De tal forma estavam fartos do mar que construíram as casas de costas para ele. Talvez não seja caso isolado, este, dos pescadores da Corunha, mas foi o primeiro de que tive conhecimento. Foi "a dica" de que mais gostei, a que mais me intrigou, da lista de obrigatório ver e saber que me passaram as minhas colegas galegas, sabendo que eu planeava uma visita à cidade delas.
Logo me lembrei dos meus amigos mais atlânticos, que na serrana Covilhã penavam e faziam questão de anunciar o quanto penavam por ficarem semanas sem pôr a vista no"seu" mar.
Eu, insensível, nasci em Matosinhos e não renego o pedaço de mar a que tenho direito, mas não sou muito dada à saudade com cheiro de maresia. Pelo contrário, senti-me logo cúmplice destes pescadores, fartos do mar com quem contracenavam muito mais do que o contemplavam. Talvez por ter passado loooooooongas tardes de domingo enfiada no banco traseiro do carro, com os meus pais, a ouvir o relato de futebol e a olhar para o mar... Como me pesava ser filha única nesse tempo. As casinhas dos pescadores lá estavam, encantadoras. Se tinham mau aspecto as tais traseiras, os galegos tratararam de as cobrir com umas charmosas vidraças brancas quadriculadas, todas iguais (nada que possa ser confundido com o mau gosto português de tapar varandas, seja nas frentes, seja nas traseiras, cada uma com um material mais feio que a outra... No mesmo prédio podem ser vistos alumínios e vidraças de meia dúzia de cores diferentes! Assim, como se fosse um catálogo), que reflectem a luz da marina. Anoitecer por ali amortiza um ano de tardes no banco traseiro do Renault 16, a olhar o mar de Matosinhos... Quem pousa em A Coruña não vislumbra qualquer ressentimento em relação ao mar (é mais fácil encontrá-lo na costa portuguesa). Reconciliaram-se e tiram partido dele da melhor maneira, seja através do circuito de eléctrico (azul) que acompanha a linha de água, seja pelos canhões, que assinalam o estratégico que era/é o posicionamento da Corunha em tempo de guerra, integrados agora no parque de lazer do Monte de São Pedro, pavimentado de erva verdinha e dada ao rebolanço... Seja ainda, no extremo oposto da cidade, pela obrigatória cruzada ao mais antigo farol romano em actividade. Há quanto tempo já se "contemplava" o mar! Voltarei a A Coruña para melhor lhe conhecer as entranhas.
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