miércoles, 8 de junio de 2011

Centenários

Há uns tempos, fiz de cicerone de uns amigos alemães de passagem por Lisboa: levei-os a pé pelo meu vizinho bairro do Intendente, passei no largo, onde babaram com os azulejos do prédio da Viúva Lamego, com os detalhes caprichados na pedra a debruar portas e janelas e com os desenhos do ferro de algumas varandas... E na verdade tudo aquilo é lindo... Porém, sujo e degradado, muitas vezes abandonado... Mas eles acham muito charmoso o ar dantesco da cidade à noite, as ruínas, apreciavam mesmo o facto de a cidade não estar lá muito organizada e cuidada, sentiam uma certa "alma" naquilo tudo! Na semana passada, na aula de alemão, a coisa repetiu-se... Tínhamos que acabar a frase "Lisboa é uma cidade encantadora, apesar de..." e eu conclui: "apesar de estar muito degradada!"
A coisa passou a tema de conversa e uma vez mais escutei a minha professora alemã, a elogiar o ar antigo e negligenciado da cidade!
Acho que os entendo, ou que entendo o que querem dizer! Quando olho para a Ribeira do Porto, vista de Gaia, tudo aquilo me parece um cenário de encantar, assim, à distância que o Douro, no meio, nos permite, filtrando o que se vê quando nos aproximamos de muitos dos edifícios que constroem aquela cascata, o que se cheira (e, no caso da Ribeira, a coisa melhorou bastante nos últimos tempos).

Em Lisboa, alguém se lembrou de chamar a atenção para o prédios centenários, potencialmente majestosos, abandonados, através de grafites!

Quase nunca considero os grafites que por aí andam arte, mas no caso, aplaudo! Mantêm o desejável sentido do efémero (se desaparecerem é porque o prédio será recuperado!) e sinalizam o que de outra forma parece passar completamente despercebido à maioria dos lisboetas!



Aqui, na minha rotunda preferida de Lisboa, Neptuno volta as costas à demolição de um prédio que durante meses namorei, com o sonho de o reabilitar! No dia da demolição, escutei na TSF, que por lá habitou Pessoa! Não apenas por isso, mas pela beleza da fachada arredondada, pelo menos ela merecia ter sido preservada! Agora está a nu um mosaico em tons pastel... E até lhe acho graça e especulo sobre qual seria a cor que conhecera Pessoa, se é que é do seu tempo a pintura que agora vemos... A mesma graça que acharão os alemães à Lisboa enrugada, envelhecida...

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