Cinzas. Era a isso que cheirava com e mesmo sem a janela aberta. As cinzas que pareciam mirar-se ao espelho, tal era a cor do céu. E era também de cinzas que falavam os noticiários de meia em meia hora: 12 incêndios activos e 600 bombeiros a tentar travá-los.
The same old story.
Há muitos anos, na saudosa Grande Reportagem, já se denunciava o como e o porquê. Fazia-se o diagnóstico e prescrevia-se a receita de cura. Diagnóstico várias vezes repetido. Receita parcialmente adoptada. Como os antibióticos que não se tomam até ao fim...
A reflorestação continua a primar pela desorganização. Aquela imagem das florestas alinhadas quase geometricamente, de solos arejados, não nos pertence ainda, o que facilita a vida dos que as querem ver a arder.
Remoía isto tudo enquanto seguíamos o caminho que apelidámos de "o caminho das cegonhas". E lá estavam elas, empoleiradas nos ninhos que montaram nas "pontes" metálicas que sustêm as tabuletas azuis de sinalização das estradas, como estão sempre, aparentemente indiferentes ao tráfego, que, diga-se, é reduzido. Ainda não se paga neste troço de auto-estrata que compete com a A1, mas que quase toda a gente, generosamente, faz questão de ignorar, contribuindo para o sossego dos que por lá passam... Na volta foi construída em abono do aumento da taxa de natalidade das cegonhas!?
De repente anoitecia e detrás de um arvoredo ainda esquecido, mostra-se-nos a Lua Cheia. Mais alaranjada do que dourada, atrevida, num céu cinzento...
A máquina fotográfica estava na mala do carro e fingi que não sabia que fotografar a Lua Cheia, mesmo com uma boa objectiva, é quase sempre registar uma bolinha minúscula, infiel à original. Saquei do telemóvel e Tu, mesmo sem eu te pedir, cúmplice da minha ilusão, chegas-nos para a faixa da esquerda, favorecendo o meu ângulo, como que a dizer-me "agora, dispara agora!"
Destes sinais eu gosto.
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