Os substantivos deste título deveriam estar no plural...
No início era Amesterdão, era a Holanda.
Talvez por culpa do Van Basten e do Adam Curry, talvez por gostar da cor laranja, talvez porque os holandeses foram os primeiros estrangeiros de que me apercebi, talvez por culpa dos amigos holandeses que via nas fotos de férias da minha madrinha. Certamente também pela associação à água e às flores, às tulipas de quase todas as cores. Não era ainda por escutar o belga Brell sobre o brinde dos marinheiros, no porto de Amesterdão, aos sonhos e à saúde das prostitutas da cidade velha, nem pelas imagens das estreitas casinhas de encantar, nas margens, e das flutuantes, nos canais de Amesterdão, numa cidade que é mais curvilínea do que angulosa e que me perdoe o Marquês (a quem agradeço a geometria de Lisboa), mas sabe-me tão bem a sinuosidade medieval de cidades como o Porto e Amesterdão. (A natureza privou Lisboa de quase tudo o que era medieval e se era para reconstruir, claro que não fazia sentido recorrer, no século XVIII, à lógica do passado).
Enfim, era a Amesterdão que queria ir, era a Holanda que queria visitar se me fosse dado a escolher. Não foi e a Holanda surgiu no meu caminho bem mais tarde, por alturas da minha espécie de Erasmus em Antuérpia. Uma ida fugaz de um dia, que confirmou tudo o que eu sabia, tudo o que eu suspeitava sobre a Holanda e sobre os holandeses, com bonificações. Amesterdão não deve andar muito longe da cidade perfeita para se viver, pelo temperamento, por um lado, alegre e contagiante, de flores, bicicletas (já disse que ver gente a andar de bicicletas nas cidades me deixa feliz), animação e criatividade, por outro, suave, à força da chuva assídua e da água que por todo o lado nos ordena sensatez, respeito e tranquilidade. Quando uma cidade não precisa de sol para brilhar, é porque nos apaixonámos por ela. E eu apaixonei-me mesmo antes de a conhecer...
Voltei a Amesterdão mais duas vezes.
A primeira, assumidamente para a conhecer, passear de bicicleta, comprar queijos gigantes e roupa vintage nas feiras, confirmar a magia (alguns diriam loucura) das pinceladas de Van Gogh e o fulgor da arte no auge da Flandres, reviver o Diário de Anne Frank in loco, bisbilhotar por entre as cortinas mal corridas das casas-barco, despertar com o sino da igreja por detrás do hostal que me serviu de casa, no Red Ligh District, jantar às seis da tarde, beber cerveja em copos acabados de mergulhar numa bacia de água com higiene duvidosa, sentir-me ligeiramente holandesa, como se sentem os estrangeiros que os holandeses historicamente sempre gostaram de acolher, na cidade mais cosmopolita de toda a Holanda.
A segunda, a trabalho, mas com um fim de tarde livre para voltar aos "locais do crime", aqueles que mais me pedia a memória.
Os substantivos deste título não estão no plural, porque das outras paixões, países, dos outros amores escreverei noutros "capítulos"...
Em matéria de Amor, a regra é: um de cada vez ;)
2 comentarios:
É o que faz não ouvir MPP. O Marco Paulo é quem sabe...
(vamos os três a Amesterdão fazer as compras de Natal?)
Ia já, mas penso que em breve lá teremos casa amiga ;)
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