No Abrupto, o que mais gosto é do nome. Ainda assim, de vez em quando, visito-o.
Cito o que escreve Pacheco Pereira sobre a manipulação política, com a cumplicidade do que alguns chamam de jornalismo:
"ÍNDICE DO SITUACIONISMO: "RECADOS" ANÓNIMOS
A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.
Há vários problemas no nosso jornalismo político que são endémicos e contribuem para a sua má qualidade, entre eles a fusão de "recados" com fontes anónimas. Os "recados" são uma pura manipulação da opinião pública, transmitindo um discurso sem edição, que diz o que quer, que antecipa o que quer e que não precisa de ser confrontado com a realidade, nem com o contraditório. É um tipo de discurso político "limpo", sem mediação jornalística, que agrada aos políticos e manipula o jornalismo e a opinião.
O Expresso publica um por semana, tendo como origem o governo, e os gabinetes do Primeiro-ministro e do ministro Relvas, mais a sua multidão de assessores. Têm para quem os emite a vantagem de fornecer uma versão das coisas que é favorável ao poder, que ocupa normalmente uma primeira página e o seu título principal de forma vantajosa. Evita outra primeira página eventualmente mais hostil e pretende condicionar a opinião, fazer uma ameaça velada, ou testar a reacção a uma determinada medida. Muitas vezes pouco mais é do que a descrição de um "estado de alma" qualquer do primeiro-ministro (PM), destinado a sugerir que ele "sente" as mesmas indignações que o "povo", mesmo que não faça nada em consequência.
Os "recados" de hoje são mais do que isso:
"É preciso dar uma pedrada no charco e neste momento ele está claramente a pensar nisso e tem tudo em aberto: pode ser antes, durante ou após a apresentação do OE em 15 de Outubro" ("fonte próxima do PM").
"Se o PM recuou na TSU, também tem a agilidade, sem tabus, de rever o que está mal no governo." ("fonte oficial") .
Não tenho dúvidas sobre a fonte, foi o PM, ou alguém por "ele", como é identificado, que disse isto ao Expresso, usando o anonimato para exprimir não apenas opiniões, mas pressupostas intenções pessoais do PM. Num país em que houvesse um mínimo de vergonha, o Ministro da Economia apresentava a demissão de imediato, e se o ministro Relvas não estivesse envolvido na combinação, faria o mesmo. Para contentar a opinião pública, o PM ataca o seu próprio governo, debaixo da cobertura do anonimato, para transmitir uma "imagem" de determinação e firmeza em dia de manifestações. Não há uma linha destes "recados", que atravessam toda a "notícia", que não seja pura manipulação. No fundo é mais um sinal alarmante do grau de decomposição e desorientação do governo e do PM."
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