miércoles, 5 de enero de 2011

Comércio tradicional

As antigas padarias, forradas de mármore verdadeiro, de bom gosto e higiénico, foram quase todas transformadas em meras revendedoras.
Era assim a da minha antiga rua, um luxo imediatamente à esquerda da porta do meu prédio, que permitia ir ao pão em pijama. Passei lá há pouco tempo e o bom gosto de outrora foi substituído pelas lastimáveis opções de um demasiado "criativo" empreendedor: o espaço passou a ser também café, o que me parece excelente, já que rende mais e mais horas por dia, mas o mármore cedeu lugar a azulejos que mesmo para quarto de banho já seriam feios e o balcão de madeira com tampo de mármore negro foi preterido a favor de uma horrenda arca congeladora balcão.
A da minha actual rua continua intacta, ainda que reduzida nas suas funções. A senhora do pão usa o grande salão vazio onde antes era feito o pão para esconder o aquecedor e o rádio com que se consola durante os muitos minutos de tédio.
Raramente a encontro ao balcão, mas aparece assim que entro. Diz que vê o reflexo no mármore. Hoje perguntei-lhe a que horas abria: "7h15, mas a essa hora quase não aparece ninguém. Também nesta rua quase já só há velhos e casas fechadas."
Entristeceu-me e decidi impingir-lhe aquilo em que acredito: "Olhe que já começam a restaurar muitos desses prédios e começam a vir para cá muitos jovens. Eu estou cá há quatro anos e noto que está a melhorar."
Na verdade está, mas tão, tão lentamente, que dá dó. Como também dá dó ver um espaço como aquela padaria tão vazio e desaproveitado. Poderia ser muito bem o café charmoso da rua! Mantendo o mármore no chão, nas paredes e no balcão.

E para aliviar, também hoje, no restaurante, daqueles criados para almoçar em pouco tempo e com pouco dinheiro e que exibem a ementa do dia na porta, escrita à mão e não raramente com erros ortográficos, num pedaço de papel igual ao que usam como toalha:

Chega uma senhora, na casa dos 50, sozinha, e pede uma mesa. O empregado aponta-lhe a que estava junto à janela e justifica: "As meninas bonitas ficam na montra!"
Conquistou-me!

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