Demorei tempo a perceber, mais até do que a aceitar, que não se pode viver intensamente sempre. Aborreciam-me os intervalos, até aprender a apreciá-los. Sei que serei para sempre hedonista e que isso nem sequer é uma opção, mas tive a sorte (não se trata de talento) de saber procurar sempre novos prazeres, mesmo que seja em coisas que são de sempre.Não gostaria de escrever sobre economia se me resignasse com o desalento de não poder escrever sempre sobre cultura. E essa foi a grande lição (há sempre uma que é maior que todas as outras) que já aprendi: não desistir nunca de descobrir prazeres, novos, renovados...
E não se pode viver sempre intensamente porque "de tanto bater o coração pára", tem que parar!
O "Black swan" recambiou-me para o processo que me permitiu ir entendendo que não duram mais que minutos aqueles momentos em que o coração dispara, e que há que apaziaguá-lo também.
Não que o filme trate realmente disso, mas desistir da dança foi a minha primeira ferida, a primeira derrota que enfrentei, a primeira vez que percebi que acreditar na reencarnação me daria muito jeito, porque nesta vida eu já tinha um sonho a que dizer adeus. E dizer adeus a um sonho é o contrário de viver intensamente.
O filme roda precisamente sobre o duro que é viver o sonho. Aceitar o desafio de o concretizar é na realidade bem mais difícil do que ter que prescindir dele, porque é mais fácil o prazer dos intervalos ainda que menos intenso.
E na verdade, este filme do Darren Aronofsky poderia chamar-se outra vez "Requiem for a dream". E foi do trabalho do realizador e do argumento que eu mais gostei.
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