lunes, 28 de febrero de 2011

(Elogio a Colin I)


Agora apetece-me ir cozinhar, porque me relaxa! Acho que foi mais ou menos esta bisnagada de charme que mandou o Colin Firth, no momento em que recebeu o Oscar.
Como um sonsinho pode ser encantandor... Assim é Colin I, o comedido, que fez de Jorge VI, o gago!(Não resisti ao trocadilho piroso!) Como se lê no El País: "Aunque Firth sea de esos hombres que hace de los defectos virtud."
Não vi o filme e na verdade o Colin I é a única razão pela qual iria ou irei vê-lo...

A entrevista de Oriana Fallaci a Khaddafi

Há uns anos emprestaram-me o "Carta a um menino que não chegou a nascer", um livro que na altura gostei muito de ler. É da Oriana Fallaci, uma jornalista e escritora conotada com a esquerda italiana, no início da sua carreira, crítica de muitos aspectos (os criticáveis, digo eu) do mundo islâmico.

Gostei tanto do livro que comprei outro da mesma autora, durante a viagem de interrail pela Itália. Comprei-o na língua original, ainda não o li...

Vou lendo mais sobre ela do que coisas dela. Hoje esbarrei com esta entrevista da jornalista a Khaddafi. Uma republicação de parte de uma entrevista feita em 1979, altura em que o provável futuro ex-líder líbio fazia esta comparação:

"You do not understand the difference that exists between me and them, between Khomeini and them. Hitler and Mussolini exploited the support of the masses to rule the people. We revolutionaries enjoy the support of the masses to help the people become capable of ruling themselves on their own. I myself am constantly appealing to the masses to govern on their own. I say to my people: ‘If you love me, listen to me. And govern yourselves on your own’. That’s why they love me because, unlike Hitler, who said ‘I’ll do it all for you’, I say ‘Do it on your own’”.

And now, what?

martes, 22 de febrero de 2011

O menino que sobreviveu ao abutre e o fotógrafo que não sobreviveu à indiferença (a sua)

O medidor da nossa indiferença não é indiferente à frequência com que a realidade nos testa. E decidir em situação nem sempre é o mesmo que decidir em consciência.

Kevin Carter decidiu carregar no botão para contar a história do bebé desnutrido e do abutre espectante. A foto de 1993 (Sudão) foi publicada pelo The New York Times e ganhou o Pulitzer no ano a seguir. O fotógrafo suicidou-se.
O El Mundo foi resgatar esta história: o menino não chegou a servir de refeição ao abutre. Morreu quatro anos depois de febre.
Não pretendo defender o fotógrafo, que estas questões não me despertam julgamentos fáceis. O fotógrafo não salvou o menino, nem nenhum dos outros meninos que morrem à fome no Sudão e no resto do mundo, mas esteve lá e ter estado lá ajudou a combater a indiferença: a nossa. Ou talvez não... Porque dentro de segundos seguimos com a vida, a nossa vida a quilómetros do Sudão. E na mesma circunstância, o que faríamos?

lunes, 21 de febrero de 2011

Geração "à espera do comboio na paragem do autocarro" *

Eu comecei por não achar piada aos Deolinda, até que me gravaram o primeiro CD do grupo e mudei de ideias: letras bem humoradas, que induzem, que sugerem, que criticam e música agradável q.b..

Não vejo razão para endeusar nem para crucificar a banda, à pala do tema "Que parva que eu sou", que quanto a mim critica tanto a passividade dos jovens como o sistema que os adormeceu, pelo que para usarem a música como hino queixa, estes jovens têm que enfiar a carapuça primeiro...

Seja como for, dá-lhes jeito (aos Deolinda) toda esta histeria...

* verso de Sérgio Godinho, numa música, cujo nome não me lembro agora e estou com preguiça de googlar... Mas também poderia ser outro verso do Godinho: geração "descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo"...

Adenda: A música chama-se "Lá em baixo" e merece citação completa, porque quem de nós nunca "andou desencontrado como à espera do comboio na paragem do autocarro"?

Lá em baixo ainda anda gente
apesar de ser tão noite
há quem tema a madrugada
e no escuro se afoite
há quem durma tão cansado
nem um beijo os estremece
de manhã acordarão
para o que não lhes apetece
e há quem imite os lobos
embora imitando gente
há quem lute e ao lutar
veja o mundo a andar para a frente

E tu Maria diz-me onde andas tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro

Lá em baixo ainda anda gente
apesar de ser tão tarde
há quem cresça no escuro
e do dia se resguarde
há quem corra sem ter braços
para os braços que os aceitam
e seus braços juntos crescem
e entrelaçados se deitam
e a manhã traz outros braços
também juntos de outra forma
de quem luta e ao lutar
a si mesmo se transforma


E tu Maria diz-me onde andas tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro
Lá em baixo ainda há quem passe
e um sonho que anda à solta
vem bater à minha porta
diz a senha da revolta

vou plantá-lo e pô-lo ao sol
até que se recomponha
é um sonho que acordado
vale bem quem ele sonha
lá em baixo, até já disse
que é que tem a ver comigo
e no entanto sobressalto
se me batem ao postigo
E tu Maria diz-me onde andas tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro
Lá em baixo ainda anda gente
e uma cara desconhecida
vai abrindo no escuro
uma luz como uma ferida
como a luz que corre atrás
da corrida de um cometa
e vejo vales e valados
no sopé duma valeta
lá em baixo ainda anda gente
e uma cara conhecida
vai ateando noite fora
um incêndio na avenida
És tu Maria, eu sei, já sei, és tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro

miércoles, 16 de febrero de 2011

Sobreviver ao sonho

Demorei tempo a perceber, mais até do que a aceitar, que não se pode viver intensamente sempre. Aborreciam-me os intervalos, até aprender a apreciá-los. Sei que serei para sempre hedonista e que isso nem sequer é uma opção, mas tive a sorte (não se trata de talento) de saber procurar sempre novos prazeres, mesmo que seja em coisas que são de sempre.
Não gostaria de escrever sobre economia se me resignasse com o desalento de não poder escrever sempre sobre cultura. E essa foi a grande lição (há sempre uma que é maior que todas as outras) que já aprendi: não desistir nunca de descobrir prazeres, novos, renovados...
E não se pode viver sempre intensamente porque "de tanto bater o coração pára", tem que parar!
O "Black swan" recambiou-me para o processo que me permitiu ir entendendo que não duram mais que minutos aqueles momentos em que o coração dispara, e que há que apaziaguá-lo também.
Não que o filme trate realmente disso, mas desistir da dança foi a minha primeira ferida, a primeira derrota que enfrentei, a primeira vez que percebi que acreditar na reencarnação me daria muito jeito, porque nesta vida eu já tinha um sonho a que dizer adeus. E dizer adeus a um sonho é o contrário de viver intensamente.

O filme roda precisamente sobre o duro que é viver o sonho. Aceitar o desafio de o concretizar é na realidade bem mais difícil do que ter que prescindir dele, porque é mais fácil o prazer dos intervalos ainda que menos intenso.

E na verdade, este filme do Darren Aronofsky poderia chamar-se outra vez "Requiem for a dream". E foi do trabalho do realizador e do argumento que eu mais gostei.

martes, 15 de febrero de 2011

A foto

Na altura eu questionava-me sobre a ética desta capa da Time.

A foto da fotógrafa sul-africana Jodi Bieber venceu o World Press Photo 2010 e vai correr mundo em exposições. A história da jovem afegã Bibi Aisha, que agora está fisicamente recuperada, após várias cirurgias plásticas, vai correr mundo. E isso pode ser bom para todas as outras jovens.

lunes, 14 de febrero de 2011

Junquilhos senhores! Junquilhos!

Não me lembro em que aniversário me ofereceu a minha mãe pela primeira vez junquilhos! Mas o junquilho tornou-se a partir daí a minha flor preferida e foi provavelmente a primeira que alguma vez me ofereceram.

Agora é já uma tradição a que se aliou também a minha tia Alice! Recebo quase sempre junquilhos em dose dupla pelos anos!

Diz-se que é a primeira flor que desabrocha, a anunciar a proximidade da Primavera! Diz-se que lhe chamam também narciso, o símbolo da vaidade!




Nisto dos junquilhos, há uma sequência obrigatória: esta, que inclui a cena que começa no minuto 3, 30!

miércoles, 9 de febrero de 2011

Jornalistas!

...e mais coisas a oferecer aos jornalistas!


e se o amor fosse promovido a editor...

Gonçalo!

Chama-se assim esta cadeira. Mas eu já gostava dela antes de conhecer o nome com que a batizaram.
O meu pai resgatou-a algures (talvez no lixo de obras). Na verdade, resgatou duas. Estavam bastante enferrujadas, até que a minha mãe as pôs como novas.
Andava há que tempos para a fotografar, depois de a ter redescoberto no blogue do Luís Royal, por onde costumo andar a bisbilhotar sobre design. Fiquei a saber que a cadeira que costumamos ver em tantas esplanadas deste país foi criada em 1954 por Gonçalo Rodrigues dos Santos.
É linda e confortável, no contexto esplanada.

martes, 8 de febrero de 2011

Orgulho e preconceito!

"Acontece que os crimes de violência doméstica são o resultado desta pureza de sangue; casamentos que não se discutem, filhos a quem se permite tudo, mulheres trucidadas por famílias funcionais e por ideias disfuncionais, álcool a rodos (ai, a Direcção-Geral de Saúde!), falta de dinheiro, desemprego, emprego a mais, telenovelas, sangue na estrada, miséria no lar, mau sexo e maus hábitos, machismo mariola, machismo filho da puta transmitido de pais para filhos e de mães para filhos."

Francisco José Viegas, numa reflexão que merece ser acompanhada aqui.

Não sou leitora do Correio da Manhã e julgo-o sem verdadeiramente o ler, mas concordo que o dito "jornalismo de referência" há muito que não merece esse título porque se demite de cobrir muito do Portugal real. Se o Correio da Manhã o faz bem ou mal, isso é outra conversa, mas pelo menos, ao que consta, não deixa de o fazer.

Fui à horta


Há mais verdade agora no meu frigorífico e eu tenho mais certeza (melhor substituir por ambição) de que um dia me dedicarei a isto de ter um quintal com legumes e árvores de fruto de verdade. Apesar das desanimadoras experiências com as plantações de hortelã e de salsa na minha varanda...

jueves, 3 de febrero de 2011

Eu e o Johnny Depp sozinhos na mesma sala

Moral da história nº 1: ir ver um filme com o Johnny Depp nunca é perda de tempo.

Moral da história nº 2: revisitar Paris e Veneza, mesmo que seja só a duas dimensões, nunca é perda de tempo.

Assim sendo, "O turista" cumpriu muito bem a função de me entreter: o casting masculino rivaliza com o dos mais saudosos anúncios da Gillette, se excluirmos os "maus da fita", que também eram os feios da fita; os vestidos da Elisa eram todos muito ao meu gosto.

Não serei eu a dizer que o filme é mau, embora agradeça a todos os que o fizeram, já que contribuíram para o meu momento a sós com o Johnny.

Por enquanto é sem título

António Fernandes Pereira Marques e Adelaide de Oliveira Rocha. Fixaste?
É o que de mais antigo conheço genuinamente de ti.
Criaram-me. (Gosto do duplo sentido do verbo criar!)
Um bocadinho de ti vem deles e garanto-te desde já, que te podes orgulhar da Adelaide, que vendia peixe na Ribeira com a mãe e depois criou meninos e meninas como eu, e do António, que trabalhou quase toda a vida nos STCP. Depois de se reformar, dedicou-se à pastorícia: era o Sr. António das Ovelhas, que fazia parar o trânsito com o rebanho, pelas ruas de Leça do Balio. Por consequência nós, os familiares, não tínhamos direito a nome, éramos qualquer coisa como "a neta do Sr. António das Ovelhas"!

martes, 1 de febrero de 2011

A minha fronteira

Escreve-se aqui que Valença y Tui "vivieron siglos enfrentadas, pero en realidad (crê o autor) no sabrían vivir la una sin la otra".

A água do mar é por aqui particularmente fria e temperamental, mas é, ou talvez por isso também seja, o meu pedaço preferido da costa ibérica. Onde as montanhas aveludadas só se detêm perante a evidência do Atlântico, conseguimos senti-las a medir forças com ele. E não há como não amar as duas terras que "o Minho já não separa".
Há um Portugal de luxo ignorado por um "Turismo" distraído...

Sedutora, a ler...


Pode a leitura ser sensual? Pode, responde Picasso, ao retratar uma das suas amadas, a Marie-Therese Walter. É certo que a senhora não parece estar concentrada na leitura...
A pintura é de 1932, ano em que foi exibida ao público, para depois desaparecer até 1940. Nessa altura surge numa galeria, em Nova Iorque. Depois passa pelas mãos de vários coleccionadores privados, privando-nos a quase todos de lhe pôr a vista em cima... O actual dono decidou leiloar a obra, avaliada num confortável intervalo de 14 a 21 milhões de euros. O leilão é na Sotheby's, no próximo dia 8.
Decido avisar, caso algum desconhecido (os conhecidos quereriam, mas não poderiam) não saiba o que me oferecer pelos anos...
Mas também me contento se o Senhor Berardo a quiser partilhar no CCB.