lunes, 29 de noviembre de 2010

Frio, porque há muito que lhes falha o calor


Mantinhas azuis e escuras à nossa espera. Isso e um tecto trabalhado e mal caiado para nos fazer pensar sobre as ruínas que autorizamos na cidade que é património da UNESCO. Autorizamos ruínas de um património de que nos deveríamos orgulhar por todo o país. Mas essa nem sequer é a nossa maior ruína…
Um plástico transparente entre eles e nós e depois cai o pano. Não costuma cair o pano antes de começar, mas aqui é assim que começa.
Um pano branco, com ares de tela de cinema, que vai ficar lá até ao fim, para nos filtrar a realidade. Estamos já habituados a filtrá-la, a impor-lhe uma distância, pelo que não estranhamos assim tanto vê-los a eles do outro lado.
E estava frio, muito. O termómetro do carro haveria de marcar zero graus duas horas depois.
Para eles, o frio é cenário e estado de espírito. Tapam-no com sobrepostas peças de roupa, tampam-no com o álcool, o mesmo que esconde o que lhes sobra ainda de vontade, o mesmo que lhes acrescenta resignação.
As quatro histórias que o Glowacki cruza colocam-nos como espectadores desse estado terminal da dignidade, da nossa e da deles. E espectadores é o que optamos por ser quase sempre, só que o Glowacki e a bruxa Teatro obrigam-nos a ter consciência de que é só isso que fazemos.

2 comentarios:

Anónimo dijo...

Fiquei impressionado com o seu testemunho.
Belo texto!
Obrigado.
figueira cid

Suoutubro dijo...

Também fiquei bem impressionada com o Vosso trabalho :)
Obrigada