viernes, 31 de julio de 2009

Piquinhos na cabeça...

... o cheiro a cabelos molhados, o cheiro a cabelos secos, emaranhá-los nos dedos, sentir-lhes a textura no rosto, nas costas nuas, no pescoço... e, o melhor de tudo, os piquinhos no cérebro quando alguém se dedica ao nosso cabelo... Quando nos fazem festinhas, quando nos penteiam, quando nos despenteiam...

Brinquei muito aos cabeleireiros. Quem não brincou? A pobre Carlota dos longos cabelos cor-de-laranja era a minha vítima mais requisitada. Outras vezes era a minha prima ou outra cobaia voluntariosa que cedia...
Eu gostava quase tanto de pôr as mãos na massa como de me sentar na cadeira... Porque sempre chegavam os piquinhos, viciantes piquinhos...

É a melhor parte da ida ao cabeleireiro... Ultrapassado o terror das mãos-de-tesoura, é deixar-me estar ali a sentir piquinhos...

miércoles, 29 de julio de 2009

Sumo na vida!

Quando um desconhecido te oferece flores, isso é... um acontecimento mmmmmmmuuuuuuuuuuuito raro... Até um conhecido, quanto mais!

Por isso merece registo a cena que eu e os restantes passageiros do 726 testemunhámos hoje: um casal discutia no passeio... ela volta-lhe as costas... ele arranca atrás dela, apanha-a e fica a rodopiar com ela ao colo!
A coisa selou-se com um beijo e entretanto o semáforo ficou verde...

Apeteceu-me bater palmas!

martes, 28 de julio de 2009

A idade das trevas...

A escolher um período da História, o que mais me agrada em termos estéticos é a época medieval.
Gosto da imponência simples do gótico, sem grandes enfeites, mas harmonioso...
Gosto da penumbra das candeias e dos enigmas do fogo!
Gosto dos instrumentos artesanais e da música melódica e singela que ecoam! E dos passos coreografados que ensaiavam o amor cortês!
E das distâncias galgadas a cavalo! E da honra, quando ela valia a vida!
Gosto dos materiais ainda naturais: da madeira, do ferro, das peles, da lã, do linho e do algodão...
Gosto do corte cintado dos vestidos, das blusas de pano leve que se escapavam dos espartilhos apertados em cruz, das mangas largas, das túnicas de dormir brancas e longas até aos pés...

Gosto das capas com capuz!
Gosto do veludo e das cores ferrugentas dos tecidos, dos ocres... Das tiaras no cabelo, que crescia sempre sem freio...



Gosto dos espectáculos feitos para rir e da alma dos saltibancos!
E gosto desta mistura toda agora reinventada e recriada...



No último fim-de-semana foi Caminha que recuou até 1284, ano quem D. Dinis lhe concedeu foral...
No ano passado entrei a sério nesta história, e brinquei de pseudo-artesã-comerciante! Este ano fui apenas figurante, mas trajadinha a rigor!

lunes, 27 de julio de 2009

O cúmulo do egocentrismo é...

... fazer uma viagem de três horas a escutar a Antena 1 e achar que a maioria das músicas que passaram parecem ter sido escritas para mim!

miércoles, 22 de julio de 2009

Ahoy!!

Hoje conheci um verdadeiro marinheiro português.
Com ele tive uma daquelas conversas, que torna insuficiente a palavra entrevista! Daquelas que me impedem de desistir de ser jornalista.
Vivia há uns anos na África do Sul, quando decidiu construir o seu primeiro veleiro antes de o saber manejar… Com ele atravessou o Atlântico e conheceu quase o mundo inteiro.
Vendeu-o. Construiu um segundo, onde também velejou por meio mundo.
Vendeu-o. Construiu o terceiro, com que pescou atum à cana no mar da Namíbia.
Vendeu-o. Construiu o quarto para voltar a viver no mar alto.
Conheceu o “Adamastor” e dele teve medo: “Ondas de 15 metros!” Perguntei-lhe a certa altura: entre tantas voltas, tantas aventuras, que momento guardava naquele cantinho especial da memória? Pensei logo a seguir que era uma daquelas perguntas patetas, pois devem ter sido tantos esses momentos… Surpreendeu-me (ou não, se bem pensar): “Foi quando cheguei a Lisboa, quando avistei a costa portuguesa!”
Este marinheiro decidiu agora atracar… Sinto inveja dos marinheiros, dos verdadeiros, da liberdade e da força de vontade!
Em mim, marinheira diplomada, mas de água doce, há resquícios cobardes dessa vontade de largar amarras, fundear de vez em quando, atracar de vez em quando, mas nunca para sempre, para não me afundar de vez…

lunes, 20 de julio de 2009

Dolce, ma non troppo!

De dentro do helicóptero, ele (jornalista) pede-lhes (às dondocas estilosas que apanhavam sol na cobertura de um prédio) o número de telefone, que não chega a obter e nunca obteria tal é o barulho da hélice, tal é o barulho da vida, para quem não estaciona em quase nada, para quem opta pela sedução do imprevisto... E talvez não lhe interessasse genuinamente aquele número, pelo menos não tanto como lhe interessava pedi-lo!
Começa assim o "La Dolce Vita" de Frederico Fellini, um filme tão cheio de detalhes, de entrelinhas, que merece (carece de) ser visto mais do que uma vez...

A história começa com uma falha de comunicação e é com ela que acaba, já que a menina angélica da sequência final também grita qualquer coisa que o nosso protagonista não capta, mas ficamos com a impressão que é essa mensagem que ele vai agarrar, como trilho de vida...

Porque o filme, que se passa em Roma, a capital do catolicismo, também é sobre a busca de um sentido para a vida e sobre a dúvida do que ela possa ser: viver intensamente como se não houvesse amanhã será talvez evitar ou protelar esse amanhã porque não queremos ou não sabemos tomar decisões e com elas preterir a multiplicidade de opções que só quem se sujeita à espontaneidade conhece!

Vemos Jesus (em estátua) suspenso do helicóptero a sobrevoar Roma, a mesma Roma que engole o "milagre" encenado da aparição de Nossa Senhora a duas crianças! Porque na vida, buscamos os milagres e acreditar neles, para nos facilitar a opção, para não andarmos à deriva...

Talvez a deriva seja mais verdadeira do que as certezas que achamos que temos, sugere uma das personagens, aparentemente alinhada, quando decide matar os filhos e se suicidar!

Foi uma excelente ideia assistir na Alameda à sessão de cinema ao ar livre e rever o "La Dolce Vita"

jueves, 16 de julio de 2009

Dance with me!

Não vi o "Bande à Part" de Jean Luc Godard, mas este vídeo, com música dos Nouvelle Vague, deixa-me com água na boca para descobrir o filme...
E a fantástica saia às pregas presa com um alfinete?!! Era um "must" na minha infância!

Estive a pensar no assunto e conclui que "Dança comigo!" é a melhor frase de engate de sempre. Porquê? Porque denuncia o interesse por e a vontade de e ainda poupa o embaraço, e às vezes mau jeito, das primeiras palavras... E tanto o corpo pode dizer...

No fundo é uma fórmula intemporal... já nos serões medievais era assim que os cavalheiros abordavam as damas, na versão mais vassala de "Conceda-me o prazer desta dança?"

E depois, dançar é claramente o meu exercício físico preferido...

miércoles, 8 de julio de 2009

And the Nobel should go to...

Mark Pfeifle, antigo consultor de segurança nacional da administração de George W. Bush, disse que o Twitter deveria ganhar o prémio Nobel da Paz por ajudar a divulgar a contestação no Irão aos resultados das eleições presidenciais.
Ora aí está!
Eu tentei testar a utilidade do Twiter e, na altura, com maus resultados: pedi ajuda a propósito de um artigo que estava a escrever. Queria informações, possíveis fontes, opiniões. Niente! A minha rede de Twitter é reduzida, o que explica o insucesso!
Mas à medida que vou lendo sobre esta ferramenta convenço-me de que é um rápido e prático veículo de informação útil e inútil!

Wako?

Pergunta: Em que pensa enquanto dança?
Resposta de Michael Jackson: "Não penso. Pensar estraga tudo. Dançar consiste apenas em sentir."

... e digo eu: se pensarmos enquanto dançamos, impomos uma censura aos nossos movimentos! Ou pior: imaginamos a censura dos outros aos nossos movimentos! E isso estraga tudo!
Claro que domesticar o pensamento já é difícil... anulá-lo totalmente é... impossível!

martes, 7 de julio de 2009

Dias que queremos chamar de vésperas

Há dias em que não me sinto em mim
Há dias assim
Há dias em que acordo com medo,
que mantenho em segredo
Dias em que o chão é quem se desvia dos pés
Dias ao invés
Há dias em que nada estava previsto,
mas nesses dias não gosto disso
Há dias Não
Há dias em vão

O progresso que não encomendámos...


Isabelle Huppert é um critério para eu escolher um filme, não só porque figura entre as actrizes que mais admiro, mas porque sabe escolher argumentos que também me agradam. Home confirma isso mesmo: gostei outra vez...

jueves, 2 de julio de 2009

Feras!


Vale a pena esta peça para nos vermos ao espelho! ... e para rir muito! ... e depois reflectir sobre até onde nos levam as banalidades...

miércoles, 1 de julio de 2009

Joana Vasconcelos e a fórmula de Frida Kahlo

Vi-o no Eleven, feito candeeiro, imponente! Um coração de Viana, sobredimensionado, e onde centenas de talheres de plástico teciam o rendilhado encantador da filigrana. Portugal assim representado e representando a grandeza de uma arte em que somos mestres: a ourivesaria em filigrana. Chama-se "Coração independente" também numa alusão ao Fado e é feito com talheres, relacionando a peça com os restaurantes onde o Fado é cantado, de acordo com a explicação da autora, Joana Vasconcelos.
Este cruzamento de ideias agradou a alguém ao ponto de pagar 192 mil euros pela peça, num leilão da Christie's, realizado ontem.
Joana Vasconcelos elegeu a escala, como quem grita... Talvez seja mesmo preciso gritar para sobressair na multiplicidade de propostas artísticas...
A autora de "Cinderela", um sapato de tacão gigante feito só com tachos e testos, grita pela cultura e pelas tradições portuguesas e grita sobre o papel da mulher na sociedade. Frida Kahlo também fez das tradições mexicanas o fio condutor da sua obra e também elegeu a mulher, ainda que numa perspectiva de introespecção mais do que sociológica.
Frida colocava-se ao espelho enquanto Joana é a observadora externa. Mesmo nas suas obras, é muitas vezes o terceiro elemento. Na colcha de renda gigante, que vestiu uma torre do castelo de Santa Maria da Feira e depois pendeu da varanda da Ponte D Luis, no Porto, foi a coordenadora de muitas mãos de fada, especialistas em crochet.

O nome de Joana é dos mais internacionais das artes plásticas portuguesas... A fórmula de Joana é brilhante: passa a mensagem da estética e das tradições de um povo e convoca a discussão sobre a condição feminina.
Não há fórmulas certas. Se há traço que caracteriza a arte contemporânea é a total ausência de espartilhos (Frida percebeu-o bem), mas a fórmula de Joana parece-me potencialmente mais certa do que a de muitos outros: faz sentido criar sobre o que melhor conhecemos, faz sentido criar sobre o que melhor nos define, faz sentido diferenciar-nos à boleia disso... Ela faz tudo isso, tal como Frida o fez.

A voz!

A fila de trânsito é bem mais tolerável, quando começo a escutar os Sinais do Fernando Alves, na TSF.
Hoje ouvi-o sobre Pina Bausch, "a mulher que pôs o medo a dançar". Assim a caracterizou, numa crónica excelente. São todas. As palavras que usa parecem insubstituíveis, o tom é inevitavelmente envolvente, o ritmo, os silêncios têm a medida certa.
Imagino que assim seja em quase tudo o que faz. Mesmo quando se propõe a mostrar a rádio a duas estudantes de comunicação social, substituindo um cicerone que se havia atrasado.
Ainda bem que se atrasou: tivemos sorte! Contagiante, a voz matutina da TSF fez-nos a visita guiada, em jeito romanceado, porém era a verdade que nos transmitia, a verdade dos dias da rádio, os dias dele na rádio!

Na altura estava certa de que a imprensa era o meu caminho e ainda não tinha percebido o encanto da escrita para rádio, do ditado para a voz. Não sabia que era precisamente por aí que o meu percurso profissional iria arrancar. (Tenho saudades da rádio...)

“Já corremos de mãos dadas a mais secreta noite do mundo.
Já subimos ao alto da montanha.
Sabemos todos os nomes do medo e da alegria.
Em ti me transcendo.
Podia morrer nos teus olhos se nestes dias de cigarras doidas perderes de vista o meu coração vagabundo.
Dá-me um sinal.
Abraçar-nos-emos de novoantes dos rigorosos frios.
De novo o grande sobressalto.
O formidável estremecimento dos instantes felizes.
Podia morrer nos teus olhos amada rádio”

Fernando Alves