela água para os EUA", mas "era uma pequena empresa" e "razões políticas", as quais não teve tempo de precisar porque eu cheguei ao meu destino, "impediram que se continuasse a comercializar a água"...
Um manancial dans le taxi!

miércoles, 4 de agosto de 2010

O que diz Rita

Entrei nesta bola de cristal

Ausência

Orgulho-me de Ti quando ganhas e quando perdes.
Sobretudo quando perdes.
Sabes que é maior a vitória dos que sabem perder. E Tu sabes, porque logo Te prontificas para reiniciar a luta, ou mudar de luta. Sim. É sempre de vitória essa Tua atitude.

Tenho fingido que não me atormenta que estejas longe.
Não sei se finjo por mim, se finjo para mim,
se o faço por Ela, para Ela,
ou por Ti, para Ti.
Quando ouço o nome desse país que Te alugou,
quando leio sobre ele,
instala-se em mim um certo mal-estar,
não sei se é na barriga, se é no peito ou na garganta.
Doi-me assim a Tua ausência.
Claro que não quero falar sobre isso.
Não é do Teu feitio,
nem do meu,
o que herdei de Ti.

lunes, 2 de agosto de 2010

O amor é:

"No Japão não dizemos amo-te em voz alta, mas... se me dissessem que teria que morrer pela minha mulher e pelos meus filhos, fá-lo-ia. Acho que é isso o amor."

Seis realizadores partiram pelo mundo e perguntaram "o que é o amor?"
Esta é uma das cinco mil respostas que registaram num documentário, que conclui o óbvio, tantas vezes esquecido: somos seis milhões de seres iguais quando as borboletas nos tomam de assalto a barriga... e mesmo depois delas pousarem, quando o amor é dos que sobrevive e amadurece...

A RTP2 passa algumas das respostas de tempos a tempos.

martes, 27 de julio de 2010

Sinais de fogo

Cinzas. Era a isso que cheirava com e mesmo sem a janela aberta. As cinzas que pareciam mirar-se ao espelho, tal era a cor do céu. E era também de cinzas que falavam os noticiários de meia em meia hora: 12 incêndios activos e 600 bombeiros a tentar travá-los.
The same old story.
Há muitos anos, na saudosa Grande Reportagem, já se denunciava o como e o porquê. Fazia-se o diagnóstico e prescrevia-se a receita de cura. Diagnóstico várias vezes repetido. Receita parcialmente adoptada. Como os antibióticos que não se tomam até ao fim...
A reflorestação continua a primar pela desorganização. Aquela imagem das florestas alinhadas quase geometricamente, de solos arejados, não nos pertence ainda, o que facilita a vida dos que as querem ver a arder.

Remoía isto tudo enquanto seguíamos o caminho que apelidámos de "o caminho das cegonhas". E lá estavam elas, empoleiradas nos ninhos que montaram nas "pontes" metálicas que sustêm as tabuletas azuis de sinalização das estradas, como estão sempre, aparentemente indiferentes ao tráfego, que, diga-se, é reduzido. Ainda não se paga neste troço de auto-estrata que compete com a A1, mas que quase toda a gente, generosamente, faz questão de ignorar, contribuindo para o sossego dos que por lá passam... Na volta foi construída em abono do aumento da taxa de natalidade das cegonhas!?

De repente anoitecia e detrás de um arvoredo ainda esquecido, mostra-se-nos a Lua Cheia. Mais alaranjada do que dourada, atrevida, num céu cinzento...
A máquina fotográfica estava na mala do carro e fingi que não sabia que fotografar a Lua Cheia, mesmo com uma boa objectiva, é quase sempre registar uma bolinha minúscula, infiel à original. Saquei do telemóvel e Tu, mesmo sem eu te pedir, cúmplice da minha ilusão, chegas-nos para a faixa da esquerda, favorecendo o meu ângulo, como que a dizer-me "agora, dispara agora!"

Destes sinais eu gosto.

O verbo entender

Voltando aos livros e aos autocarros, um miradouro que me apraz.

A conversa que escutei hoje, começou para mim com o nome António Quadros. Olhei para as dialogantes, duas senhoras autorizadas pelas rugas e por um entusiasmo que contagiava.
Apreciavam o Quadros e isso interessou-me. Confesso-me mais conhecedora da descendente, a Rita Ferro, que visito regularmente neste formato.
As senhoras, às tantas, já estavam a falar do "Fausto" de Goethe, que uma delas tentava ler, ainda que lhe estivesse "a custar" porque é "como os Lusíadas", ou seja "muitas vezes a gente não sabe do que está ele a falar". E assim concluía a senhora: "Muitas pessoas não gostam dos Lusíadas porque não entendem o que estão a ler".
Esta senhora é das que persiste, mesmo sem entender tudo, entende que alguma coisa vai apanhar e gosta. Gosta sobretudo de tentar.
E assim diagnostica-se o que falha no ensino da língua portuguesa: é que muitas vezes os professores (o sistema) esquecem que ensinar a entender é mais importante do que cumprir o programa. E ensinar a entender dá trabalho, já que obriga a uma cultura, que muitos professores não possuem, e a uma pesquisa, que muitos professores evitam, instalados que estão nas regalias e obcecados que se tornaram, à força de estatísticas...

Destruir antes de ler

Nada nos defende mais do que o conhecimento e nada nos oprime mais do que a ignorância. A muralha que nos impede de chegar a saber não nos protege, encurrala-nos.

Isto porque me lembrei de que o imperador chinês que construiu a Grande Muralha da China foi o mesmo que queimou todos os livros que o precederam. Isto porque este post do Pedro Rolo Duarte me lembrou que séculos depois de Shih Huang Ti, séculos depois da Inquisição, décadas depois da Ditadura Militar em Portugal, ainda se queimam literal e metaforicamente livros. É a censura do mercado, dizem.

Dizem também que há uma lei que impede de os oferecer (a partir de um determinado número). Dizem que todos os anos há milhares de livros que são encaixotados, destruídos antes de alguém os ler...
Distribuí-los por escolas, bibliotecas, prisões, colectividades, pelos PALOPs, ... deve estar fora de questão! Já não é a primeira vez que leio sobre essa possibilidade, mas não li ainda sobre a sua concretização.

Há tempos, o dono da Lello (a livraria que nos corta a respiração) me falava dessa tirania da montra e da prateleira. A que exclui indiferenciadamente nomes como o de Ramalho de Ortigão ou o de Fernando Namora...

Ideia de negócio: curiosamente ainda não vi nenhuma livraria nos Mega outlets que visitei. Porquê?

lunes, 12 de julio de 2010

Coração 1 - Razão 0


Com um beijo, quase todos nos rendemos a Casillas... Falta de profissionalismo? Nada disso, que não era hora para isso... O descontrolo, assim, também é prova de grandeza, na mesma medida em que o controlo, nesta situação, também o seria, por muito paradoxal que possa soar esta argumentação.
Quem nunca cedeu ao coração, que atire a primeira pedra... Ou ampute a que no peito responde em lugar do coração.
Um beijo assim não quer saber da razão para nada, porque a paixão não lhe obedece.
O vídeo correu os jornais de todo o mundo, os blogues, as redes sociais... e até sofrerá com toda essa erosão, mas para alguns (para mim, seguramente) é o que fica deste Mundial, juntamente com as palavras (ditadas pelo mesmo órgão vital) do treinador do Uruguay, depois de derrotar a Argentina: "Não jogámos bem, mas parece que há qualquer coisa que nos está a empurrar. Não sei o que será, deve ser a força destes rapazes."

Que força é essa?

Sonho de uma noite de Verão

O ponto de encontro era o de tantas outras vezes, junto ao Pessoa. O objectivo era sentarmo-nos junto ao outro Pessoa, o do livro, no Largo de São Carlos, e assitir sem rede ao que o Coro do São Carlos e a Orquestra Sinfónica de Lisboa nos quisessem oferecer. Oferecer literalmente, porque as noites do Festival ao Largo são gratuitas...
Foi a primeira vez em que cheguei a um espectáculo, percebi que já não havia lugar para mim, nem sentada, nem de pé, e ainda que triste, fiquei contente! Da rua por onde o eléctrico passa, sobranceira ao largo e ao teatro São Carlos, um muro de pessoas, só deixava ver nesgas da praça. Que espectáculo! Fico contente quando alguém (a organização do festival) consegue derrotar os preconceitos e os velhos do Restelo, que dizem que não há público para música clássica e canto lírico... Estavam lá (tem sido assim todos os dias) centenas de pessoas a atestar o contrário num frenesim que dava gosto! A orquestra a céu aberto, qual anfiteatro grego, o côro na varanda do São Carlos, demolidor. De estremecer!
Perante a impossibilidade de ver, contentámo-nos em escutar, mesmo ali ao lado, na esplanada do Café Haus, na companhia de um branco austríaco!

Imagino o turista ou o lisboeta mais desavisado que tenha passado pela rua de cima, de eléctrico! E também imagino o público aqui e ali distraídos pelo eléctrico num cenário improvável! Momentos mágicos! O nome do espectáculo não poderia ser mais apropriado!

viernes, 9 de julio de 2010

Os sonhos não se tabelam, nem carecem de hierarquia

... fechar os olhos e cantar com a alma os meus poemas preferidos/ restituir a dignidade do que antes era um edifício em ruínas e depois de outro e de outro.../ dançar um tango numa rua de Buenos Aires, ou talvez do Uruguay, onde ele nasceu/ ver-te abrir os olhos pela primeira vez e dizer-te que havia um mundo à tua espera/ ficar de olhos colados ao céu nocturno do deserto/ ver o mundo como se não estivesse de passagem/ ver-te sorrir a ti e a ti e a ti e também a ti...

“Hoje, se sentir medo, fique antes inspirada, porque a impossibilidade é altamente inspiradora”.

jueves, 8 de julio de 2010

Poesia entra em campo

Esta manhã foi assim que Fernando Alves falou na TSF.
Este senhor enche-me o coração de vontade.

martes, 29 de junio de 2010

Maradona e Kusturika


Maradona reconhece que é um actor, paradoxalmente não porque finja, mas porque vive. Responde assim a Kusturika no documentário que este realizador sérvio fez sobre o jogador argentino, que é também um documentário sobre ele próprio e sobre o seu olhar, sobre o seu cinema... Uma crítica que li na altura em que saíu o documentário mal dizia disso mesmo, de haver demasiado Kusturika no documentário sobre Maradona. A mim, pelo contrário, agrada-me. Nessa presença e identificação está a justificação do documentário: Kusturika admira o que é admirável em Maradona, a sua capacidade de renascer, de acreditar, de fazer os outros acreditarem, o seu sentido de justiça (ainda que possamos não estar de acordo com os pesos que ele coloca na balança) e o facto de pôr o coração e o sonho antes da razão, o facto de lhe importar mais do que o dinheiro... Não há como mostrar estas características sem as admirar.

Maradona é o jogador que perdeu para a cocaína, mas é também o homem que optou pelo Boca em detrimento de uma proposta mais choruda do Riverplat, para cumprir um sonho, é o homem que se recusou a conhecer Carlos de Inglaterra porque não tem memória curta, que marcou um golo (validado) com a mão à mesma Inglaterra no mundial de 86, no México, e chamou-lhe justiça (la mano de Dio), para vingar as Malvinas, que a Argentina perdeu para Inglaterra numa guerra quatro anos antes.

Por ter perdido a guerra, caíu a ditadura na Argentina e restaurou-se a democracia, mas isso parece não importar a Maradona, que se diz capaz de morrer por Fidel e revela ancorar nos escritos de Che Guevara as suas convicções políticas. Aqui também se deduz a cumplicidade existente entre o realizador e o jogador. E é aqui que eu deixo de entender a América do Sul, esta América do Sul que venera o comunismo... talvez quando a visitar perceba mesmo sem concordar... Talvez se eu fora Maradona

É estranho que da primeira vez que aqui coloque um trailer de um filme de Emir Kusturika seja sobre Maradona. É estranho porque deveria ser antes sobre o Underground, que é um dos filmes de que mais gostei na vida (e o na vida aqui fica bem) e o meu preferido deste realizador.

Mas foi ontem que vi o documentário e apeteceu-me este assunto de paleio, antes que me esqueça do que vi e do que senti...

lunes, 28 de junio de 2010

A origem do Roquefort

Gostei do jeito como se despe o pretensiosismo gourmet em Estômago. Eu que salivo com Roquefort e não sabia que se trata de uma "imitação francesa foleira do Gorgonzola", foi sobretudo disso que gostei. (O facto de o filme ter sido co-produzido pelo Brasil e pela itália pode ajudar a explicar o "esclarecimento!)

Também gostei da forma como entrámos nas "famigeradas" prisões brasileiras, mas sem cair na tentação da comiseração. Neste filme não se lambem feridas, só pratos :)

China?

Afixaram a foto de um jovem no quadro da cantina da fábrica de aviões. Ela apreciou-o como todos e se no princípio não gostou que a acasalassem com ele, só porque a sua beleza condizia com a dele, de tanto olhar aquela foto começou a interiorizar a ideia. Especulava sobre quem seria e como seria e como seriam os dois...
Um dia foram todos chamados à cantina e um superior explicou-lhes que o rapaz da foto tinha vinte e poucos anos, pilotava aviões e perdeu a vida em serviço porque uma das peças falhara. Uma das peças que saíra daquela fábrica de aviões, porque alguém falhara... "Pensem nisso", ter-lhes-á dito o chefe!

Esta é uma das histórias que o filme - documentário 24 City conta. O realizador Jia Zhang Ke entrevistou antigos empregados de uma ex-fábrica de aviões chinesa, bem como alguns descendentes de antigos empregados, para nos mostrar um bocadinho da antiga China da segunda metade do século XX e da actual China. O filme é construído a partir das suas respostas. Um filme que nos deixa cheio de perguntas e com a suspeita de que a China está mais perto do que parece.

O pé esquerdo dele

Trabalha com as mãos e com os olhos, mas eu talvez não tivesse dado por ele se não fosse o que deixou de ser o seu pé esquerdo. Perdeu-o no ano passado numa explosão no Afeganistão, onde estava a trabalhar. Chama-se Emilio Morenatti, é espanhol e é fotojornalista da Associated Press.
Não sei se desistiu de nos contar como vivem os que vivem nos territórios em guerra, mas agora está a cobrir o Mundial, na África do Sul...

Esta foto soberba foi captada num momento em que estes sul-africanos assitiam ao Portugal - Brasil, na sexta-feira.
Na África do Sul como no Afeganistão, este fotojornalista interessa-se (parece-me) mais pelos efeitos colaterais, do que pela batalha em si... O que me agrada.

jueves, 17 de junio de 2010

Dignidade garantida, que a dignidade não é coisa mínima

A minha avó criou os filhos dela, os sobrinhos dela e os netos dela, nos mesmos anos em que trabalhou muito no campo e em casa. Antes disso tudo ajudou a mãe a vender peixe na Ribeira e trabalhou numa fábrica. Nunca fez descontos por conta própria, porque não podia, nem por conta de outrem, porque o patrão meteu ao bolso o dinheiro que supostamente seria para o Estado previdente do país salazarento, sonolento e desatento.

A minha avó, que durante anos contribuiu para um país melhor, não teve direito a reforma, nem a rendimento mínimo, até à morte do meu avô. Depois herdou a parte da reforma dele, que lhe cabia por viuvez.

Pois que há muita gente que recebe reforma e reformas a mais, face ao que produziram e face ao que contribuíram, mas há muitos também a receber reforma e subsídios sociais a menos face ao que produziram.
As donas de casa e mães a tempo inteiro, cujos maridos ganham pouco mais que o salário mínimo... As avós e os avôs que não contribuíram, mas não sabiam. E os que a falta de saúde não permite laborar... Por todos eles se justificam os subsídios sociais e a melhor forma de os defender é pôr a claro os seus teres e haveres.

Se defendo que quem tem bom corpinho deve trabalhar em vez de relaxar as peles à custa do Estado inconsequente, também sou a favor de que se acautelem os direitos de quem andou demasiado ocupado a trabalhar e não teve engenho para os acautelar.

O Governo não me perguntou nada - incompreensivelmente nunca me pergunta nada, à excepção daquela pergunta retórica que de quatro em quatro anos, às vezes menos, me vai fazendo - mas discutia-se o tema no Fórum de hoje da TSF e precisei de escrever isto.

martes, 15 de junio de 2010

Descontrolo e sonho

Apostei na Argentina e em Portugal. De acordo com as regras do meu clube (portugueses e espanhóis com quem trabalho) de apostas posso mudar de ideias, mas só até amanhã. Não mudarei.

Maradona está no pólo oposto ao do Mourinho, de quem sou fã sem reticências e sem "mas".
Maradona está de pé, contra as estatísticas, contra quase todas as apostas, contra a moral, contra o bom senso e contra muitas coisas de que eu sou a favor, mas ainda assim torço por ele, torço pelo seu poder de contrariar, pela capacidade de sonhar que ele inspira...

A menos de uma hora de entrarem no covil das vuvuzelas, os que vestem a nossa camisola estão a latejar, imagino...
Não somos todos iguais, mas para mim são esses os momentos que valem mais, como quando via e escutava os músicos da EPABI a afinarem os instrumentos mesmo antes de iniciar o concerto. Adorava aqueles sons, os gestos nervosos, o brilhozinho nos olhos... O mesmo brilho e os mesmos nervos que nos mantinham em frenesim antes de se abrir a cortina para a plateia negra e expectante...
Vale tudo mais quando nos sentimos assim: prestes a entrar em "campo" e a dar tudo por tudo para "pontuar"!

Agora mesmo, no meu cérebro, é como se ressoassem vuvuzelas!

PS: o melhor calendário do mundial

viernes, 11 de junio de 2010

Sôdade!

Mudámo-nos para o meu actual prédio quase na mesma altura. Além do andar que nos separa, a distância mais óbvia é a do tempo, o de vida vivida e, teoricamente, o de vida por viver.
Já há mais de um mês que não os via, nem a um, nem a outro, nem aos dois juntos, que é como os via mais vezes...
Hoje reencontrámo-nos. Depois de dobrar a curva do banco, vi-os a descer a rua, mais lentamente do que eu a subia. Devolvi-lhes o sorriso com que me descobriram... Como sempre, acrescentaram-me um diminutivo ao nome e a senhora quis dar-me um beijinho porque há muito que não nos cruzavamos...
Talvez por coincidirmos na altura em que ganhámos uma nova morada, a empatia foi imediata e nunca nos contentámos com um olá, bom dia! Esticamos sempre o paleio e hoje fiquei a saber que estiveram recentemente em Cabo Verde, de visita à neta, que "não é a jornalista, é a irmã" e que por lá era tudo "muito asseado e digno, apesar de haver ainda muita miséria". E não, "não é o caos que há-de ser Luanda!"

Depois de me despedir dos vizinhos, mantive-me por "Cabo Verde"... Fiquei a pensar que por lá está alguém que me inspira um sentimento parecido com o que provoca este casal... O JP. Não tive tempo de lhe conhecer nenhum defeito, mas tenho recordações de sobra para sentir muita "sôdade"!...
Aproveitei-me do talento dele e juntos ganhámos um concurso de dança, improvisado numa noite singular no bar da associação! O mesmo bar onde noutra noite nos mantivémos acordados (até partirmos bem cedo para uma digressão do Teatr'UBI na Galiza) graças às também improvisadas aulas de kuduro e funaná do JP!
Foi também meu cúmplice, juntamente com mais duas amigas, na tarefa de vasar todos os restos de Pedra do Urso que ainda sobravam nas mesas, no final de um jantar do curso de comunicação!
É especial este JP, o bastante para o irmos esperar ao comboio no dia em que fazia anos, com um bolo recheado de velinhas acesas, em cima de um carrinho de mão! Ia sufocando de emoção, de tão sem jeito que ficou!
Com ele aprendi a gostar de cachupa e sobretudo da festa que as reuniões de cachupa significavam! E a dizer Txuco! E que Txuco vai ser sempre = a JP!

miércoles, 9 de junio de 2010

Depois da tempestade...

Suspeito que choveu e ventou durante a noite... O suficiente para cobrir de florinhas algumas ruas da cidade, as que ainda parecem acusar algum planeamento passado, possuindo um corredor de árvores a sombrear os lugares de estacionamento e a separar os dois sentidos de rodagem.

Uma rua pintada de roxo, outra de cor de rosa, a praça do Saldanha de amarelo gema de ovo... E um perfume húmido a condizer no ar...

Gosto destes começos de dia, ainda molhados.

martes, 8 de junio de 2010

Es geht!

As imagens mostravam ratos e a voz-off estabelecia uma comparação entre ratos e judeus. Recordo-me destas imagens de um documentário que vi há uns anos sobre propaganda nazi...
Agora sabemos no que isso deu e agora é demasiado fácil recriminar o povo alemão por ter captado precisamente a mensagem pretendida pelo regime nazi. No caso, o facto de ser demasiado fácil, não torna a crítica menos legítima.
Há pouco tempo estranhava ouvir que é na Rússia que os skins se estão a propagar actualmente!
Também não deixa de ser insólito, irónico, que seja precisamente com a direita que os extremistas judeus são conotados! Hoje Hitler e os extremistas palestinianos estariam do mesmo lado da barricada?

Eu "estou" na Alemanha duas vezes por semana, nas aulas de alemão do Instituto Goethe.
A vantagem, quanto a mim, de aprender línguas numa escola como o Goethe (acontece o mesmo com o Cervantes) é que se aprende bastante sobre os alemães e sobre a Alemanha. Entender a língua de um povo tem que ser muito mais do que traduzir palavras. Descodificar o alemão é também descodificar os alemães. E aos poucos é isso que vamos fazendo... Ontem, por exemplo, numa aula diferente, conhecemos uma empresa que medeia negócios entre portugueses e alemães e ficámos a saber que aos alemães não lhes interessa os preliminares de apresentação, mas antes atalhar directamente para o que interessa ao negócio, pelo que uns e outros são aconselhados a abrandar ou acelerar, consoante a situação...
E na RTP 2 têm passado episódios de um documentário sobre a segunda guerra mundial, onde se contam os dois lados da história, onde se contextualizam, como eu ainda não tinha visto, os dois lados da história. Não se pretende desculpar nada nem ninguém, mas, parece-me, que as coisas são contadas com mais distanciamento, o distanciamento que só o passar do tempo autoriza...
Imagino que não seja fácil a nenhum alemão esgaravatar no passado, nem tão pouco facilitar a vida a outros que o queiram fazer, mas mesmo assim esta história está mais bem contada do que as versões que conheci antes... As ficcionadas e as dos livros de história.

Eu gosto dos alemães que conheço agora e não tenho como não respeitar a capacidade alemã de dar a volta por cima, bem como o rigor que aparentam...
Ontem falava-se dos cortes que a senhora Merkel quer impor, no país que ainda financia grande parte da Europa. Cortes que poupam a área da Educação, porque se pretende acautelar o futuro próximo, mas também o mais distante!

No último fim-de-semana lia no Expresso um artigo sobre o renascimento da revolta na Alemanha, com laivos xenófobos... Por que Europa estarão os alemães dispostos a sacrificar-se? Perceberão todos porquê? Seremos todos capazes de explicar as vantagens de uma Europa menos desequilibrada, mesmo aos que estão no prato mais generoso da balança ou cairemos na tentação de apontar o dedo aos que estão no prato mais fraco, ou aos que vêm de fora... Como o taxista que hoje se queixava dos brasileiros, como um todo, incriminando-os indiscriminadamente...

Acho agora demasiado fácil incendiar a mesquinhez porque fomos pouco educados para sermos grandiosos quando estamos pequeninos, ou quando nos sentimos ameaçados...

martes, 1 de junio de 2010

Goooolo!... do Telmo Martins

O que se faz quando se tem um filme para promover?
Aproveita-se a estadia das Selecção Nacional na Covilhã (que por acaso é a cidade que serve de cenário ao filme, em que também é personagem), oferece-se uma sessão para subtrair momentos de tédio aos jogadores e toca a pedir-lhes uma cunhazita! Grande jogada de marketing da equipa do Telmo Martins!


Jogadores bem cotados no mercado publicitário endossam simpaticamente o filme: apoiem o cinema português independente, vejam "Um funeral à chuva"!
O You Tube, o facebook, os bloggers e afins tratam do resto!

miércoles, 26 de mayo de 2010

"Reviver o passado... na Covilhã" com "os amigos de... João"


"Um funeral à chuva" não é um filme brilhante, mas soube-me bem a sessão (a ante-estreia no São Jorge) pelo sentimento fácil de identificação. De alguma forma é um filme em que paira um bocadinho de mim e de alguns dos meus, num lugar que associo a muitas gargalhadas e a algumas dores de crescimento: a Covilhã, onde é bom voltar também desta forma.

O curso de cinema da UBI está a dar frutos: uma produtora criada na Covilhã por ex-ubianos a filmar a cidade e a ubilândia. A isso e à campanha de promoção que está a ser feita, sobretudo online, bato palmas.
Um filme para rever, talvez daqui a muitos anos...

jueves, 20 de mayo de 2010

Jules and Jim

A propósito desta foto, lembrei-me deste filme diabólico do Truffaut, que adorei.


martes, 18 de mayo de 2010

But Curtis lost control

O trânsito é lento em Lisboa e o meu egoísmo agradece! Numa fila, um carro esteve parado e perto de mim o suficiente para me deixar ouvir um bocadinho da minha música preferida dos Joy Division... Neste teledisco fantástico está inteirinha :)

viernes, 7 de mayo de 2010

... em puzzle


Sou fã do Google e fã da forma como o Google cola efemérides ao próprio logo... Este que assinala o nascimento d0 Tchaikovsky é fantástico...
Por coincidência comprei hoje os meus primeiros sapatos de flamenco! Olé!
Isto das coincidências intriga-me...
Acontece-me estar a investigar um tema e me aparecer quase acidentalmente um artigo, ou alguém, ou algum acontecimento que me aponta um caminho...
Sem cálculos agendei uma entrevista com o dono da livraria Lello (a tal que o The Guardian considerou a terceira mais bonita do mundo) no Dia Mundial do Livro. Só me dei conta no próprio dia e acho que o entrevistado também...
Não sei se quero nem se vale a pena perceber por que razão acontecem estas conspirações do acaso, mas mesmo não entendendo o sentido, tudo passa a fazer mais sentido.

miércoles, 5 de mayo de 2010

Linha do Tua (nossa, até quando a barragem deixar)

Já não me lembro muito bem da história, mas ficou-me que na Califórnia há uma comboio que faz um percurso temático por entre vinhas e com direito a refeição a bordo devidamente acompanhada pelos vinhos que sustentam a paisagem. Na altura pensei: fantástico! E depois pensei outra vez: fantástico! E depois pensei: como é que isto ainda não se faz no Douro????

Há duas semanas fui ver o Pare escute olhe e voltei a pensar nisso. Jorge Pelicano, autor do documentário, deu outro exemplo: um comboiozinho turístico numa terra atrás do sol posto serpenteia cheio entre as montanhas suíças... A terra de que se fala é Vers L'Eglise e, de acordo com o que mostra o documentário, não é comparável em beleza ao percurso da linha do Tua.

A certa altura um deputado (não decorei o nome), eleito por Bragança, argumenta que não se pode manter uma linha como a do Tua, que não é rentável. O que ele, os autarcas da região e a CP deveriam estar a perguntar é: "não é rentável porquê?"

A Alemanha queria comprar as ilhas à Grécia e eu sonho com alemães, espanhóis, ou outros empreendedores com dois dedos de testa... Comprem a linha do Tua à CP e aproveitem aquele ENORME potencial turístico, acautelando devidamente as condições de segurança! E os efeitos colaterais positivos para a região e para o país que a coisa geraria!

Enfim, gostei do filme (mesmo quando a argumentação era ingénua) e perfilho a causa.

Não tenho nada contra barragens, depois de ficar provado que são o último recurso, depois de recuperadas as bem menos problemáticas mini-hídricas, por exemplo... Claro que essas não dão jeito à EDP, mas é de micro, pequenas e médias empresas que este país é sobretudo feito... Mas também estamos a desistir delas, como temos vindo a desistir dos comboios...

Por teimosia e sobretud0 por gosto integrei o lote (primeiro éramos muitos, depois poucos) dos que saíam da Covilhã de comboio à sexta e partiam no domingo de Campanhã para uma viagem que chegou a durar seis horas (o dobro do que fazia a camioneta da Joalto).
Numa dessas vezes o comboio parou tal era o nevão junto à Guarda... Parámos para brincar com a neve e vê-la a brilhar na paisagem serrana. A Natureza impôs o "Pare, escute, olhe"...
Eram sobretudo estudantes, donos de todo o tempo do mundo, que viajavam no comboio académico (chamava-se assim). Durou pouco, talvez por falta de gente, porque não era rentável, porque os sucessivos governos e equipas directivas da CP não acharam rentável investir na modernização da linha da Beira...

O cenário de Anne Frank

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Não sei se já distribuem o vídeo com o livro...
A mim, curiosamente, o filme chegou-me pela mesma pessoa que me emprestou o livro. Obrigada Madrinha.

Damasceno Monteiro e os outros culpados do costume

São sete milhões de pessoas a dormir na mesma cidade. Em Hong Kong menos é mesmo mais, ou seja, pouco espaço = mais eficiência, como explica o arquitecto responsável pela casa que anda a rodar mundo em redes sociais, blogues e afins...


Em Portugal, na Lisboa mais antiga e mais debilmente habitada, na minha rua (poderia ser em muitas outras), hoje, ruíram prédios devido à derrocada de terras de uma encosta.
Previsível? Talvez não pelo senhor que dá nome à rua. Na época em que Damasceno Monteiro presidiu à Câmara Municipal de Lisboa, a meio do século XIX, a cidade não era a mesma, o clima não era o mesmo, o número de habitantes não era o mesmo, a nacionalidade dos habitantes também não era a mesma (é muito cosmopolita a Damasceno Monteiro que partilho), a responsabilidade civil e política não seria certamente a mesma... Mas, por esta altura, não falta a quem atribuir responsabilidades. E Damasceno Monteiro e todos os seus sucessores são culpados.

viernes, 23 de abril de 2010

De Fado!




Há pessoas gigantes que nos fazem corar de vergonha... Aqui há uns tempos entrevistei um catalão que ama o Fado, que o entende e que faz mais pela sua divulgação e genuinidade que o nosso Ministério da Cultura. Tem um blogue (o defado) em catalão onde escreve sobre fado e fadistas, onde transcreve os poemas e coloca os links para escutar os fados...
Também por lá está a entrevista que lhe fiz...