A História que me contaram era, sem cerimónias, maniqueísta
e nada laica: os romanos (subentenda-se cristãos) eram, grosso modo, os bons e
os muçulmanos, sarracenos (subentenda-se islamistas) eram os maus!
Isto, apesar de a ocupação muçulmana na Península Ibérica
ter permitido/ convivido com a continuação de práticas cristãs, ao contrário
do que sucedeu mais tarde, quando se expulsaram os mouros do mesmo território!
A única forma eficiente de combater os efeitos nefastos da
religião (qualquer uma) é a educação!
Não falo dessa educação que recebi já após o 25 de Abril, que dividia os
povos entre bons e maus! Recordo-me de uma certa professora (que não enxergava
mais além) conceder que “apesar de tudo”, a presença mourisca deixou coisas
boas, ao nível da matemática, da estética, …, mas a mensagem a bold era a de
que se tratavam de povos invasores, com práticas diferentes, logo (e muitas
vezes só por isso) indesejáveis.
Espero que não seja esta a versão que agora se escuta nas
salas de aula!
Os novos “invasores”, aos olhos de muitos, parecem ser os
refugiados sírios! Que ora sacodem o pó da caridade europeia, ora agitam a
nacional estupidez (que fala todas as línguas), muito fecunda sempre que se constata que o mal dos outros derruba
todas as fronteiras.
Queremos sempre histórias que apontem o dedo aos bons e
aos maus, queremos isolá-los, classificá-los, circunscrevê-los a uma nacionalidade
e a uma geografia. Mas entender o mundo obriga a um exercício
diferente, mais descomprometido, menos romântico, mais verdadeiro.
Agora pelos sírios... Por tantos outros... Por nós.
Os mesmos sírios que descendem, por ventura, dos marinheiros
e comerciantes fenícios, que em tempos andaram por cá. Acreditando que não se
limitaram apenas a fazer comércio, é provável que tenhamos sangue sírio
nas veias… Seguramente que o temos a pesar na consciência.