A minha preferida é que revela D. José, lá do alto do seu absolutismo real (paradoxal que o monarca mais representativo desse regime político deva quase tudo a outra figura: o Marquês de Pombal). Eduardo Gageiro fotografou o monarca, como se ele estivesse em bico de pés, a querer aparecer de qualquer maneira: imagino que se tenha deitado no degrau mais baixo da escadaria do Cais das Colunas para assim o colocar. O que mais se vê é precisamente a sucessão de degraus, como se nos guiassem até essa representação do poder.
Gosto da fotografia por isso que vi nela e porque me lembrei das palavras de um certo marinheiro, do seu encanto por regressar a Portugal, pelo Tejo.
Também me lembrei de uma fotografia da Madona, que analisamos no curso de fotografia que fiz no CENJOR. Vê-se a cantora de costas e um batalhão de fotógrafos a tentar captá-la. O único que lá não estava era o autor da fotografia!
Gageiro também se pôs do lado de lá, dos que vêem Lisboa de fora, dos que a vêem do Tejo. E são muitos os que todos os dias a vêem assim.
Não consegui encontrar a fotografia da escadaria dos Cais das Colunas para a colocar aqui. Vai continuar exposta na Câmara Municipal de Lisboa, até ao dia 9 deste mês, na mostra: "Lisboa amarga e doce" de Eduardo Gageiro. A cidade, entre 1975 e 2010, pela lente de Gageiro, acompanhada das palavras de Fernando Pessoa e de Ary dos Santos.
"Outra vez te revejo — Lisboa e Tejo e tudo —,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver..."
Álvaro de Campos
"Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também,
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem,
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis, que me quer bem."
Ary dos Santos
No hay comentarios:
Publicar un comentario