Fico desarmada perante um olhar doce e enrugado, um homem que baba com um bebé (não confundir com homem que baba como um bebé!) e perante pessoas vulneráveis... que se mostram por dentro, que expõe uma fragilidade, que revelam a sua insegurança, confiam-nos um medo, deixam-nos saber o que as angustia...
A vulnerabilidade do outro deixa-me como um balão já sem hélio, sem força para me manter lá em cima, mais pequenina, mais encorrilhada e incapaz de rebentar...
martes, 29 de septiembre de 2009
sábado, 26 de septiembre de 2009
Try a different angle!
Não sou nada apologista de que se queimem os soutiens na fogueira e, em caso de naufrágio iminente, concordo com a máxima "salvem-se as mulheres e crianças primeiro!" Nem me estou a lembrar de nenhuma boa razão para que não seja assim...
Nunca pensei no feminismo muito a sério e considero-o tão obsuleto quanto o machismo, ainda que tenha a certeza de que ambos estão bem vivos!
Logo, não é por feminismo, mas apenas por curiosidade e esperança que defendo que deveriam ser sobretudo as mulheres a ocupar cargos de topo, seja na política, seja nas instituições, seja nas empresas... Como diz o anúncio: "try a different angle!"
São séculos de experiência de gestão de recursos e de conflitos que a sociedade anda a desperdiçar... e quando, excepcionalmente, acontece uma mulher chegar ao patamar em que pode fazer diferença a uma escala planetária, quase sempre faz mesmo a diferença... Não fiz nenhum estudo estatístico sobre o assunto, pelo que este texto peca por falta de exemplos, mas é o que me parece!
Não foi notícia de primeira página, nem abriu telejornais, mas eu tenho muita vontade de conhecer melhor esta Maria Ramos, a tal luso-descendente considerada pela Fortune uma das mulheres mais influentes do mundo...
E não é propriamente devido ao lugar no ranking que a senhora ocupa, é mesmo pelo que a fez ser destacada a esse nível: o detalhe de pela sua acção milhares de postos de trabalho terem sido mantidos... Isto é A OBRA... Isto é contribuir escancaradamente para um mundo melhor. Isto é uma injecção de motivação daquelas!
Por coincidência estive a trabalhar sobre o centenário de Peter Drucker. De entre as várias constatações e conselhos interessantes que o senhor deixou, há uma passagem que considero particularmente feliz e que faz eco daquilo em que acredito sem cedências, sem contemplações... O senhor era contra os despedimentos como forma de resolver os problemas numa empresa (claro que há excepções: as falhas de carácter e o não cumprimento de regras, mas isso é outra história). Argumentava que o que se deveria era alocar as pessoas às funções em que de facto elas renderiam melhor. Se não estavam a produzir o que deveriam, era porque estavam a ser mal conduzidas, mal geridas! Da mesma forma que defendia que as pessoas deveriam sentir-se parte importante na engrenagem. E se estão a mais hoje, provavelmente já estavam a mais no dia em que foram contratadas, o que nos remete de novo para um problema de gestão...
Para mim também é claro como água que não devemos descansar enquanto não estamos a fazer aquilo de que mais gostamos e o que fazemos melhor. Devemos fazer por descobrir em quê que podemos fazer a diferença... E há sempre alguma coisinha! Se não o procuramos, abrimos mão de uma boa parte daquilo que nos pode fazer feliz e tendo em conta que muito do nosso tempo é gasto a trabalhar e tendo em conta que é o trabalho que gera valor, isto é um assunto relevante!
Penso que a sensibilidade feminina (chamemos-lhe assim) processa isto melhor, daí a minha expectativa quanto ao binómio poder/mulheres. Daí a minha curiosidade em conhecer alguém que gere com espírito positivo e soube reverter uma situação desfavorável...
Também poderia ter sido um homem? Claro que podia. A História está cheia de bons exemplos no masculino... Mas cheira-me que o efeito multiplicador desses bons exemplos vai sentir-se assim que mais mulheres assumirem o leme.
Se estou a fazer a minha parte? Acho que sim, no que toca a tentar mudar mentalidades. Acho que sim, no que concerne ao facto de tentar fazer o que gosto e o que julgo fazer melhor. Acho que sim, porque dificilmente me resigno perante o que considero injusto sobretudo no meu universo laboral (O que tenho a menos em termos de frontalidade nas relações pessoais, compenso nas profissionais). Acho que não, no que toca a lutar por cargos em que possa ter maior poder de decisão. Para ser rigorosa comigo, faço menos do que deveria e do que poderia! O que talvez explique por que as marias ramos são ainda casos pontuais... Shame on us!
Nunca pensei no feminismo muito a sério e considero-o tão obsuleto quanto o machismo, ainda que tenha a certeza de que ambos estão bem vivos!
Logo, não é por feminismo, mas apenas por curiosidade e esperança que defendo que deveriam ser sobretudo as mulheres a ocupar cargos de topo, seja na política, seja nas instituições, seja nas empresas... Como diz o anúncio: "try a different angle!"
São séculos de experiência de gestão de recursos e de conflitos que a sociedade anda a desperdiçar... e quando, excepcionalmente, acontece uma mulher chegar ao patamar em que pode fazer diferença a uma escala planetária, quase sempre faz mesmo a diferença... Não fiz nenhum estudo estatístico sobre o assunto, pelo que este texto peca por falta de exemplos, mas é o que me parece!
Não foi notícia de primeira página, nem abriu telejornais, mas eu tenho muita vontade de conhecer melhor esta Maria Ramos, a tal luso-descendente considerada pela Fortune uma das mulheres mais influentes do mundo...
E não é propriamente devido ao lugar no ranking que a senhora ocupa, é mesmo pelo que a fez ser destacada a esse nível: o detalhe de pela sua acção milhares de postos de trabalho terem sido mantidos... Isto é A OBRA... Isto é contribuir escancaradamente para um mundo melhor. Isto é uma injecção de motivação daquelas!
Por coincidência estive a trabalhar sobre o centenário de Peter Drucker. De entre as várias constatações e conselhos interessantes que o senhor deixou, há uma passagem que considero particularmente feliz e que faz eco daquilo em que acredito sem cedências, sem contemplações... O senhor era contra os despedimentos como forma de resolver os problemas numa empresa (claro que há excepções: as falhas de carácter e o não cumprimento de regras, mas isso é outra história). Argumentava que o que se deveria era alocar as pessoas às funções em que de facto elas renderiam melhor. Se não estavam a produzir o que deveriam, era porque estavam a ser mal conduzidas, mal geridas! Da mesma forma que defendia que as pessoas deveriam sentir-se parte importante na engrenagem. E se estão a mais hoje, provavelmente já estavam a mais no dia em que foram contratadas, o que nos remete de novo para um problema de gestão...
Para mim também é claro como água que não devemos descansar enquanto não estamos a fazer aquilo de que mais gostamos e o que fazemos melhor. Devemos fazer por descobrir em quê que podemos fazer a diferença... E há sempre alguma coisinha! Se não o procuramos, abrimos mão de uma boa parte daquilo que nos pode fazer feliz e tendo em conta que muito do nosso tempo é gasto a trabalhar e tendo em conta que é o trabalho que gera valor, isto é um assunto relevante!
Penso que a sensibilidade feminina (chamemos-lhe assim) processa isto melhor, daí a minha expectativa quanto ao binómio poder/mulheres. Daí a minha curiosidade em conhecer alguém que gere com espírito positivo e soube reverter uma situação desfavorável...
Também poderia ter sido um homem? Claro que podia. A História está cheia de bons exemplos no masculino... Mas cheira-me que o efeito multiplicador desses bons exemplos vai sentir-se assim que mais mulheres assumirem o leme.
Se estou a fazer a minha parte? Acho que sim, no que toca a tentar mudar mentalidades. Acho que sim, no que concerne ao facto de tentar fazer o que gosto e o que julgo fazer melhor. Acho que sim, porque dificilmente me resigno perante o que considero injusto sobretudo no meu universo laboral (O que tenho a menos em termos de frontalidade nas relações pessoais, compenso nas profissionais). Acho que não, no que toca a lutar por cargos em que possa ter maior poder de decisão. Para ser rigorosa comigo, faço menos do que deveria e do que poderia! O que talvez explique por que as marias ramos são ainda casos pontuais... Shame on us!
jueves, 24 de septiembre de 2009
Conversas improváveis II
Pensa ela:
Estou mais madura e mais bonita...
Estamos de acordo quanto a isto, não estamos?
Então porque te esqueces continuamente de mo recordar?
... Eu alertei-te! Disse-te logo que queria ser tratada como uma princesa. E isso era para sempre, não era só até fazeres de mim a tua rainha...
De pouco me servem a coroa e as vénias mais ou menos calibradas que me fazes, animado pelo hábito.
Prefiro que me faças a corte, do que ter por garantido o trono.
Um dia destes distrais-te e ainda me dás um beijo na bochecha, ou pior, encostas-me só a tua.
Esqueces-te de que tenho boca e adormeces-lhe a vontade de encontrar a tua!
E conta que nunca te direi nada disto. Conto que o adivinhes.
Estou mais madura e mais bonita...
Estamos de acordo quanto a isto, não estamos?
Então porque te esqueces continuamente de mo recordar?
... Eu alertei-te! Disse-te logo que queria ser tratada como uma princesa. E isso era para sempre, não era só até fazeres de mim a tua rainha...
De pouco me servem a coroa e as vénias mais ou menos calibradas que me fazes, animado pelo hábito.
Prefiro que me faças a corte, do que ter por garantido o trono.
Um dia destes distrais-te e ainda me dás um beijo na bochecha, ou pior, encostas-me só a tua.
Esqueces-te de que tenho boca e adormeces-lhe a vontade de encontrar a tua!
E conta que nunca te direi nada disto. Conto que o adivinhes.
Na paragem de autocarro
Posso evitar as horas de ponta na paragem de autocarro, pelo que consigo, quase sempre, um lugar sentado no banco que, quase sempre, partilho com senhores e ou senhoras que nasceram nas primeiras décadas do século passado... E são deliciosas as conversas que por vezes escuto e em que outras vezes participo...
Hoje calhou-me um casalinho. Ele, muito distinto, munido de bengala e chapéu de ar tropical. Ela, bem enfeitada, colorida, com o cabelo geometricamente penteado.
Ajustei-me a um canto para cabermos os três.
- Obrigada menina! É que tenho mesmo que me sentar com este calor. É que já são 84 anos.
Cabia-me observar que estava muito bem. E estava. E foi o que fiz.
- Olhe que subo todos os dias as escadas até ao quinto andar! Se calhar é por isso que estou assim!
Entra o senhor em campo: - Estás assim porque eu te trato bem!
Ela confirma com a cabeça: - Não preciso jogar na lotaria! Já tirei o primeiro prémio! (Nessa altura fiquei sem perceber se estava a ser irónica?!)
Entretanto chega o nosso 726. Ele não lhe cede a passagem! Faz bem melhor do que isso: sobe antes e estende-lhe a mão para a içar depois. E ainda de mão dada, guia-a até ao banco e certifica-se de que ela se senta sem sobressaltos!
Relembro que o senhor usava bengala!
Um doce!
Fiquei a pensar no bem que este senhor faz à saúde desta senhora...
Hoje calhou-me um casalinho. Ele, muito distinto, munido de bengala e chapéu de ar tropical. Ela, bem enfeitada, colorida, com o cabelo geometricamente penteado.
Ajustei-me a um canto para cabermos os três.
- Obrigada menina! É que tenho mesmo que me sentar com este calor. É que já são 84 anos.
Cabia-me observar que estava muito bem. E estava. E foi o que fiz.
- Olhe que subo todos os dias as escadas até ao quinto andar! Se calhar é por isso que estou assim!
Entra o senhor em campo: - Estás assim porque eu te trato bem!
Ela confirma com a cabeça: - Não preciso jogar na lotaria! Já tirei o primeiro prémio! (Nessa altura fiquei sem perceber se estava a ser irónica?!)
Entretanto chega o nosso 726. Ele não lhe cede a passagem! Faz bem melhor do que isso: sobe antes e estende-lhe a mão para a içar depois. E ainda de mão dada, guia-a até ao banco e certifica-se de que ela se senta sem sobressaltos!
Relembro que o senhor usava bengala!
Um doce!
Fiquei a pensar no bem que este senhor faz à saúde desta senhora...
martes, 22 de septiembre de 2009
Conversas improváveis I
Ele não respondeu, mas pensou. Habituara-se às palavras mudas, julgava-se capaz de comunicar dessa forma, considerava um despropósito verbalizar o que a inquestionável intuição feminina poderia decifrar. Recusava-se a baixar a fasquia.
Gostava de disciplinar as ideias, de as alinhar como quem se prepara para a barra de um tribunal. Argumentava fortemente consigo próprio, para não ousar vacilar e travar qualquer vertigem que se pusesse a caminho, a galope da vontade.
Gostava de disciplinar as ideias, de as alinhar como quem se prepara para a barra de um tribunal. Argumentava fortemente consigo próprio, para não ousar vacilar e travar qualquer vertigem que se pusesse a caminho, a galope da vontade.
lunes, 21 de septiembre de 2009
Conversas improváveis I
Ela diz-lhe:
- Sinto-me na corda bamba e desconfio que me desiquilibro só porque sei que estou a caminhar sem rede. Sabes? Temo inflamar o atrevimento e rejeito a toda a hora a injecção de coragem com que a tua presença me ameaça. Sabes? É como se a sanidade me aleijasse as dúvidas em que me embalo.
- Sinto-me na corda bamba e desconfio que me desiquilibro só porque sei que estou a caminhar sem rede. Sabes? Temo inflamar o atrevimento e rejeito a toda a hora a injecção de coragem com que a tua presença me ameaça. Sabes? É como se a sanidade me aleijasse as dúvidas em que me embalo.
miércoles, 16 de septiembre de 2009
O complexo de mariposa
Há palavras que se escondem em casulos.
Há palavras que gritam de tão seguras, isoladas como num estúdio de rádio com o microfone fechado.
Invioláveis essas palavras que procuramos, deambulando, de casulo em casulo, insensatos e enfeitiçados na inércia do sentido...
Arriscamos adivinhar, mas não arriscamos muito porque preferimos também nós construir casulos onde guardamos as palavras, outras palavras ou as mesmas, que não ousamos libertar...
E pronto: acabadinha de inventar a razão para eu gostar tanto de borboletas, como se não me bastassem aquelas cores vadias que repousam entre voos coreografados...
Efémeras, as palavras fora dos casulos também vivem pouco tempo, fazem sentido durante pouco tempo...
Há palavras que gritam de tão seguras, isoladas como num estúdio de rádio com o microfone fechado.
Invioláveis essas palavras que procuramos, deambulando, de casulo em casulo, insensatos e enfeitiçados na inércia do sentido...
Arriscamos adivinhar, mas não arriscamos muito porque preferimos também nós construir casulos onde guardamos as palavras, outras palavras ou as mesmas, que não ousamos libertar...
E pronto: acabadinha de inventar a razão para eu gostar tanto de borboletas, como se não me bastassem aquelas cores vadias que repousam entre voos coreografados...
Efémeras, as palavras fora dos casulos também vivem pouco tempo, fazem sentido durante pouco tempo...
miércoles, 9 de septiembre de 2009
What else!?
Qualquer coisa como isto:
"- Então o que pode ajudar a forjar o afecto?
- A dança, mesmo que o parceiro seja sofrível..."
De "Orgulho e preconceito" da Jane Austen
"- Então o que pode ajudar a forjar o afecto?
- A dança, mesmo que o parceiro seja sofrível..."
De "Orgulho e preconceito" da Jane Austen
miércoles, 2 de septiembre de 2009
Paula Rego
Gosto das pinceladas brutas da Paula Rego, das cores sem cerimónia, gosto do misto de força e fragilidade da figura feminina. E gosto muito deste baile ao luar, tão ambíguo. Gosto das "bebedeiras de azul" alugadas ao António Gedeão...
E não tarda abre em Cascais o museu Paula Rego. Que bom que não deixámos de prestigiar a pintora e de nos prestigiar através dela.
martes, 1 de septiembre de 2009
Sinal proíbido
"Queria ter vivido de outra forma, mas deixei-me invadir por coisas que me são estranhas... Tenho a impressão de que a vida que levo nao corresponde à minha verdadeira natureza... Sinto que não mudei, mas deixei de o conseguir provar aos outros..."
Do filme "Ma mère" de Christophe Honoré, numa adaptação de um livro de Georges Bataille. Uma aposta de Paulo Branco e de Isabelle Huppert, a tal.
Sobre os desejos que tememos, os que ultrapassam os princípios que nos habituamos a respeitar... Os do filme podem não ser os nossos (não são de quase ninguém, acredito), mas seguramente que todos temos vontades com as quais não queremos lidar.
"O desejo torna-nos fracos", diz-se no filme.
Do filme "Ma mère" de Christophe Honoré, numa adaptação de um livro de Georges Bataille. Uma aposta de Paulo Branco e de Isabelle Huppert, a tal.
Sobre os desejos que tememos, os que ultrapassam os princípios que nos habituamos a respeitar... Os do filme podem não ser os nossos (não são de quase ninguém, acredito), mas seguramente que todos temos vontades com as quais não queremos lidar.
"O desejo torna-nos fracos", diz-se no filme.
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