jueves, 28 de enero de 2010

"Lisboa VIVA"

Já se sabe: andar de autocarro fora das horas de ponta é o mesmo que atalhar para a parvoeira (tecnicamente designada por introspecção). Pior só a auto-estrada, onde os estímulos externos são quase nulos e não há outro remédio senão remoer! Eu acumulo quilómetros de experiência nesta matéria e, a bem da verdade, não se pode dizer que daí tenha resultado alguma coisa de produtivo. Azar o meu, que já foi tempo em que os pensadores eram apreciados pelo mero exercício dessa actividade ociosa... Não admira que em Atenas não haja sinal histórico dos tempos posteriores à antiguidade clássica: pois se eles já tinham atingido a perfeição? Retroceder para quê?
Mas o que quero partilhar é a minha indignação, ou talvez curiosidade (que a indignação dá muito mais trabalho): fazia eu hoje o habitual percurso de cerca de 20 minutos do 726, quando o meu suave despertar é interrompido pela visão grotesca de uns quantos bloqueadores atracados a carros alegadamente mal estacionados, ou estacionados sem comprovativo de pagamento do parquímetro?
Já não os via há uns tempos... Achava até que já algum iluminado na EMEL tinha percebido a imbecilidade do princípio bloqueador e tinha finalmente sugerido a compra de mais uns quantos rebocadores (suspeitei disso sobretudo depois do meu popó ter sido rebocado há uns meses) muito mais eficientes, já que garantem o pagamento da multa e, o mais importante, retiram o infractor da via, que é como quem diz, permitem que um lugar ocupado por um caloteiro possa ser disponibilizado para usufruto de um cidadão potencialmente cumpridor. No caso da viatura estar mal estacionada, o reboque trata de a retirar do local! Lógico?
Ao contrário, o que os bloqueadores fazem é perpetuar, prolongar a situação de infracção... Juro que já queimei uns quantos neurónios a tentar justificar isto, mas não chego lá. Alguém me explica por que razão se insiste neste esquema?
Ultrapassado o primeiro momento enervante do dia, mais à frente, já picada pela vontade de usar os bloqueadores directamente na mão dos legisladores e governantes, precisamente antes de transformarem estes produtos da diarreia mental em lei, vejo outra prova da insanidade mental das pessoas que colocamos no poleiro (seja activamente, seja por inércia): passo no que foi e poderia ser um oásis em Lisboa (em cidades civilizadas é conhecido por jardim)... O dito estava gradeado com o carimbo repetido a cada 10 metros da CML, como que a dizer: estamos conscientes de que já faltou mais para que isto se transforme num labirinto de ervas daninhas onde os ratos brincam às escondidas, para desgastar a porcaria que engolem, graças ao patrocínio ali despejado pelos humanos em doses generosas, ou quando já estão cansados de fornicar para aumentar a espécie e colocar Lisboa no pódio, ao lado do convento de Mafra!
A coisa piorou quando a minha memória (que até nem é grande coisa) me devolveu as palavras do actual presidente da CML (na altura em plena campanha). O senhor disse qualquer coisa como isto: os nossos jardins estão ao abandono porque já não há empresa que aceite fazer a sua manutenção, tal é a dívida acumulada da CML a estes prestadores de serviços! Mas trataremos disso!
Calma, não se apresse senhor autarca! Há prioridades, como obrigar o trânsito a fazer um U no Terreiro (agora é mesmo o que aquilo é) do Paço só para que possamos todos caminhar sem interrupções entre a praça e o rio... Que importa o comércio local e a mais lógica ligação da praça à pedonal Rua Augusta? Que importa que os turistas e lisboetas mais ousados no Martinho da Arcádia levem com carradas de CO2 dos autocarros, carros e afins que ali vão fazer fila, graças a estre iluminado desvio estratégico que interrompe a (lógica) recta que ladeava o rio!?
Voltando ao jadinzito, deu-me para pensar o mesmo que penso sempre que alguém se lembra de dizer que haveria menos incêndios se as matas estivessem limpas... Então e os moços e moças que beneficiam do rendimento mínimo (alguns, justificadamente, mas tenho para mim que são as excepções!)? Já recebem o dinheirito? Têm saúde? Então e jardinagem? Manutenção florestal?
O centro de emprego certamente que poderia dar daqueles cursos de formação para transformar estes senhores em prendados profissionais? E voltaríamos a ter jardins públicos mantidos com dinheiros públicos para benefício do público (que é isso que somos: gente que assiste)!
Os ratos são criaturas empreendedoras e de espírito nómada... Não há que temer pela extinção dessa espécie!

PS: Espectáculos de igual calibre multiplicam-se ao longo da rede da Carris. Aconselha-se o livre passe "Lisboa Viva", disponível por menos de 30 euros mensais!

martes, 26 de enero de 2010

O verbo é relativizar

O barulho do café a moer, mais do que o cheiro, que já não sentia, oficializava que estava pronta para dar ordem de partida ao cérebro. Levou o café, cheio e sem açúcar, como se habituara a beber, para a secretária. Iniciou o Gmail, mas nenhum dos remetentes lhe despertou particular interesse. Seguiu viagem... Começava quase sempre pelo El Mundo, mesmo que gostasse de gostar mais do El País, mas fizera disso regra quando apenas os conteúdos de um eram gratuitos. Depois saltava para o Público, quase por dever de consciência... O mesmo princípio induzia-a a picar os económicos portugueses, espanhóis, os brasileiros (adorava o Isto é), às vezes o Finantial Times, outras o Wall Street Journal, ... Uma vez ou outra viajava até um argentino, um italiano... Gostava de espreitar os galegos: Faro de Vigo, La Voz de Galicia,... Visitava quando se lembrava La Estrella Digital, a que achava especial piada e que, há uns anos, tinha uma paginação (no caso paginação é o termo, porque era mesmo o que fazia lembrar) muito gira, antes de alinhar na carneirada :(
Constrastou o artigo sobre a economia "superaquecida" brasileira com outro sobre a desvalorização do bolívar venezuelano e a consequente corrida às lojas para comprar leite em pó e afins... Pasmou com "a senhora que tropeçou no "actor" de Picasso, rasgando um pedaço da tela (?) e pasmou, mas menos, na notícia da Louis Vuitton que quer contratar o "consultor" Tony Blair...


De regresso a imagem que me marcou no primeiro filme que vi este ano no cinema, o "Ágora" do Alejandro Amenábar... Filmezinho insípido sobre como os "segundos" cristãos rapidamente se esqueceram da intolerância que sofreram os "primeiros" e trataram de castrar qualquer tentativa de questionar o dogma... É também sobre outra intolerância, a que escondia o medo do conhecimento ou do "atrevimento" de querer saber mais (a filósofa Hipátia poderia ter-nos poupado uns séculos de atraso, caso a intolerância/preconceito/medo não falasse mais alto)...
A imagem de que me lembro era a da "pequena" Terra no Espaço, metáfora da insignificâncioa das nossas lutinhas e dos nossos probleminhas...
Mas, por outro lado, quando é que é legítimo começar a "relativizar"?

jueves, 21 de enero de 2010

Tango interior

Pelo tango, claro!
Pelo conceito: uma mulher várias facetas!

Si

"Corre deprisa que el mundo se amarga, que el amor se muere, que el amor se acaba..."

Acabadinha de roubar a um amigo que a postou no Facebook, a quem pedi satisfações sobre a autoria: É a letra de um tema antigo de Flamenco cantado pelo Camaron de la Isla e que o Potito recuperou. "Rosa del amor"

miércoles, 20 de enero de 2010

Fanny Ardant et moi

Só medi a tela com os olhos, de uma ponta à outra, sem interrupções, porque nessa noite todas as cadeiras estavam vazias à minha frente. A tela cresceu.
Nada entre mim e "Cendres et sang", o filme que colocou Fanny Ardant do lado de cá da lente. Inquietante. Ponteagudo. Poético nas imagens. Cruel nas palavras. Certeiro como a vida.


Aguardo o próximo.

lunes, 18 de enero de 2010

Ups, I did it again!

Sempre fui dada a especulações, daquelas que soltam a rédea à insensatez.
Finjo que não acredito que posso domar a imaginação e pimba, lá estou eu, inconsequente, a trilhar histórias, a atribuir intenções ao acaso...
Mas chega sempre o momento em que me cai a moedinha, o estalido metálico, a travar o embalo.
De tanto se repetir, já não há moral que justifique a história.

miércoles, 13 de enero de 2010

"Sorri"

Conheci pouco mais do que o teu sorriso, que aparecia quando o solicitávamos, quando to provocávamos, mas sobretudo quando não sabias o que dizer. Não sabias muitas vezes o que nos dizer, ou não querias dizer-nos o que sabias.
O sorriso era o teu escudo muito mais do que a tua arma.
Não cheguei a saber quase nada sobre ti, nem chegarei a compreender porque partiste antes do tempo.
Esta ignorância, parcialmente voluntária, faz-me sentir incomodamente cúmplice dessa tua partida.