domingo, 17 de mayo de 2009

Um poema de sempre

Sempre me pareceu que a poesia precisa da voz para melhor ser apreciada, com ou sem música...

Estrela da tarde, do Ary dos Santos (recordei-a hoje na TSF)

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

viernes, 15 de mayo de 2009

O Porto está a mudar... e em breve iremos notar


Praça do Duque da Ribeira, Porto, 8 de Maio de 2009


Olhares de um fim de tarde bem passado pelas futuras ex-ruínas do meu Porto (cada vez com mais) sentido!




Este edifício albergou o primeiro hotel do Porto... Será um hotel low-cost em breve...

A Costureirinha da Sé "morava" nesta casa!

Poema roubado... ao passado

Entre eles não havia horas perdidas,
nem silêncios incómodos
Em silêncio, ela dizia-lhe a verdade
Em silêncio, ele nem desconfiava
O mundo inteiro cabia entre os dois
Esmiuçavam-no, espicaçavam-se, contagiavam-se
Às vezes gritavam
Horas ganhas
para que ficassem a saber exactamente o mesmo um sobre o outro
Eram cúmplices
Ela já o sabia
Ele nem desconfiava

miércoles, 13 de mayo de 2009

porque...

Por sorte tenho uma oficina de mecânica na minha rua. Foi o sapateiro (também da minha rua) que mo recordou quando percebeu o meu desespero ao rodar a chave na ignição, sem resposta...
Isto para dizer que o episódio da bateria teve um lado bom (há sempre um?)...
Irrita-me que as pessoas se ponham na conversa, transformando em corredores os passeios. Quem lá passa sente-se intruso ou bisbilhoteiro de circunstância. Pior quando estamos a falar de mecânicos, que interrompem descaradamente a conversa para galar quem passa...
Ora, tudo isto é passado porque os mecânicos da minha rua são agora os meus amigos mecânicos... Pai e filho socorreram-me em três tempos: era ver o senhor a correr, à chuva, até ao incompetente do meu carro, de carrregador em punho. E depois do motor começar a roncar, ainda me alertou para que guiasse com calma e cuidado, porque chovia! E que não me preocupasse com o pagamento porque era da rua e depois logo se via!
Quando lá voltei para pagar: a resposta foi a mesma... "depois logo se vê menina, não tenha pressa, o meu pai nem está cá a agora"...
Moral da história: serviço tradicional no seu melhor... insubstituível! Estou conquistada!

Hoje: novo episódio a atestar o mesmo!
Tinha um vestido encomendado numa loja dois quarteirões abaixo da minha rua há umas três semanas... Sempre que lá passava estava de carro e não havia onde estacionar... Hoje encontrei um buraquinho e fui levantar a encomenda! Depois de explicar à empregada o motivo da minha demora... Resposta: quando for assim apite e nós vamos ter consigo à rua! Levamos a maquineta de Multibanco e tudo! Volta e meia fazemos isso!

As Pessoas valem a pena!

lunes, 11 de mayo de 2009

Porquê?

Que raio de mensagem celeste ou do destino poder-me-á ser passada quando no dia em que tenho que dar o primeiro teste da minha vida a uma turma fico sem bateria no carro?

Mesmo tendo saído com muuuuuuuuuuito tempo de antecedência de casa cheguei uns minutinhos atrasada!!

Alguém entende estes desígnios do demo????

Terá sido maldição de um benfiquista mal resolvido???

Claro que em mente tinha todos os palavrões do dicionário e os outros também quando cheguei à escola!

miércoles, 6 de mayo de 2009

Superlativo relativo

O mais fácil para mim é sempre experimentar
O mais difícil é escolher
O mais fácil é questionar
O mais difícil é responder
O mais fácil é procurar
O mais difícil é concluir e julgar
O mais fácil é o desconhecido
O mais difícil é manter-me por lá depois

martes, 5 de mayo de 2009

Camilo e Siza

Camilo Castelo Branco e Siza Vieira elegeram o mesmo cenário, o Porto. A convite da revista brasileira Viagem e Turismo (Editora Abril) tentei percorrer as pisadas ou o espírito da época de ambos...

Esta é a versão pré-adaptação ao português do Brasil...

O Porto de Camilo Castelo Branco

A cidade que inspirou o nome a Portugal tem séculos de argumentos para merecer uma visita. Vamos deter-nos no XIX e seguir o rasto do romancista e jornalista Camilo Castelo Branco. O Porto, que também emprestou o nome ao vinho, era por esta altura uma cidade mercantil, industrial, cosmopolita, revolucionária e romântica. O autor de “Amor de Perdição” e de “A Queda de um Anjo” alugou-a e contracenou com ela.

Da janela do quarto, Camilo Castelo Branco poderia, se quisesse, contar quantos barcos rabelos atracavam por dia no cais da Ribeira. Até serem substituídas pelo comboio, estas embarcações, que hoje encantam os turistas, desciam o Rio Douro carregadas de pipas de Vinho do Porto para armazenar nas caves de Vila Nova de Gaia (actualmente visitáveis). O vinho adoçava a boca aos ingleses e impelia a cidade a fazer justiça ao seu nome, sendo porto de chegada para as pipas provenientes do Alto Douro e de partida para as garrafas de Porto a exportar para Inglaterra. Tudo isto poderia Camilo confirmar porque estava preso na Cadeia da Relação numa cela voltada para o rio. Estávamos em 1860 e o escritor cumpria pena por adultério, no edifício em que pelo mesmo crime se encontrava também encarcerada a sua amada, Ana Plácido.
O bulício do Douro, que desagua no Porto, não seria distracção suficiente para o escritor, que encontrou no papel e no tinteiro melhor companhia. Hoje é possível conhecer esse espaço reduzido onde Camilo escreveu um dos seus mais afamados romances, “Amor de Perdição”, a história trágica de Simão e Teresa, inspirada no amor reprovado do escritor por Ana Plácido. A antiga cela de Camilo está aberta ao público bem como outras salas da Cadeia da Relação, transformada em Centro Português de Fotografia (cpf.pt, Campo Mártires da Pátria, entrada livre). Aí podemos espreitar por lentes arcaicas que congelaram momentos desde os primórdios da fotografia, admirar o espólio de um pioneiro fotógrafo e cineasta português, Aurélio da Paz dos Reis, e outras mostras que o centro vai rodando.
Recuar às primeiras experiências fotográficas, é viajar pelo século XIX, pelo romantismo artístico, político e filosófico em que encaixa a obra e a vida de Camilo. O escritor nasceu em Lisboa, em 1825, mas morou quase toda a sua vida no Norte de Portugal. O Porto foi palco de anos rebeldes: Camilo dividia-se entre inflamadas paixões e a boémia dos cafés e salões burgueses, onde era popular pelos seus escritos jornalísticos.
Descobrimos esse Porto burguês e romântico na encosta que se estende da Boavista ao rio. Descendo uma das suas estreitas ruas alcança-se o Museu Romântico (Rua de Entrequintas, 220, € 2 de terça a sexta, entrada livre aos sábados e domingos), alojado na Quinta da Macieirinha, reduto de férias da família Pinto Bastos, fundadora da conceituada fábrica de porcelanas Vista Alegre.
A casa envolta por jardins, denuncia quão forte era a presença britânica no Porto no século XIX, um pouco à boleia do comércio do vinho. O museu reconstitui a vivência da época, com móveis de diferentes estilos, que desvendam o eclectismo dos românticos. Testemunha-se igualmente a sua paixão pelo coleccionismo num quarto que exibe várias colecções. A ampla sala de baile deixa-nos imaginar saiotes a rodopiar em serões festivos e faustosos, ao som de Chopin ou Beethoven, autores certamente tocados nos dois pianos fortes Collard que permanecem no museu. Em algumas dessas festas participou o rei italiano Carlos Alberto de Piemonte e Sardenha, que esteve nesta casa exilado e nela faleceu em 1849.
Em frente à Quinta da Macieirinha fica a Quinta Tait (Rua de Entrequintas, 219), que abrigou várias famílias inglesas, como a do abastado negociante de Vinho do Porto William Tait. Mais tarde adquirida pela prefeitura, a casa mantém o traço romântico e acolhe exposições temporárias, merecendo uma visita também pelos seus perfumados jardins.
Colado à Quinta da Macieirinha fica outro legado do romântico, o Palácio de Cristal (Rua D. Manuel II), ou o que resta dele, já que o edifício, erguido em 1865, foi demolido em 1951, dando lugar ao pavilhão desportivo Rosa Mota. Camilo contestou a construção desse palácio que considerava o símbolo do Porto burguês e materialista. O imóvel original, assinado pelo inglês Thomas Dillen Jones, foi tal como o Palácio de Cristal de Petrópolis inspirado no Crystal Palace londrino. Actualmente o espaço atrai sobretudo pelos jardins românticos projectados pelo paisagista alemão Emílio David e pela moderna Biblioteca Almeida Garrett (outro escritor do romântico português).
O ponto final neste roteiro pelo Porto do século XIX pode ser temperado por um cálice da bebida que na época fermentou a cidade comercialmente, projectando-a no resto do mundo. Pode brindar à História e a Camilo, por exemplo, na Quinta da Macieirinha, onde também mora o Solar do Vinho do Porto. Das janelas deste bar/loja de vinho pode igualmente ver os rabelos a partir e a chegar. Em vez de vinho transportam agora turistas desejosos de o experimentar…

O Porto de Siza Vieira

O vencedor do Pritzker em 1992 conhece uma cidade empenhada em acordar depois da ditadura. O Porto de hoje tem o dedo de Álvaro Siza Vieira. A cidade onde o arquitecto trabalha preserva as heranças do passado, mas quer deixar marcas para o futuro. O projecto Porto Capital Europeia da Cultura 2001 agitou a cidade. O efeito continua contagiando vários sectores da vida da segunda maior urbe de Portugal.

Se a viagem pelo Porto de Camilo Castelo Branco pode terminar com um cálice do vinho licoroso que foi buscar o nome à cidade, é justo iniciar um percurso inspirado em Álvaro Siza Vieira com o mesmo copo na mão. O arquitecto português, é conhecido pelas formas que vai acrescentando ao espaço urbano, mas poucos sabem que é também o autor do copo oficial da bebida mais famosa de Portugal (à venda no Solar do Vinho do Porto). Assim é desde 2001, por encomenda do Instituto do Vinho do Porto. A peça de cristal Tritan mede 16,7 cm e é mais alta do que os até então copos usados para beber Vinho do Porto. No pé, o copo possui uma ligeira concavidade para indicar onde deve assentar o polegar, de modo a melhor movimentar e observar a bebida antes de lhe sentir o aroma e de a provar.
A experiência fica mais saborosa se a escassos metros de si estiver o mar, apenas filtrado por uma parede de vidro. Isto é possível na Casa de Chá da Boa Nova (Lugar da Boa Nova, Matosinhos), projectada por Siza Viera e concluída em 1963. O espaço parece ter sido cavado nos rochedos da Praia de Leça da Palmeira, uma das primeiras que encontra depois do Douro se render ao Atlântico. Quem visita o Porto dificilmente resiste a um desvio à cidade vizinha de Matosinhos para conhecer esta carismática obra de Siza. Aqui pode beber um Porto, um chá (a outra bebida, que os portugueses ensinaram os ingleses a gostar, através de Catarina de Bragança, esposa do rei Carlos II de Inglaterra) ou mesmo fazer uma refeição.
Ainda na praia de Leça da Palmeira, a convidá-lo para um mergulho, estão as Piscinas das Marés (Avenida da Liberdade, Matosinhos) também da autoria de Siza. A construção surge tal como a Casa de Chá camuflada entre os rochedos, como se não quisesse perturbar a Natureza. Antes tira partido dela, já que é da água salgada do Atlântico que se alimentam as piscinas.
Seguindo pela costa atlântica que nos leva até à Foz do Douro, já no Porto, faça escala no Parque da Cidade (Avenida da Boavista), uma conquista recente para a qualidade de vida dos portuenses. Idealizado pelo arquitecto paisagista Sidónio Pardal, o maior parque urbano do país é generoso em espaços verdes e lagos, sendo ideal para jogging, passear de bicicleta, ou simplesmente relaxar.
O recinto faz fronteira com a Boavista, zona de luxuosas vivendas que se estica até à Foz do Douro. Entre ambos está a Avenida da Boavista. Recomenda-se uma paragem a meio, não por se tratar da mais longa artéria da cidade, mas porque é imperioso visitar a Quinta de Serralves, onde está o Museu de Arte Contemporânea (serralves.pt, Rua D. João de Castro, 210), outra obra com o carimbo de Siza. O edifício branco, de linhas rectas e surpreendentes jogos de luz, concluído em 1999, alberga uma colecção permanente, que conta a evolução da arte desde a década de 60, e recebe mostras temporárias de arte contemporânea. O espaço é determinante no diálogo com outras instituições culturais, na projecção internacional da cidade, bem como na educação para a arte e na sedução de novos públicos.
O mesmo caminho parece trilhar a Casa da Música (casadamusica.com, Avenida da Boavista, 604-610), projectada por outro colosso da arquitectura actual, o holandês Rem Koolhaas. Este novo espaço, incontornável na programação musical da cidade, ficou pronto em 2005 e é já um ícone arquitectónico do Porto, justificando a visita guiada (€ 3).
A Casa da Música é um legado do Porto Capital Europeia da Cultura 2001, projecto que catalisou a revitalização de muitos espaços culturais e melhorias urbanísticas em zonas como a Praça Carlos Alberto ou o quarteirão do Jardim da Cordoaria. Os arranjos sublinharam a imponência da Igreja e Torre dos Clérigos (Rua dos Clérigos), projectadas pelo italiano Nicolau Nasoni. Concluída em 1763, a torre é o símbolo do Porto e permite aos que se atrevem a escalar os seus 225 degraus uma vista de 360 graus sobre o centro histórico da cidade, que vale a classificação de Património Mundial da UNESCO.
Desse ponto observa-se a remodelada Avenida dos Aliados, um trabalho de Siza em parceria com o também reputado arquitecto português Eduardo Souto Moura. Os Aliados foram reestruturados de modo a acumularem a função de praça, para maior usufruto das pessoas. O granito é o material de eleição, em homenagem ao maciço rochoso em que assenta a cidade e que agradou a vários estilos arquitectónicos: Sé (românico), Igreja de São Francisco (gótico), Igreja da Misericórdia (renascentista), Clérigos (barroco), Palácio da Bolsa, Câmara Municipal e Hospital de Santo António (neoclássico), entre outros…
Não se despeça da cidade de Camilo e de Siza sem antes a ver do lado de fora. Desça os Aliados até à Estação de Comboios de São Bento (obrigatório cruzar a porta de entrada e babar com os 20 mil azulejos de Jorge Colaço), embrenhe-se no Porto mais medieval até ao rio, atravesse pela Ponte D. Luís (projectada pela equipa de Gustav Eiffel no século XIX) para a Ribeira de Gaia. Eleja uma das esplanadas das caves de Vinho do Porto. À sua frente, em cascata, o Porto espelha-se no Douro. O cinzento granítico mistura-se com tons ocres. De cortar a respiração!

domingo, 3 de mayo de 2009

Pinceladas na memória

Não tenho assim um grande manancial de provérbios na ponta da língua, nem de tiradas de filósofos, mas há meia dúzia de frases, ou passagens que me ficam... Como o grito de resistência da Scarlet O' Hara em E tudo o vento levou: "Não vou preocupar-me com isso agora. preoucupar-me-ei amanhã porque amanhã é outro dia."
E no sábado quando revi pela terceira vez o filme sobre a vida de uma pintora de quem sou fã, Frida, atentei noutra. Qualquer coisa assim: "... mas nada disto interessa porque te amo cada vez mais e acho que me amas um bocadinho também e, mesmo que seja mentira, não vou deixar de ter esperança de que seja verdade."
E esta não é ficção, já que a Frida terá escrito isto mesmo a Diego Rivera, o pintor da vida dela.

A1

Hoje fiz a viagem Porto-Lisboa na companhia do Camané... mais ou menos até Coimbra. Depois apeou-se e deu lugar ao Wim Mertens...
Fiquei presa à letra desta música. Foi a primeira vez que a entendi.

Camané, Sei de um rio
Sei de um rio
sei de um rio
em que as únicas estrelas
nele sempre debruçadas
são as luzes da cidade
Sei de um rio
sei de um rio
rio onde a própria mentira
tem o sabor da verdade
sei de um rio
Meu amor dá-me os teus lábios
dá-me os lábios desse rio
que nasceu na minha sede
mas o sonho continua
E a minha boca até quando
ao separar-se da tua
vai repetindo e lembrando
sei de um rio
sei de um rio