jueves, 4 de octubre de 2012

Lisboa de Fernando Pessoa, Ary dos Santos e Eduardo Gageiro

A minha preferida é que revela D. José, lá do alto do seu absolutismo real (paradoxal que o monarca mais representativo desse regime político deva quase tudo a outra figura: o Marquês de Pombal). Eduardo Gageiro fotografou o monarca, como se ele estivesse em bico de pés, a querer aparecer de qualquer maneira: imagino que se tenha deitado no degrau mais baixo da escadaria do Cais das Colunas para assim o colocar. O que mais se vê é precisamente a sucessão de degraus, como se nos guiassem até essa representação do poder.
Gosto da fotografia por isso que vi nela e porque me lembrei das palavras de um certo marinheiro, do seu encanto por regressar a Portugal, pelo Tejo.
Também me lembrei de uma fotografia da Madona, que analisamos no curso de fotografia que fiz no CENJOR. Vê-se a cantora de costas e um batalhão de fotógrafos a tentar captá-la. O único que lá não estava era o autor da fotografia!

Gageiro também se pôs do lado de lá, dos que vêem Lisboa de fora, dos que a vêem do Tejo. E são muitos os que todos os dias a vêem assim.

Não consegui encontrar a fotografia da escadaria dos Cais das Colunas para a colocar aqui. Vai continuar exposta na Câmara Municipal de Lisboa, até ao dia 9 deste mês, na mostra: "Lisboa amarga e doce" de Eduardo Gageiro. A cidade, entre 1975 e 2010, pela lente de Gageiro, acompanhada das palavras de Fernando Pessoa e de Ary dos Santos.

"Outra vez te revejo — Lisboa e Tejo e tudo —,


Transeunte inútil de ti e de mim,

Estrangeiro aqui como em toda a parte,

Casual na vida como na alma,

Fantasma a errar em salas de recordações,

Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem

No castelo maldito de ter que viver..."  
Álvaro de Campos    

"Nas minhas mãos a madrugada

abriu a flor de Abril também,

a flor sem medo perfumada

com o aroma que o mar tem,

flor de Lisboa bem amada

que mal me quis, que me quer bem."

Ary dos Santos





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