viernes, 22 de marzo de 2013

Rafael Bordalo Pinheiro


Como adoro todo o universo bordaliano, não poderia deixar de registar que o Google celebrou, ontem, a data de nascimento desse génio português, com um doodle do Zé Povinho, que infelizmente não perde actualidade.

A propósito, publico aqui um artigo que escrevi há alguns anos para a revista Actualidade - Economia Ibérica:

Bordalo intemporal
Caricatura, cerâmica e decoração de interiores ao serviço da crítica bem humorada e da beleza. Rafael Bordalo Pinheiro responde por tudo isso. No museu que o homenageia em Lisboa vai perceber que as obras deste artista poderiam muito bem reportar-se aos dias de hoje, apesar de ele já ter morrido há mais de um século…

Um ramo de bacalhaus presos pelo rabo enfeitam uma mísula. Mesmo ao lado, um móvel semelhante exibe uma cabeça de perú. São ambas peças de cerâmica aplicadas em madeira e ambas atestam a criatividade e o talento de Rafael Bordalo Pinheiro. Substantivos recorrentes para qualificar o mestre depois de visitar o Museu Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa.
Por aqui é possível conhecer uma parte significativa das obras de cerâmica de Bordalo, fruto do seu interesse pela indústria do sector, das Caldas da Rainha, como recorda Pedro Bebiano Braga, o novo comissário científico e responsável pelo museu: “Em 1884 Bordalo funda a Sociedade Fabril das Caldas da Rainha. Bordalo pega na tradição e eleva-a, inova, actualizando vários moldes da cerâmica caldense. Além da louça que se vende um pouco por todo o mundo, criou várias peças únicas, de uma estética moderníssima.” Bordalo era dado aos revivalismos históricos e como tal homenageou através da cerâmica vários estilos: o mourisco, bastante presente em alguns dos seus azulejos, os anjinhos do barroco, as cordas e outros motivos que evocam o manuelino e a época de glória dos portugueses, a arte nova, as cópias da natureza representada através de reptéis, marisco,musgos, frutos, etc. Não é difícil surprendermo-nos com a riqueza dos detalhes como quando descobrimos que o que parece ser um cesto de verga é uma peça toda em cerâmica. “Bordalo deu-se ao trabalho de entrelaçar tiras de cerâmica para dar o efeito da cestaria”, garante Pedro Bebiano Braga.
Além da cerâmica, outra das facetas conhecidas e reconhecidas de Bordalo é a de caricaturista. Fundou vários jornais, onde publicava os seus desenhos. Ao jeito para desenhar aliava o poder de observação e sentido de humor, tornando-os instrumentos ao serviço da crítica política e social corrosiva e também do elogio, já que “Bordalo tinha um sentido ético notável”, comenta Pedro Bebiano Braga. “É um homem muito atento ao seu tempo e isso é quase diariamente plasmado nos seus desenhos e nas suas peças”, observa, acrescentando que “a partir dos anos 70 Bordalo entra em cena e vai dando notícia das transformações de Lisboa”, tornando impossível estudar o século XIX e início do século XX sem passar por este artista. As histórias das suas caricaturas aludem “à pequena anedota da Baixa, às grandes negociatas políticas”, dão-nos conta dos quiosques que se instalam na cidade, do banco novo da rua. E são histórias de Portugal e do mundo, frisa o historiador: “Bordalo era conhecido também fora de Portugal, já que às suas caricaturas respondiam outros caricaturistas europeus. Trocava farpas a nível internacional, numa altura em que comunicar à distância não era fácil. Chegou a ter caricaturas nas tabernas alemãs. Não se limitava a abordar a sociaedade portuguesa. Caricaturou Bismark, por exemplo.”
A dimensão internacional de Bordalo prende-se também com o facto de ter viajado bastante e ter trabalhado em Espanha, em França e no Brasil. Em Portugal era muito bem relacionado e o seu trabalho tinha tal impacto que muitas pessoas chegaram a pedir-lhe para ser caricaturado.
Bordalo não poupava políticos como o chefe do governo António Maria Fontes Pereira de Melo, através da personagem António Maria, mas o seu “boneco mais popular é o Zé Povinho. Criado a 12 de Junho de 1875, ainda hoje é evocado. Trata-se de “uma personagem ícone, que traduz o que é ser português”, explica Pedro Bebiano Braga. Na altura “iletrado, vítima, o Zé Povinho é muitas vezes representado como burro de carga do poder que o carrega”, recorda o historiador, ressalvando que “este povo resignado e adepto do deixa andar, porque sabe que as negociatas acabam por ser desmascaradas e que as coisas vão mudar, está muitas vezes a fazer o maguito, que é a sua forma de reagir”. À semelhança com os dias de hoje, na altura os tempos também eram de crise, pelo que este Zé Povinho tem algo de intemporal, ainda que já não seja iletrado. Aliás, a iliteracia permite perceber o sucesso das caricaturas: “As pessoas entendiam melhor a mensagem desenhada, já que havia muito analfabetismo. A imagem de um Zé Povinho a dar pontapés a um político, obrigando-o a sair da margem da página e a continuar a sair nas restantes páginas cria uma novela com o leitor. Apesar da mensagem ser facilmente perceptível, as caricaturas estão chegias de detalhes, que é preciso decifrar. Temos que estar atentos ao que desenham as sombras, por exemplo.”
Bordalo caricaturista e ceramista são as duas faces mais conhecidas do artista e preenchem a exposição permanente do museu. Pedro Bebiano Braga, em funções no museu desde Fevereiro quis mostrar uma nova dimensão de Bordalo, a de decorador de interiores, a descobrir na exposição temporária que o museu abriga até o dia 15 de Agosto: “Bordalo foi sempre recordado como exímio caricaturista, bem como pelas suas criações de cerâmica, mas as suas peças de mobiliário e o seu talento para a decoração estavam ainda por destacar. Trata-se de uma abordagem inédita.”
Nesta mostra temporária recorda-se que foi Bordalo que dirigiu a representação portuguesa na grande exposição universal de Paris de 1989. Podemos apreciar os cachos de uva de cerâmica que usou para decorar o espaço, onde havia um bar de provas de vinho português, conservas, artesanato… Pedro Bebiano Bordalo considera que “Bordalo teve a mestria de perceber que por cá havia valor e interessou-se pela cerâmica”, e lembra que “o nacionalismo estava em voga na altura”.
Bordalo teve também intervenções decorativas em espaços lisboetas como a famosa sala de jantar do Beau Séjour, actual gabinete de estudos olissiponenses, a Panificação Lisbonense, a tabacaria Mónaco, bem como um painel de azulejos que representa o ambiente tertuliano da cervejaria Leão de Ouro. Tudo isto é focado na exposição, onde estão várias peças de mobiliário, com aplicações de cerâmica, bem como peças de luminárias (candeiros e castiçais), molduras, caixas para relógios, cestos, etc.
Nascido numa família de artistas – o irmão Columbano era pintor, a irmã era bordadeira, fazia vitrais e empenhou-se no renascimento das rendas em Portugal - muitas vezes Bordalo trabalhava em equipa com os irmãos, cada um na sua arte.
Pedro Bebiano Braga está consciente de que sobre Bordalo ainda há muito o que explorar e pretende não só mostrar novas facetas do artista, como atraiar novos públicos: “As crianças e os séniores são os que mais visitam o museu. Temos oficinas para crianças, onde se trabalha cerâmica inspirada em Bordalo, muito frequentadas e com um enorme sucesso. A faixa etária entre os 17 e os 35 é a mais difícil de atrair, mas quando descobrem a obra de Bordalo ficam fascinados e divertem-se imenso. Também é importante dar a conhecer a dimensão internacional do trabalho de Bordalo, para atrair estrangeiros para o museu.”

Museu Bordalo Pinheiro
Campo Grande, 382 -1700-097 Lisboa
www.museubordalopinheiro.pt


lunes, 11 de marzo de 2013

Aos 104 anos!

Às vezes sentimos vergonha pelo que não se faz, pela falta de reconhecimento do país aos que elevam o seu nome. Como também acontece (muitas vezes) o contrário: "Momento marcante foi a sessão especial dedicada aos 70 anos de estreia do mítico “Aniki Bóbó” que serviu de pretexto para uma homenagem ao decano dos realizadores mundiais – Manoel de Oliveira – e da protagonista feminina, Fernanda Matos  (a Teresinha) . Na altura (no passado dia 6) Manoel de Oliveira confessou: “Esta noite, para mim, foi como um sonho. É pena ter chegado um bocado tarde. Isto nem em Cannes”. Uma apoteótica recepção de um público muito jovem e uma impressionante cobertura mediática foram o merecido e sentido reconhecimento de um génio, pela sua cidade natal."
Fico feliz de saber que assim foi e gostava de ter estado!

"Necesitamos tu manera de querer"

Me encanta!
Caso ganhe o concurso para realizar os Jogos Olímpicos de 2020, Madrid precisará de muitos voluntários. O apelo é delicioso: "Necesitamos tu manera de querer"!

E que bem que me parece para Espanha (e para Portugal, indirectamente) esta candidatura, economicamente e socialmente.
Há que pensar a médio prazo: o desânimo não veio para ficar.

jueves, 7 de marzo de 2013

Maria Pia recebe Joana Vasconcelos

E também me recebeu a mim e a outros jornalistas, para mostrar um pouco da que será a maior exposição de Joana Vasconcelos em Portugal (maior do que a do CCB há uns anos).
O oportuno convite foi do, na altura, secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas (que admirava antes, admirei durante e depois).
A inspiração foi a hiper bem-sucedida mostra de Joana em Versalhes.
A nossa Maria Antonieta é a rainha Maria Pia, que "empresta" o seu palácio da Ajuda para acolher as cerca de 40 peças de Joana. Muitas delas inéditas para os portugueses, como o lilicoptère, que ainda não estava montado, e várias outras inéditas de todo, já que foram feitas para esta mostra: é o caso das peças bordalianas, trajadas de renda açoriana.

O par Marilyn, uma das peças mais conhecidas.
A polémica "noiva", que Versalhes censurou, também integra a exposição, a última na direção (louvavelmentee mais aberta do que a de Versalhes) da vibrante e entusiasmante Isabel Godinho, que está de saída do palácio.



Mais do que "decorar o palácio", as peças dialogam com a decoração existente.
Há uns anos colocava-se em Lisboa, a dicussão sobre a pertinência estética de um elevador modernaço para escalar a colina do castelo de São Jorge. Desconhecia o projeto e não posso opinar sobre ele, mas parece-me bem o diálogo entre passado e presente. Preservá-lo é determinante, mas imaculá-lo poder ser sinónimo de afastá-lo. O palácio reviverá com esta "ajuda", certamente... 
Depois de Versalhes, esperam-se filas na bilheteira da Ajuda.
Eu voltarei para ver a exposição completa (a partir de 23 de março e até 25 de agosto)
e apreciar melhor o palácio, que desconhecia, na sua vertente mais intimista, apesar de ter estado na ala que recebeu uma interessantísssima exposição sobre a Rússia dos Czares (qualquer coisa assim).
De aplaudir também que o evento tenha zero custos para o Estado: a Everything is New (produtora do optimus Alive) assim o garante. Querendo ser um exemplo de produção privada neste tipo de iniciativas, é de lamentar, no entanto, a recusa em revelar os custos do mesmo.
Considero que seria mais inspirador tornar o processo mais transparente.


Fotos: minhas

martes, 5 de marzo de 2013

Thinking/sinking in the rain

É possível gostar de chuva
da que arrefece um dia quente
da que molha terra fértil,
libertando uma essência impossível de enfrascar

(pensava nisto, para me distrair do ar saturado, a bordo de um autocarro, num dia de chuva e pareceu-me que tão "eloquente" deriva não poderia ser exclusivo dos meus botões...)