martes, 30 de marzo de 2010

Os cinco

A Maria quis pôr-nos a falar de livros, dos livros de que mais gostámos, dos que mexeram connosco... A Anita começou por ser para mim "o livro do sapo"... Conheci-o em casa da minha Tia Alice, que frequentava quase todos os sábados, muito antes de saber que sons desenhavam as letras. Tanto a minha madrinha como a minha prima Paula tinham vários "sapos"... De cada vez que assaltava a estante da sala de estar e abria um desses livros encontrava o meu amigo sapo e outros animais que forravam o papelão duro interior da capa e da contracapa dos livros da Anita antigos... São os primeiros livros de que tenho memória e provavelmente por eles comecei a gostar da ideia de ler. A minha madrinha tratou de me saciar esse apetite pela leitura, ao ritmo de um livro por mês, assim que eu comecei a ler e que ela começou a trabalhar. Foi sem qualquer dúvida a pessoa que mais livros me ofereceu na vida: os livros da Anita, da Patrícia...
Destaco o "Anita no Ballet" por ter sido lido vezes sem conta, por ver repetidamente aquelas posições, por treinar a partir delas, por ter decidido que queria aprender ballet também por elas, por depois ter percebido o tanto que gostava de dança e por ser a dançar que passo dos melhores momentos da minha vida!
Voltas a ser tu a culpada deste madrinha ;) Foste tu que me emprestaste "O Diário de Annne Frank". Eu teria talvez uns 12, 13 anos... e era com esta capa velhinha das Edições Brasil... Adorei na altura. Acho que me marcou como nenhum outro livro me viria a marcar: porque era a história da descoberta da adolescência de uma menina mulher numa altura em que eu também estranhava essa passagem, que tanto me questionava sobre ela; porque foi um contacto tão real com a História, o meu primeiro relatado na primeira pessoa. Uma História tão recente, tão vergonhosa e tão elucidativa e desmitificadora do bom senso e da bondade humana. Fiz questão, quando estive em Amesterdão, de conhecer os cantos e contornos do espaço que serviu de esconderijo e casa a Anne, à sua família e ao amiguinho Peter, antes de ser apanhada pela polícia e acabar num campo de concentração. E faço questão de lá levar os filhos que eventualmente venha a ter. E isso é uma promessa, como prometo motivá-los para a leitura deste diário.
Uma vez escrevi que este era o livro que gostaria de ter escrito, de tal maneira a poesia se encontra com a prosa nesta história, mas é mentira! Na verdade não quereria tê-lo escrito. Não mais. Sobre a história de amor, esta, nem sou capaz de escrever. Seria sempre pouco e desajustado.
Por que nã0? A proposta deste livro faz-nos pensar até que ponto somos capazes de amar apenas uma pessoa de cada vez, se sentimos desejo por tantas outras ao longo da vida e muitas vezes em simultâneo. Somos todos capazes de ser sacanas se formos devidamente postos à prova? Estamos apenas presos por um código de conduta, que não discutimos, não aprovámos, nem reprovámos? Aceitámo-lo tacitamente, quase só porque sim.
Penso num livro português de que tivesse gostado particularmente e este sai quase sempre entre os primeiros na minha cabeça. Coloca problemas semelhantes aos colocados em "Três Sereias". Defende o amor. Atiça-se contra os preconceitos. Um grande livro é também aquele que nos coloca a torcer pelo que habitualmente não torceríamos. Troca-nos as voltas, rasga caminhos novos. Fechada a última página, somos mais pessoa.

2 comentarios:

Ana paula dijo...

Os famosos livros da Anita, como tu gostavas deles assim como do sapo, lembro-me muito bem.

Estou sempre a dizer que tenho que mudar os meus habitos de leitura, com este teu post ´r mais uma forçinha...
beijos

Fatima Pinto dijo...

Na vida tudo muda. Hoje és tu com a tua escrita que me deixas babadinha e "forças" a ler cada vez mais.Obrigada. Beijocas.