Sou sonhadora e pragmática e as duas caraterísticas convivem pacificamente.
Tenho muito mais ideias (devia ser paga para isso) do que as que concretizo, pelo que o que poderia ser a minha maior virtude também pode muito bem ser o meu pior defeito. Mas eu gosto de ambiguidades.
Dá-me mais prazer imaginar a solução do que implementá-la, mas sou muito boa a encontrar alternativas. O “por outro lado” é a minha especialidade. A preguiça (tão subvalorizada) também.
Pouco me atrai na perfeição e menos ainda nos perfecionistas. Na maioria dos casos, empatam mais do que avançam. E avançar é preciso.
Sou desconfiada, mas não sou preconceituosa e atrai-me a diferença, de uma forma geral. E considero estas características fundamentais para ser feliz.
Fui uma criança tímida, mantenho-me assim, mas agora disfarço melhor.
Já saí na capa de um jornal galego, mas já não tenho provas disso! A minha mãe acabou por pô-lo no lixo, pensando que era mais um dos jornais atrasados que eu acumulava pelos cantos da casa!
A primeira vez que pisei um palco ainda não tinha 10 anos e regressei a ele várias vezes, sempre com uma mistura de nervos e prazer. A entrega (dos outros) em palco continua a comover-me.
Não é a tristeza que me faz chorar, é a generosidade. O que cada um dá de si é o que mais me comove, na arte e na vida.
Da primeira vez que pedi boleia, saiu-me um bondoso camionista: fiquei a saber que os camiões (alguns, pelos menos) têm banco traseiro (o banco cama) e experimentei-o!
Também já dormi de pé, acompanhada de pessoas e de animais! Os comboios gregos eram muito inclusivos no fim do século passado.
Já me apontaram uma caçadeira! Nunca desmontei uma tenda tão depressa! Moral da história: não fazer campismo clandestino e aprender a pedir desculpas em grego!
Falo cinco línguas, mas por azar nenhuma delas é o grego!
Nasci em Matosinhos, mas não me sinto muito chegada ao mar, a não ser à mesa…
Sinto agora mais saudades da paisagem serrana e do ar da Serra da Estrela de que desfrutei nos sete anos em que vivi na Covilhã, do que sentia nessa altura saudades do mar e da brisa marítima. Ver da serra nascer o sol na Cova da Beira, bate todos os pores-do-sol que eu já vi.
Na serra, o professor da única aula de esqui que tive, disse-me que sabia “cair muito bem”. É verdade: até ao momento, tenho lidado bem com as quedas.
Achava que tinha medo de alturas até que me vi desafiada a experimentar tirolesa, na mesma serra: incapaz de avançar, quando era exigida força de braços para galgar a linha ascendente (a última parte) da concavidade da corda, deixei-me estar ali pendurada a apreciar o vale entre os dois montes que a mesma unia. Soube-me bem!
Foi num outro vale da mesma serra que conheci O Tal. E ainda é o mesmo.
Sou mãe de uma menina. A Natureza, reiteradamente, demoveu-me de aumentar este número. Já percebi.
Gosto de dias de chuva e suporto muito melhor o “frio de rachar” do que o “calor abrasador”.
A minha bebida preferida é a água. Consumo vinho e café, regularmente, espumante bruto e cerveja, raramente. Não aprecio bebidas brancas nem licorosas (mas vou insistir com o Vinho do Porto!).
Gosto muito de cozinha portuguesa (e de todas as que provei), mas tenho dúvidas de que seja a melhor do mundo. (Voltarei a este tópico quando estiver reformada)
O sabor que menos me atrai é o doce. Prefiro o picante e o ácido. Não aprecio o sabor nem o cheiro da baunilha, do anis e da noz-moscada. Gosto muito de todas as outras especiarias que já experimentei.
Experimentar/conhecer é, aliás, o que mais gosto de fazer na vida, em quase todos os contextos. Tenho tempo a menos para o que quero experimentar e talvez por isso substitua facilmente um interesse por outro: já fiz ioga, ballet, folclore, danças medievais, danças ciganas, tango e sevilhanas; tive aulas de pintura; fiz um curso de fotografia; aprendi quatro idiomas que não o meu, mas só sou fluente em dois deles; recuperei móveis e coisas usadas (sou uma "respigadora", que vê uso em quase tudo); vendi coisas feitas por mim numa feira medieval (os meus clientes eram quase todos da família!); subi um rio a pé (e não estou a falar das margens); mergulhei no Atlântico de Inverno; subverti a ideia de montanhismo e fiz da serra um escorrega (involuntariamente); participei ativamente no associativismo (artístico, no caso)...
Também consigo ser constante: o Jornalismo tem sido a minha maior teimosia. Quis ser jornalista por gostar de escrever e querer conhecer outros lugares, outras coisas... Continuo a querer pelos mesmos motivos e mais um: conhecer as histórias que as pessoas têm para contar! E todas as pessoas têm boas histórias para contar!
Já fui professora e quero voltar a ser.
Sou
do FCP, por convicção ou qualquer coisa do género, mas antes fui do Sporting, à
força de suborno de um tio que me trouxe umas lindas botinhas de carneira da
África do Sul... Não me lembro exactamente do momento da mudança... O meu tio
não voltou a visitar-me e eu continuo a gostar de botas de carneira!
Gosto
de cabelos com ar de praia e de tranças meio desfeitas... Gosto tão pouco de
rastas quanto de penteados muito estruturados. Excepção: puchinho de bailarina,
mas ao ballet eu autorizo tudo.
Acho
que a maioria dos homens fica mal de gravata e bem de barba, o que me torna uma
potencial má nora da maioria das sogras, inclusive da minha.
Arrependo-me de quase nada, mas lamento não ter partido à descoberta do
mundo, trabalhando onde calhasse para pagar a expedição, quando
terminei o meu curso... Nada está perdido: transferi o objetivo para o período de
reforma e dei à expressão Segurança Social um significado mais inspirador.
Se
só pudesse levar uma coisa para uma ilha deserta, seria um queijo! (Mas talvez
um barco a motor fosse mais útil)
*O título é inspirado no Joyce e a escala no Manoel de Oliveira!